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Cursos de Moda debatem indústria e consumo consciente

CÂMPUS ARARANGUÁ Data de Publicação: 26 abr 2017 21:00 Data de Atualização: 06 fev 2018 15:28


A cultura do consumismo e do desperdício é o tema do documentário Unravel, produção de 2012 da atriz e diretora Meghna Gupta. O filme mostra a realidade das mulheres indianas que atuam na indústria de reciclagem de roupas descartadas pelo mundo ocidental e sobre a relação que elas mantêm com uma realidade que não lhes pertence.

Mais do que falar das mulheres indianas, o documentário é um “tapa na cara” de nós, consumidores do ocidente, como definiu a professora Anamélia Valentim: “Elas estão falando sobre a realidade delas, sobre a vida delas, mas na verdade o documentário fala muito mais sobre a nossa realidade, sobre o nosso consumo”. A indústria da moda e suas relações com as questões de gênero foram o tema do debate realizado na noite desta quarta-feira (26) no auditório do Câmpus Araranguá do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em alusão ao “Fashion Revolution Day”.

Vídeo: assista à palestra na íntegra

O Fashion Revolution Day é celebrado em mais de 90 países, com ações e debates sobre a necessidade de mudanças na produção e no consumo de vestuário. O desabamento de um edifício em Blangadesh, no dia 24 de abril 2013, matando mais de 1,1 mil pessoas, muitas delas operárias de fábricas de vestuário, motivou a criação de uma campanha mundial de conscientização sobre os impactos da indústria da moda. Pelo segundo ano, o curso de Tecnologia em Design de Moda do IFSC Câmpus Araranguá promoveu uma programação especial para envolver alunos e comunidade nesta discussão.

“Compramos a ideia de que precisamos consumir para ter sucesso, sem nos darmos conta do impacto que estamos causando. Enquanto consumidores e profissionais da Moda, temos muita responsabilidade. Por isso é importante uma instituição como o IFSC promover este tipo de discussão”, disse a professora Aline Hilsendeger a uma plateia de estudantes dos cursos técnicos e de graduação ligados à indústria da Moda no Câmpus Araranguá.

O debate girou em torno dos impactos causados pelo consumo que não leva em conta as condições de produção das roupas que usamos. A pergunta “quem fez minha roupa?”, inclusive, foi a chave para a publicação de fotos dos participantes nas redes sociais, questionando as fabricantes sobre a origem das roupas.

Para o professor Juliano Felizardo, uma das razões para o problema está na percepção equivocada que temos sobre o que é bom e o que é ruim. “Pensamos o outro como bom e nós como subalternos. Compramos muitos produtos de fora e esquecemos da produção local. Às vezes deixamos de fazer um produto interessante regionalmente, porque achamos que não haverá público e o que é de fora é melhor”, afirmou.

O consumo alienado da moda, muitas vezes em busca de peças mais baratas, tem mais impactos do que imaginamos. Trabalhadores muitas vezes são encontrados em condições análogas à escravidão. E quem sofre com isso, na maioria dos casos, são as mulheres, que formam o maior contingente de mão-de-obra na indústria. Por isso a importância de relacionar a discussão com as questões de gênero, como destacou a convidada Zaira da Silva Conceição.

“Este tipo de moda não é acessível nem para quem produz nem para quem usa. É um ciclo muito pouco acessível. Precisamos ter consciência de onde vem e para onde vai o que consumimos, valorizar a produção local e não estimular este tipo de produção”, destacou.


Zaira é graduanda em Psicologia na Unesc, conselheira titular em gênero do Conselho Estadual da Juventude (Conjuve -SC) e integrante da Coordenação Social da ONG de Mulheres Negras Professora Maura Martins Vicencia (MUNMVI), além de pesquisadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos e Cidadania da Unesc (Nupec). No debate, ela representou o coletivo Casa da Mãe Joanna, e lembrou como as más condições de trabalho afetam, sobretudo, as mulheres negras. “A mulher negra sofre com o machismo, como todas as mulheres, e sofre também o racismo”, disse.

Uma das alternativas apontadas pelos debatedores foi a retomada de uma relação afetiva com as roupas, com mais cuidado em relação à origem de uma peça e menos desperdícios. O consumo consciente tem como consequência o próprio estímulo à produção local, sobre a qual o consumidor tem mais controle quanto às condições de produção da roupa que está usando. O trabalho de designers independentes e de pequenas indústrias também deve ser valorizado. “É possível haver uma harmonia entre uma indústria de grande escala, que já existe e continuará existindo, e a alternativa representada pela produção local de pequena escala, que já vem obtendo resultados”, disse o professor Juliano.

Por Daniel Cassol | Jornalismo IFSC

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