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Câmpus Palhoça Bilíngue comemora aniversário neste sábado

INSTITUCIONAL Data de Publicação: 25 set 2020 03:11 Data de Atualização: 25 set 2020 18:10

Câmpus Palhoça Bilíngue comemora seu aniversário neste sábado, 26 de setembro, data que marca a cerimônia de entrega do câmpus à comunidade, em 2013. Além disso, o câmpus completa também em 2020 uma década de atividades em Palhoça, já que iniciou seus primeiros cursos em 2010, em instalações cedidas pela Faculdade Municipal de Palhoça (FMP). O câmpus tem atuado com ensino, pesquisa e extensão na perspectiva bilíngue - em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e português - e destacando-se na produção de material didático voltado à educação de surdos.

Localizado no bairro Pedra Branca (na Rua João Bernadino da Rosa, ao lado da fábrica de água mineral Font Life), o câmpus teve em 2019 um total de 1.289 estudantes matriculados (entre surdos e ouvintes), de acordo com a Plataforma Nilo Peçanha, do Ministério da Educação, que agrega dados sobre as instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT). Entre professores e técnicos administrativos, o câmpus possui atualmente 86 servidores no quadro ativo permanente (concursados).

O câmpus oferece vários cursos de qualificação, além de cursos técnicos (Comunicação VisualManutenção e Suporte em Informática (Proeja) e Tradução e Interpretação de Libras), de graduação (Pedagogia Bilíngue Libras/Português e Produção Multimídia) e de especialização (Educação de Surdos: Aspectos Políticos, Culturais e Pedagógicos e Tradução e Interpretação de Libras/Português).

São José, Ponte do Imaruim e Pedra Branca

A história de criação do Câmpus Palhoça Bilíngue começa no final dos anos 1980, quando o primeiro estudante surdo ingressou no atual Câmpus São José do IFSC (na época, Unidade São José da Escola Técnica Federal de Santa Catarina) em 1988. Depois dele, vieram outros e, do esforço de professores para pensar em como adaptar aulas e conteúdos, surgiu o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos (Nepes), também no Câmpus São José.

Com início de um processo de expansão da rede federal de educação profissional a partir de 2005, nasceu no Nepes o projeto de criação de uma unidade de ensino que aliasse a educação profissional com a de surdos. Assim, surgiu o Câmpus Palhoça Bilíngue. Antes mesmo de ter uma sede própria, durante aproximadamente três anos (2010-2013), as atividades do câmpus funcionaram em instalações cedidas pela Faculdade Municipal de Palhoça (FMP), no bairro Ponte do Imaruim.

“Foi um período interessante porque permitiu uma proximidade com a realidade da educação no município de Palhoça”, lembra o diretor-geral do Câmpus Palhoça Bilíngue na época, Vilmar Silva. Ele conta que, por estar dentro da FMP, tinha contato constante com a direção da faculdade e também com a secretaria municipal de Educação.

O espaço cedido pela FMP incluía quatro salas, das quais duas eram usadas para aulas, uma como laboratório de informática e outra para a administração do Câmpus Palhoça Bilíngue. Foi nesse local que o câmpus realizou seus primeiros eventos, formaturas e ministrou seus primeiros cursos, como a especialização em Educação de Surdos e os cursos de Libras, nos níveis básico, intermediário e avançado.

Em 26 de setembro de 2013, a obra do Câmpus Palhoça Bilíngue, localizado no bairro Pedra Branca, foi entregue à comunidade, ficando essa como a data em que o câmpus comemora seu aniversário. Concluído o prédio na época, o desafio seguinte “foi trabalhar com professores e técnicos administrativos que chegavam sem uma formação na educação bilíngue e sem serem fluentes na língua de sinais”, lembra Vilmar. Para tentar solucionar esse problema, foram realizadas formações internas e hoje, sete anos depois, grande parte dos servidores consegue comunicar-se com a comunidade surda do câmpus por meio da Libras.

Contribuição social

Para o ex-diretor-geral, que foi um dos pioneiros na educação de surdos no IFSC nos anos 1990, quando era professor do Câmpus São José, o Câmpus Palhoça Bilíngue teve um impacto social importante ao trazer para dentro do IFSC mais pessoas surdas, que, em sua maioria são carentes. Para atingir esse objetivo, em seus primeiros processos seletivos o câmpus adotava apenas critérios socioeconômicos para ingresso nos cursos. “Isso deu outro patamar para o câmpus, porque podia trabalhar com as comunidades carentes do entorno de Palhoça, que é o nosso papel social”, lembra.

Outra contribuição do câmpus e dos servidores que se dedicam à educação de surdos no IFSC, na visão do ex-diretor-geral, foi ajudar a desconstruir o estereótipo de que o surdo é uma pessoa com deficiência, mas é sim alguém que faz parte de uma minoria linguística. “O surdo não tem nenhum déficit no campo cognitivo e linguístico. Ele tem suas diferenças no processo de aprender”, comenta Vilmar.

Material didático

Para atender essas diferenças, além de oferecer aulas bilíngues, em Libras e português, o Câmpus Palhoça Bilíngue tem dedicado esforços à produção de material didático voltado para os surdos. Conta com um setor específico para isso, o Núcleo de Produção Bilíngue (NPB), que possui dois servidores, seis bolsistas e tem auxílio de outros servidores do câmpus de acordo com a demanda.

