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Escolas bilíngues Libras/Português: veja na prática como funciona

CÂMPUS PALHOÇA BILÍNGUE Data de Publicação: 08 nov 2017 22:00 Data de Atualização: 06 fev 2018 15:37


A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicada no último domingo (5), trouxe como tema os "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil". Atento a esses desafios há alguns anos, o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) foi o primeiro Instituto Federal a inaugurar um câmpus bilíngue Libras/Português. Há quatro anos, o Câmpus Palhoça Bilíngue funciona em uma sede própria, atendendo atualmente 74 alunos surdos, de um total de 795, inseridos em cursos de qualificação profissional, técnicos profissionalizantes, graduação e pós-graduação, os quais contam com uma equipe de servidores que incluem surdos e ouvintes.


Mesmo trabalhando na área como professora de Português como segunda língua para os surdos, a docente do Câmpus Palhoça Bilíngue, Bruna Crescêncio Neves, ficou surpresa com a escolha do tema da redação do Enem. “Para nós foi uma surpresa, mas acreditamos que o tema tenha vindo em um ano marcante para a comunidade surda, já que foi a primeira vez que o Enem fez uma prova toda traduzida em Libras, que era uma luta há bastante tempo”, relata.


A professora avalia como positiva a temática escolhida, bem como a discussão que tem gerado. “Ao escolher esse tema para a redação, o Enem trouxe um novo olhar para a comunidade surda, que é a proposta que já temos no nosso câmpus. As críticas existem até pela falta de conhecimento das pessoas”, explica.


O IFSC traz ao cenário brasileiro uma política de ensino, pesquisa e extensão que busca viabilizar uma efetiva interação entre surdos e ouvintes no campo educacional e profissional. A prática das aulas leva em conta as especificidades dos alunos - por isso, são oferecidas turmas somente de surdos, turmas mistas com surdos e ouvintes e turmas só de ouvintes.


“A proposta do Câmpus Palhoça Bilíngue vai além de propiciar uma formação às pessoas surdas, mas sim formar sujeitos cientes das especificidades dos surdos”, destaca Bruna. Para a professora, os alunos ouvintes do câmpus já vivem essa realidade diariamente, aprendendo a se comunicar por meio de Libras e também convivendo com alunos surdos.


A proposta pedagógica do Câmpus Palhoça Bilíngue do IFSC privilegia a Educação Bilíngue (Libras | Português) desde a escolha dos cursos aos temas de pesquisas que são priorizados. Isso porque o processo de ensino e aprendizagem, o desenvolvimento de materiais didáticos, bem como as metodologias utilizadas em sala de aula consideram as especificidades da educação de surdos, que tem a Libras como sua primeira língua - muito embora não sejam raros os casos de alunos que chegam ao Instituto sem o domínio da língua de sinais e da língua portuguesa.


Histórias de Vida


O trabalho desenvolvido no IFSC tem repercutido na vida de muitas famílias que veem no Instituto uma oportunidade dos seus filhos terem acesso à educação de qualidade. É o caso da família do estudante do curso técnico integrado de Comunicação Visual, Maicon Muniz Ventura, de 20 anos, que se mudou, em 2013, da cidade de Santa Luzia (MG) para Palhoça (SC), “exclusivamente para que ele tivesse acesso à educação bilíngue”, comenta Rosemary Barbosa Ventura, mãe do jovem, que também foi aluna da instituição no curso técnico de Tradução e Interpretação de Libras do IFSC. “Sempre tive medo que acontecesse comigo o que eu via acontecer com outras famílias de surdos, do meu filho se afastar de mim por não ter comunicação, por isso fui aprender Libras”, explica Rosemary. A mãe do garoto abriga ainda em sua residência, o estudante Wallyson Felipe Roberto, 22 anos, que também veio de MG com o mesmo propósito e já está, inclusive, trabalhando.


Situação parecida é a da família do estudante surdo Luan Vinícius Xavier de Souza, de 17 anos, que em janeiro de 2017 trocou a vida estruturada na cidade do Guarujá (SP) para residir próximo ao IFSC Palhoça Bilíngue. “Me disseram que em Santa Catarina havia uma instituição que poderia possibilitar mais oportunidades ao Luan”, ressalta Rita de Cássia Xavier da Silva que, junto com o marido e os dois filhos, abandonou o emprego que tinha em um salão de beleza e veio residir no Estado.


