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Garopa Literária: “Quem tem direito a fabular, a imaginar?”

EVENTOS Data de Publicação: 23 nov 2022 18:13 Data de Atualização: 23 nov 2022 18:34

“Quem tem direito a imaginar, a fabular?”. Essa foi a provocação trazida pela professora do Instituto Federal do Ceará (IFCE) Valéria Lourenço, durante a conferência de abertura da 5ª Garopa Literária na noite de terça-feira (22), no auditório do Câmpus Garopaba do IFSC, com o tema “A Literatura como direito de todas as pessoas”. A professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Sara Wagner York dividiu a mesa de debate, que teve mediação da professora do Câmpus Garopaba Tânia Lopes.

Valéria explica que pessoas como ela, uma mulher negra, não são vistas como pessoas com o direito a imaginar, criar, falar, ler e escrever. Segundo a professora, mulheres negras sempre foram colocadas no “lugar do cuidado, como a ama de leite ou a doméstica, ou sexualizada, como a mulata do Carnaval”. Assim, partindo da visão de homens e mulheres negros como “o corpo que trabalha”, reflete: “pensar que a gente pode estar em outros lugares, como na literatura, que muitas vezes não foi pensada para pessoas como nós, é tão ou mais importante do que estar no lugar do trabalho”. Para Valéria, que também é escritora, “é importante lembrar que corpos como os nossos devem estar em todos os lugares, não classificar em uma caixinha, não fazer pré-julgamentos”.

Para ilustrar sua fala, Valéria apresentou o “mapa da ausência”, estudo realizado sobre autores que publicaram literatura entre 1990 e 2004 por grandes editoras brasileiras: dos 165 autores identificados, 120 eram homens, 93,9% brancos, 78,8% com ensino superior e 90,3% moradores de áreas urbanas. Dessa maneira, são esses homens que representam a identidade da literatura e da cultura brasileiras.

O poder imaginar histórias diversas, para serem contadas por meio da literatura, ou mesmo imaginar “novas histórias” para si, vai além dos papeis pré-estabelecidos para determinados tipos de corpos. Nesse sentido, a professora Sara York falou um pouco sobre sua trajetória como mulher transexual, professora e pesquisadora.

De acordo com ela, atualmente há cerca de 3 milhões de pessoas transexuais ou travestis no Brasil. Ao mesmo tempo em que o Brasil é o país que mais mata essas pessoas, também é o que mais consome pornografia transexual e travesti. Ou seja, são pessoas colocadas em um lugar específico, sem o direito a fabular, a imaginar ou criar novas histórias. Porém, ela decidiu percorrer outro caminho, falando sobre a violência que foi ser separada do filho por 15 anos como forma de ressignificar sua história e de outras pessoas como ela. “É preciso autoficcionar a vida. Quando eu vivi a história, era uma coisa, quando eu conto a história ela ganha outra roupagem, e é essa roupagem que pode trazer significado para quem escuta ela em outros tantos momentos”. 

Ao mesmo tempo em que se vê tanta intolerância e preconceito, Sara percebe alguma mudança, especialmente a partir das novas possibilidades de comunicação: “a pandemia colocou pessoas para dentro das suas casas, para se isolarem, geograficamente falando, mas elas buscaram forma de se interconectar. E o ciberespaço foi esse lugar produtivo, foi na internet que conseguimos criar essas redes para pessoas, como eu, destituídas de tantos lugares de mobilidade urbana. O que talvez aconteceu com o resto do mundo foi ter que vivenciar o mesmo espaço daqueles que foram excluídos do mundo físico”, reflete.

As palestrantes também responderam a perguntas do público, como questões de cotas, ações afirmativas e o papel do professor na promoção da diversidade.

Programação toda a semana

Após dois anos em formato on-line, 5ª Garopa Literária está sendo realizada no formato presencial. O evento é coordenado pelo Núcleo de Cultura e Arte (Nuca) do Câmpus e faz parte do Edital Didascálico – Mostra de Arte e Cultura no IFSC, tendo como tema “Literatura e(m) Movimento”.

Na quarta-feira (23), foram realizadas rodas de conversas com autores locais. A programação, aberta ao público, vai até 25 de novembro e pode ser conferida no site do evento.

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