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IFSC inicia curso para empoderar todas as mulheres

CÂMPUS TUBARÃO Data de Publicação: 03 ago 2017 21:00 Data de Atualização: 06 fev 2018 15:33

Em uma grande roda, cerca de 40 mulheres começaram a se apresentar umas às outras. Era a primeira atividade de um curso de educação e gênero no Câmpus Tubarão do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Alunas que já haviam participado de cursos anteriores no IFSC relatavam a superação de problemas de autoestima e até mesmo de depressão. As novatas demonstravam grande expectativa de encontrar apoio naquele grupo, buscar novos conhecimentos, aprender, ensinar e fortalecer amizades.

Em um quadro, as mulheres escreveram suas expectativas para o curso: amor, amizade, conhecimento, união. Não parar no primeiro obstáculo. Acima de tudo, respeito. Afinal de contas, não se trata de um curso qualquer.

O projeto “TRANSformando vidas de sujeitos do gênero feminino em situação de vulnerabilidade social: somos todas Mulheres Sim”, ação de extensão do IFSC que faz parte do programa Mulheres Sim, abriu as portas da instituição a todas aquelas que se definem como mulheres. São mulheres em situação de vulnerabilidade social que terão aulas sobre saúde, cidadania, gênero e geração de renda, além de oficinas de maquiagem, bijuteria, artesanato, entre outras atividades.

“Nossa proposta é inclusiva. Buscamos atender as pessoas que se definem como mulheres. O IFSC é uma instituição para todos. Não queremos terminar aqui”, destacou a coordenadora do projeto, Rosiana Taís Andreolla.

 

Todas mulheres

Inscreveram-se no curso 40 mulheres. Sete delas são transgênero e chegaram ao IFSC, na maioria dos casos, por indicação da professora Gabriela Silva, também trans, que atua na rede estadual e dará aulas de português no Mulheres Sim.

Valdety Garcia tem 25 anos, é uma mulher transgênero e se matriculou no Mulheres Sim por indicação de Gabriela. Desempregada, ela trancou a faculdade de Geografia e está em busca de alternativas. “Vim aprender”, resume Valdety, que diz nunca ter tido problemas para estudar e trabalhar em função de sua identidade de gênero. “Nunca tive problemas. Já dei aula no Estado, sempre trabalhei”, afirma.

 

Não é o mesmo relato de Pethyne Lystenrockbacks, 22 anos. Como o nome sugere, Pethyne é uma artista: canta, tem um canal no YouTube e ainda milita na causa LGBT. Para ela, conseguir emprego é uma dificuldade para as mulheres trans. “Na entrevista tudo vai bem. Mas, quando mostramos a carteira de identidade, vem o preconceito”, conta Pethyne, que está obtendo a identidade social. Para ela, lugar de mulher é onde ela quiser. Seja ela cis ou trans.

“As trans devem fazer o que quiserem. Tem quem trabalhe na rua, mas se a gente sai para conseguir um emprego é porque a gente quer trabalhar. Aqui no Mulheres Sim todo mundo é mulher. Sou trans, sou militante, mas aqui dentro somos uma só”, diz.

A aluna Nair Eufrásio, 67 anos, foi quem escreveu “respeito” no quadro que acompanhará as mulheres ao longo do curso. Negra, ela pediu a palavra para parabenizar a proposta de inclusão do curso e afirmar a importância do respeito entre todas. “O preconceito é muito grande com as meninas. Ando por aí e vejo muito. Por isso é importante abrir [o IFSC], trazer também o negro. Por isso que escrevi ‘respeito’ no quadro”, afirma.

 
Transformação

A aula inaugural, realizada nesta quinta-feira (3), contou com a presença da pró-reitora de Extensão e Relações externas do IFSC, Maria Cláudia de Almeida Castro, da delegada regional da Polícia Civil, Vivian Garcia Selig e da artista plástica Raissa Bússolo Capeler, que será professora do curso. Mais do que a abertura oficial do curso, o momento foi marcado pelo otimismo e pela expectativa de uma formação transformadora para a vida das alunas.

 

“Com este curso, as mulheres poderão ter outra visão, outra perspectiva para suas vidas. É para isso que o IFSC existe”, disse a diretora-geral do IFSC Câmpus Tubarão, Consuelo Sielski. Para Maria Cláudia, a experiência mostra que o Mulheres Sim tem a capacidade de provocar grandes transformações na vida das mulheres, o que pode ser verificado nas formaturas. “É muito bonito quando reencontramos as alunas do Mulheres Sim ao final do curso. É possível ver que, com tão pouco, o IFSC consegue fazer a diferença em suas vidas”, afirmou a pró-reitora.

Até novembro, a turma terá duas aulas por semana. O curso tem 80 horas de atividades, sendo que 16 horas são de palestras sobre temas variados. O restante será de muita atividade prática, em que as alunas desenvolverão produtos que serão expostos em uma feira de economia solidária. Para muitas, além da alternativa de geração de renda, o curso vai proporcionar uma mudança mais íntima, que tem a ver com autoestima e empoderamento.

Caso da assistente social Célia Siqueira, de 62 anos, que há seis veio de São Paulo para Tubarão e está desempregada. Ela já participou de uma edição do Mulheres Sim no IFSC e deu seu relato sobre a importância da participação no curso para sua própria saúde. “O curso foi maravilhoso e minha expectativa que este seja tão bom quanto o anterior”, disse ela.

Uma síntese do primeiro dia Mulheres Sim do IFSC Câmpus Tubarão ficou por conta da música “Triste, Louca ou Má”, da banda Francisco, El Hombre, que embalou a atividade em que as mulheres escreveram na tela as expectativas em relação ao curso.

 

“E um homem não me define

Minha casa não me define

Minha carne não me define

Eu sou meu próprio lar”


Por Daniel Cassol | Jornalista IFSC

CÂMPUS TUBARÃO

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