O mesmo aconteceu com o agricultor Claudenor Fellipe, pai do aluno Felix Mickael Fellipe, de 16 anos, que trocou a lavoura de fumo, no interior do Estado, em Angelina, pela cidade de Palhoça, para que o filho tivesse acesso à educação e a oportunidade de socializar-se, já que a escola onde o menino estudava, além de ter recursos limitados, não tinha outros surdos, o que o deixava, de certa forma, isolado, pois as outras crianças não tinham o conhecimento da língua de sinais.


Idêntico desejo motivou o aluno do curso superior de Tecnologia em Produção Multimídia, Rafael Guilherme Gonçalves, 24 anos, que veio sozinho de Ribeirão das Neves (MG) atrás do sonho de trabalhar com ferramentas digitais de mídia na comunicação e hoje é bolsista do IFSC em um projeto para o desenvolvimento de materiais didáticos bilíngues.


Já a estudante do curso de Pedagogia Bilíngue, Katallen Anne Morais Costa, 35 anos, ficou sabendo da existência do Câmpus Palhoça Bilíngue quando ainda morava em Porto Velho (RO), onde trabalhava numa grande loja de varejo. Como a loja também tem unidades na grande Florianópolis, a empresa apenas fez a sua transferência e hoje Katallen mora com o filho ouvinte de 11 anos em Palhoça. “Quando eu me formar, quero prosseguir nos estudos fazendo uma especialização ou um mestrado e aprender a Língua Americana de Sinais (ASL) para ensinar às crianças surdas”, confidenciou a estudante.


Cursos


Uma das finalidades do Câmpus Palhoça Bilíngue do IFSC é proporcionar uma formação integral e bilíngue (Libras | Português), que capacite os alunos para o exercício competente da cidadania e da sua profissão. Para tanto, os cursos oferecidos atualmente no câmpus são:


- Técnico Integrado em Comunicação Visual (Ensino Médio + Profissionalização) | Duração: 4 anos
- Técnico Integrado em Tradução e Interpretação de Libras (Ensino Médio + Profissionalização) | Duração: 4 anos
- Técnico Proeja em Manutenção e Suporte em Informática (Ensino Médio + Educação de Jovens e Adultos) | Duração: 2 anos
- Superior de Tecnologia em Produção Multimídia | Duração: 3 anos
- Superior de Pedagogia Bilíngue (Libras | Português) | Duração: 4 anos
- Especialização em Educação de Surdos (Pós-graduação) | Duração: 2 anos
- Qualificação profissional |Duração: 1 semestre:

Atendimento ao estudante surdo
Animação: stop motion
Fotografia e edição digital
Inglês básico
Libras básico, intermediário e avançado
Português como segunda língua para surdos
Programação web para multimídia
Teatro Bilíngue (Libras | Português)


Projetos de pesquisa e extensão


Além do ensino, projetos de pesquisa e extensão oportunizam aos alunos, surdos e ouvintes, experiências que ultrapassam os limites da sala de aula na aquisição e socialização do conhecimento, como os que são apresentados brevemente abaixo:

- Glossário Libras (pesquisa):

é uma plataforma destinada à busca e organização de verbetes em Libras. Vinculada às redes sociais, ela permite que o usuário pesquise as palavras em português e, nos resultados, apareçam vídeos com o sinal e o significado em Libras.


- Glossário GLTec (pesquisa):

é um dicionário online de sinais da Libras, para as áreas das tecnologias visuais: animação, design e fotografia. Para visualizar os sinais, o usuário deve clicar na área de seu interesse, tendo a opção de assistir ao vídeo que mostra uma pessoa fazendo o sinal, ler o conceito em português e visualizar um exemplo.


- Workshop e produção de identidade visual (extensão):

parceria entre os artesãos do Projeto Brique do SESC Palhoça e o IFSC, para que os alunos do curso técnico integrado de Comunicação Visual ajudem os artistas a desenvolverem a sua identidade visual, contribuindo para a promoção dos seus trabalhos.


- AnimésRs (extensão):

parceria entre a Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), o Laboratório de Pesquisa em Imagem e Som (LAPIS), da UFSC, e o IFSC, para o desenvolvimento de uma animação que abordará os temas sustentabilidade, preservação ambiental urbana e destino adequado dos resíduos sólidos, a qual será utilizada pela Comcap em visitas da comunidade ao Circuito Ecológico e ao Museu do Lixo da Comcap.

Por Sônia Santos | Relações Públicas IFSC e Marcela Lin | Jornalista IFSC

 

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