O conteúdo desse portal pode ser acessível em Libras usando o VLibras

Notícia Aberta

Aplicações Aninhadas

Publicador de Conteúdos e Mídias

Sorriso motiva vigilante a estudar no IFSC

CÂMPUS FLORIANÓPOLIS Data de Publicação: 20 jul 2017 21:00 Data de Atualização: 06 fev 2018 15:32


Sorrir é algo que se aprende ainda bebê. Os primeiros sorrisos são por reflexo, mas logo aprendemos o significado. E passamos o resto da vida sorrindo, às vezes mais, às vezes menos. Delmar Machado de Oliveira Júnior, de 46 anos, vigilante num hospital da Capital, também sorria muito. Mas, ele foi aprendendo a sorrir cada vez menos. Cheio de planos e de conversa fácil, foi a vida difícil que o fez vir para o Câmpus Florianópolis, atrás do sorriso perdido.

“Eu ouvi de um colega de trabalho que o IFSC tinha dentista para alunos. Eu nunca tive condições de tratar meus dentes. E isso estava interferindo muito na vida social e também na profissional. Se eu pudesse evitar, eu não falava. Às vezes tinha que participar de um seminário no trabalho, e ia mal na apresentação por tentar falar pouco. Foto sorrindo nem pensar, e quando eu via uma foto de outras pessoas sorrindo eu pensava: quando eu vou ter uma foto assim?”, lembra Delmar.

“O Delmar nos procurou, queixando-se de múltiplos problemas odontológicos. Ao exame clínico, constatamos inúmeras leões de cárie dental, fraturas dentais, processo inflamatório gengival generalizado, presença de grande quantidade de tártaro, ausência de elementos dentais, presença de raízes dentais remanescentes e severa halitose. Na conversa que tivemos com o paciente, descobrimos - segundo relato seu-, que a motivação de sua entrada no IFSC foi a possibilidade de submeter-se a tratamento odontológico gratuito, por ser inacessível a ele, do ponto de vista financeiro, o custeio destes procedimentos em consultório particular”, explica o odontologista do Câmpus, Rogério Góes.


“Estabelecemos um plano de tratamento, dentro de uma lógica de resolução dos problemas mais urgentes deste paciente, finalizando com os aspectos estéticos que o caso exigia. Ao longo das consultas aqui oferecidas, foi possível chegar à completa remissão dos sinais de inflamação gengival, através dos procedimentos de profilaxia dental. Os dentes cariados foram devidamente restaurados, efetuamos a remoção dos remanescentes dentais que já não ofereciam condições de manutenção em boca e, ao final, realizamos a confecção de dente provisório, uma vez que este paciente será submetido a colocação de implante na região afetada, procedimento a ser realizado na clínica odontológica da Universidade Federal de Santa Catarina”, explica o profissional.

De morador de rua a estudante do IFSC

A trajetória para chegar no curso técnico subsequente em Edificações no Câmpus Florianópolis foi longa. “Sou do Rio Grande do Sul. Com 12 anos eu morei na rua, por questões familiares. Mas eu tive sorte. Um dia quando eu estava embaixo de uma marquise, uma família me chamou para morar com eles numa comunidade. Eu fui, e um dia apareceu um rapaz ofendendo a família e eu os defendi. Mas aquele rapaz era filho do dono do morro, e eles me pediram para ir embora, pois se eu ficasse ali eu iria morrer. Voltei para a rua, mas depois também tive uma senhora que muito me ajudou e me tratava com um filho, fazia as refeições com ela, foi uma mãe para mim.”

Mas, nesse meio tempo, a escola foi ficando para trás: por falta de dinheiro, apesar das notas boas, aos 15 anos ele parou de estudar, pois não tinha nem como ir para a escola. Tentou voltar aos 17 anos e acabou parando de novo. Aos 37 anos, ele fez o EJA (programa de Educação de Jovens e Adultos), completou o Ensino Fundamental e fez o Médio. Após tanto tempo sem estudar, ele fez o Enem e comemorou por não ter zerado a redação. “Eu já tinha desistido, achava que estudar não valia a pena. Mas, depois que comecei, não quis mais parar. E vejo como exemplo para os meus filhos”, relembra. “A vida sem estudo é muito difícil. Eu me sentia meio analfabeto. Comprei um telefone celular e não sabia nem atender. Antes, eu ia escrever e pedia ajuda das crianças. Mas depois de terminar o EJA, fiz também o curso de qualificação de mecânica no Senai. Na igreja, fiz um curso básico em Teologia e quero também o fazer o curso de bacharel em Teologia.”

O curso técnico em Edificações também tem proporcionado oportunidades. Delmar já havia trabalhado com construção civil e agora pretende montar uma firma com uma colega, unindo o conhecimento prático como a teoria que está aprendendo no IFSC. “Não tem sido fácil. Eu trabalho, e sei que sou um dos alunos que mais estuda. No final de semana eu estudo, acordo às 5h e estudo, quando chego à noite eu estudo. Hoje, se tem algo que eu insisto para os meus filhos é que eles estudem. Só quem morou na rua sabe o valor disso”, conta Delmar.

Nesse meio tempo, o tratamento odontológico também afetou o desempenho acadêmico. “Notamos, ao final do tratamento, nítida elevação da autoestima do estudante. Acreditamos ter produzido, por força dos procedimentos realizados, impacto positivo nas atividades diárias do paciente. A satisfação mostrada por ele, ao término do trabalho, nos mostrou a importância do papel social que nossas ações profissionais adquirem, em situações desta natureza”, diz Góes.

Mas, para Delmar, não é apenas o profissional que sai ganhando. “Eu aconselho muito os alunos mais novos. Sempre conto a minha história para outras pessoas, para que voltem a estudar. Eu digo: se eu consegui, tu vais chegar lá. Mas tem que se dedicar, né? No primeiro dia, eu pensei em ir embora. Eu me sentei no canto e fiquei com vergonha de conversar, daí comecei a copiar e vi que até conseguia acompanhar. Os professores têm me ajudado sempre e sempre me incentivam a continuar. E eu também quero ajudar os outros. Isso é importante para mim, não é só trabalhar para ganhar dinheiro. Pedi ao professor ajuda para encontrar projetos sociais, para ajudar a quem quer construir ou reformar sua casa e não consegue. Já me ofereci para trabalhos sociais. Sempre tive alguém que me ajudou. Eu tive as oportunidades, e eu vou tentar mudar a vida de outras pessoas também”.

E o dentista Rogério Góes também se sentiu realizado pessoal e profissionalmente. “Por maiores que sejam os desafios que a prática diária nos impõe, além da grande responsabilidade que nos cabe, a reinserção das pessoas no convívio saudável com as que as cercam, nos faz recompensados ao final. A percepção do grau de impacto que a Odontologia é capaz de produzir em cada pessoa, deve servir como balizadora de nossas ações profissionais. Julgamos importante reforçar que, em todos os procedimentos realizados neste caso, utilizamos materiais e equipamentos disponíveis no consultório odontológico de nossa instituição. A colaboração do paciente foi de suma importância para que se atingisse resultado tão satisfatório”, finaliza Góes.

O tratamento odontológico oferecido pelo Câmpus Florianópolis atende a alunos regularmente matriculados e servidores, para atendimento geral e emergências.

Por Sabrina d'Aquino / Assessoria de Comunicação e Marketing

CÂMPUS FLORIANÓPOLIS

Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Leia Mais.