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“Foi bom saber como os franceses trabalham, mas temos que nos valorizar no Brasil”

ENSINO Data de Publicação: 31 jan 2019 11:28 Data de Atualização: 04 abr 2019 17:37

“Não tem quase ninguém na estação, está tudo fechado e estou aqui sozinho. Meu Deus, cuida de mim agora”, pediu o estudante de Hotelaria do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Ralfran Marques, na noite em que se perdeu em uma estação de trem da França, durante o intercâmbio. O trem que o levaria de volta ao hotel na cidade de Châtelaillon onde fazia estágio só saia às cinco da manhã e era ele o encarregado de organizar o café para os hóspedes. Foi nessa noite que se encontrou com anjos. Pelo menos é o que diz. 

“De repente apareceu uma mulher que falou comigo em francês, respondi que não falava muito bem e ela disse ‘je parle espagnol’. Ela tinha sido professora de espanhol na Alemanha. Eram nove da noite e ela ficou comigo até às cinco da manhã. Não sei. Deus mandou aquela mulher. Passamos frio juntos, pulávamos para nos esquentar, dançamos. Não lembro o nome dela. Era um anjo. Cheguei a tempo no hotel, montei o café e deu tudo certo.”

Essa foi uma das histórias que Ralfran viveu entre setembro e novembro de 2018, quando trabalhou no Clarion Collection Les Flots em Châtelaillon Plage, com quem o IFSC tem convênio. Em outro dia qualquer, um hóspede francês perguntou sobre ele para a recepcionista, que explicou que Ralfran era um estudante do Brasil fazendo estágio. “Ele perguntou se eu sabia sambar e pediu para que eu sambasse no meio do salão. Eu disse, sorrindo, que não, porque estava trabalhando. Eles lembram do Brasil pelo samba, falam do Neymar”. Para estes franceses, era o futebol, o samba e o carnaval, mas para Ralfran o que mais o fazia lembrar do país natal era a comida. Quis comer arroz, feijão e farofa, qualquer coisa com um tempero brasileiro. Conta que não se adaptou à comida e deixou dez quilos na França. 

A vontade de ter no currículo uma experiência internacional, que diz ser valorizada por empresas brasileiras, e de conhecer um “país renomado no setor de hotelaria e gastronomia”, o fez se inscrever para tentar a vaga de estágio curricular final. Para a prova, se preparou durante dois meses e fez aula de francês no IFSC. Uma semana antes do teste ficou acordado para estudar. “Foram madrugadas raladas com foco nas questões de hotelaria. E, para a minha sorte, no teste oral as perguntas foram principalmente sobre minha área. Esse esforço que fiz valeu a pena, me garantiu o primeiro lugar e a ajuda de custo”, relembra. 

Maravilhosa. Muito organizada. O transporte funciona e é tudo muito limpo. Encantadora. Magnífica. Châtelaillon é magnífica, Ralfran se declara para a cidade com o adjetivo que repetiria dezenas de vezes para descrever as experiências do intercâmbio. Conta que o local onde morou é um bairro tranquilo, com idosos simpáticos que sorriem para quem passa, nada parecidos com os “franceses mais fechados de Paris e de outras cidades maiores”. No Clarion, trabalhou nos setores de governança e de alimentação, em dois turnos. No tempo livre, quem quisesse chutar por onde Ralfran estaria, mais chance de acerto teriam os que apostassem que estaria com Marcela Rocha, aluna do curso de Gastronomia. Os dois se viam pelos corredores do IFSC, mas só se conheceram melhor durante a seletiva para o estágio. Ficaram em quartos próximos no hotel e tinham folgas nos mesmos dias. “A gente era um porto-seguro um do outro e andava sempre junto, conversando sobre o local, a comida, as pessoas”. Viraram amigos. Passeavam pela cidade, riam, assistiam à televisão, ouviam música e dançavam. Funk, samba, pagode, música evangélica. Qualquer coisa em português. Continuam amigos. 

Ralfran Marques é um paraense de Marabá que veio para Florianópolis passear há cinco anos e por aqui ficou. Conseguiu um emprego de hotelaria na cidade e decidiu que queria estudar a área onde já trabalhava há sete anos. No ano seguinte, foi aprovado no IFSC. Apesar de sempre ter trabalhado com hotelaria, no Pará, o curso só era oferecido em Belém e Ralfran não tinha condições de ir para a Capital, além de ser difícil de entrar.

Faltando somente fazer o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Ralfran quer trabalhar com consultoria e treinamento. Seu TCC aborda a profissão de concierge nos hotéis de Florianópolis, um funcionário responsável por atender as necessidades dos hóspedes. Por enquanto, pensa em ganhar experiência em algum hotel ou resort no Brasil. Ou ir para a Espanha. Ou Portugal. Ou qualquer lugar da Europa. Só sabe que quer ir. E dá seu recado: “Foi muito bom vivenciar outra cultura e saber como os franceses trabalham. Quem puder fazer intercâmbio, faça. Para ter uma visão de mundo diferente e conhecer outra realidade. Aprendi que a gente tem que se valorizar como povo, a gente é muito mais limpo e higiênico. Recebi elogios por causa da minha higiene, da minha vestimenta e também do meu comportamento. Aqui no Brasil estamos de parabéns com o atendimento, o serviço, o afeto com os outros”. Chegou em casa, comeu arroz, feijão e farofa. E sorriu para todo mundo na rua. Sentia falta de sorrir para todo mundo na rua. Então, sorriu. Enfim, no Brasil. 

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