O conteúdo desse portal pode ser acessível em Libras usando o VLibras

Notícia Aberta

Aplicações Aninhadas

Publicador de Conteúdos e Mídias

Joana Félix: educação e pesquisa no enfrentamento do preconceito

EVENTOS Data de Publicação: 19 set 2018 15:46 Data de Atualização: 22 mai 2019 10:50

Doutora em Química com pós-doutorado na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, dona de uma carreira acadêmica impecável desde que entrou no curso de graduação em Química aos 14 anos, na Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Ninguém imaginaria que a professora Joana D'Arc Félix de Souza encontraria sua realização como pesquisadora na sua cidade natal, Franca, no interior de São Paulo, dando aulas na escola pública.

A professora e pesquisadora foi uma das principais palestrantes desta quarta-feira (19) na programação do 7º Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepei 2018), que acontece até esta quinta (20) no Câmpus Florianópolis-Continente do IFSC. Em sua fala sobre o tema "Educar com Ciência", Joana falou sobre a infância pobre na cidade do interior paulista, a dedicação aos estudos sempre com o apoio dos pais e as dificuldades que enfrentou ao perseguir a carreira acadêmica na condição de mulher e negra. Ressaltou que a superação de todos esses desafios sempre foram o combustível para que não desistisse de perseguir seus sonhos, mesmo quando aparentemente a vida a levava para lugares que ela não planejava ir.

No auge de sua trajetória em ascensão, no final da década de 1990, questões familiares fizeram com que ela abandonasse a ideia de morar nos Estados Unidos - tinha convite para trabalhar naquele país - e voltasse a morar em Franca. Passou no concurso público para docente da Escola Técnica Professor Carmelino Corrêa Júnior, vinculada ao governo do Estado de São Paulo, onde começou a atuar em 1999 no curso técnico de Curtimento, voltado à área de beneficiamento de peles e couros.

Na instituição, deparou-se com problemas como a desmotivação dos alunos, alto índice de evasão e grande número de estudantes envolvidos com tráfico de drogas ou prostituição. Sua reação inicial foi um misto de choque e soberba: telefonou para seu orientador de Harvard "fazendo papel de coitadinha", segundo conta. Para ela, sua formação e experiência seriam "demais" para o trabalho na escola onde tinha começado a atuar. "Chorei uns 15 minutos no telefone e levei o maior chacoalhão da minha vida. Ele me disse: Joana, trabalhe. Mude a realidade do lugar onde você está. Comece a mudar a realidade do seu país mudando a realidade da sua escola. Faça pesquisa na sua escola como se você estivesse nos Estados Unidos".



Novo olhar

Joana passou a pensar novas formas de lecionar, tornando as aulas de química mais interessantes e procurando desenvolver o espírito investigativo nos alunos, além de desenvolver projetos de pesquisa como estratégias de ensino-aprendizagem. Em 2004, obteve sete bolsas da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e resolveu dar a elas um destino inusitado: em vez de escolher como bolsistas os alunos com melhor desempenho, selecionou três meninas que, sabidamente, eram garotas de programa e quatro meninos que atuavam no tráfico de drogas. Apesar da resistência enfrentada na própria instituição no início, Joana afirma que a experiência foi transformadora.

Os projetos de pesquisa orientados por Joana na escola Carmelino Corrêa Júnior envolvem, em grande parte, o reaproveitamento, reciclagem e destinação correta dos resíduos da indústria de couro, com o desenvolvimento de adubos, extração dos corantes e do óleo para biodiesel, geração de energia, redução da toxicidade dos efluentes dos curtumes, criação de uniformes de couro mais seguros para bombeiros e de calçados antimicrobianos, entre outros. Um projeto de ponta é o de desenvolvimento de pele humana para transplantes e testes farmacológicos a partir da pele suína.

Joana Félix já recebeu, com sua atuação como pesquisadora e docente, 82 prêmios nacionais e internacionais, e os projetos desenvolvidos sob sua supervisão já foram patenteados em 30 países. Mas ela salienta que a maior recompensa que já recebeu foi a gratidão dos pais que a procuraram para contar que seus filhos saíram da prostituição e do tráfico de drogas depois da experiência de iniciação científica oportunizada por Joana. "A educação é a arma mais poderosa para vencer os obstáculos da vida", constata a pesquisadora.

Atualização em 22 de maio de 2019: veículos de comunicação nacionais informaram recentemente que a pesquisadora Joana Félix divulgou dados inverídicos em seu curriculo Lattes e em palestras, como a que foi realizada no Sepei 2018 e deu origem ao presente texto. O IFSC manifesta sua surpresa perante essas revelações e lamenta a repercussão negativa do caso.

EVENTOS NEWS

Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Leia Mais.