No NPB são produzidos materiais com foco na cultura surda. Além dos didáticos, também são elaborados materiais informativos e de comunicação interna e externa ao câmpus. “Em sua grande maioria, em virtude de a Libras ser uma língua visual-espacial, o registro se dá por meio de captura audiovisual (gravação de vídeo), passando por um processo de edição e inserção de videografismos que auxiliem no claro entendimento da informação por parte da comunidade surda”, explica o técnico em laboratório em ilustração e animação Diego Urrutia.

De acordo com Diego, a experiência do câmpus mostra que uma simples tradução do material a partir do português é ineficaz, sendo necessária uma adaptação cultural, e não somente linguística, do conteúdo. “Todo o conhecimento que possuímos e adquirimos por séculos de estudos e observações está hoje registrado em português, e para que a comunidade surda tenha alcance igualitário é preciso que esse conhecimento todo seja adaptado para uma outra língua, para uma outra cultura”, defende.

Para os surdos que compreendem a Libras (nem todos a conhecem ou conseguem se comunicar por meio dela), ela é a sua língua de aprendizagem natural e é por meio dela que o estudante forma conceitos e compreende perspectivas diferentes, gerando conhecimento, segundo a professora de Libras do câmpus Simone Gonçalves de Lima da Silva, que é surda. Os materiais didáticos visuais e em Libras podem ajudar a ampliar o conhecimento de mundo dessas pessoas, além de ser uma ferramenta útil para os professores e familiares.

“[O material didático] Pode ser utilizado para adquirir conhecimento ou ensino do conteúdo específico e também conhecimento linguístico, ambos essenciais para os surdos, pois ainda não temos um ensino sistemático de Libras nas escolas, ou seja, disciplinas de Libras, assim como a disciplina de língua portuguesa”, acrescenta Simone.

Um bom material didático para surdos precisa ser visual e em Libras, afirma Simone. “Visual no sentido de ter elementos que complementam o conceito e não decorativos, que distraem a atenção do que o material se propõe a apresentar”, diz. Linguagem objetiva, com exemplos próximos à realidade dos estudantes também são elementos importantes na visão da professora.

Por conta dessas características do que é um bom material didático, os materiais produzidos no Câmpus Palhoça Bilíngue são, em geral, vídeos em Libras apresentados na modalidade oral da língua brasileira de sinais. Apesar de existir um sistema escrito de língua de sinais, ele ainda está numa fase inicial de desenvolvimento e utilização e, por isso, a preferência é pelo vídeo. Alguns materiais desenvolvidos estão disponíveis no site do câmpus 

Além do câmpus

A competência adquirida pelo Câmpus Palhoça Bilíngue na produção de material didático para surdos vai colaborar com outras instituições. Há cerca de um ano, com apoio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC), foram adquiridos equipamentos e recursos para bolsas direcionadas aos estudantes do câmpus em um projeto maior que tem como objetivo beneficiar a comunidade surda de todo o Brasil, por meio da elaboração de material em Libras de apoio pedagógico na área de Matemática.

Já estão sendo produzidos, em fase de finalização, materiais sobre estatísticas (gráficos, média, moda e mediana) e conjuntos numéricos e estão em andamento, ainda, outros sobre operações matemáticas e sobre geometria e trigonometria. 

“São materiais didáticos de apoio, que não seguem a lógica de um livro didático. São narrativas que evidenciam um conceito da área que é pensado, explicado e exemplificado por meio da Libras”, destaca Simone. Uma mostra do material pode ser vista no canal do câmpus no YouTube. Mais informações sobre eles podem ser obtidas pelo e-mail npb.phb@ifsc.edu.br.

Pandemia

O Câmpus Palhoça Bilíngue comemora seu sétimo aniversário em meio à pandemia de covid-19, que fez o IFSC suspender as atividades presenciais desde 17 de março. Segundo a diretora-geral, Eliana Cristina Bär, que assumiu o cargo naquele mês, o maior desafio da gestão tem sido garantir a equidade e a efetividade nos processos de ensino e aprendizagem aos estudantes em vulnerabilidade e aos estudantes surdos. A falta de estrutura tecnológica e de materiais acessíveis traz uma dificuldade extra. Eliana lembra que os estudantes surdos têm no IFSC um local de socialização e interação em Libras, que muitas vezes não ocorre no interior das famílias (quando os familiares não dominam a língua de sinais).

Para tentar diminuir o impacto do distanciamento, professores do câmpus elaboraram materiais de apoio às atividades não presenciais (ANP) em língua de sinais para os estudantes surdos. O câmpus também organizou as turmas por blocos de disciplinas, para evitar evitar sobrecarga de atividades aos alunos e possibilitar maior tempo para articulação, planejamento e preparação de materiais bilíngues. Os estudantes sem acesso a ferramentas de tecnologia da informação e da comunicação são atendidos com entregas de materiais impressos a cada bloco de unidades curriculares (disciplinas).

“Seguimos tentando, apesar dos desafios interpostos pela distância, aproximar os servidores das tomadas de decisão, seja em reuniões ampliadas ou comissões específicas. Sabemos, todavia, que este período tem sido muito sensível para todos, especialmente às famílias e aos estudantes em vulnerabilidade emocional e econômica”, comenta Eliana.

Mesmo sem as atividades letivas presenciais, a administração do câmpus tem trabalhado em melhorias. Foram criados novos laboratórios (como o de Áudio e Vídeo e o Laboratório Didático de Tradução e Interpretação) e estruturados outros (Laboratório de Manutenção de Informática e Laboratório de Pedagogia Bilíngue), além de ter sido lançada a licitação para construção de uma quadra poliesportiva e feita negociação de apoio para projetos de produção de materiais didáticos bilíngues com a Setec e com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

“Nosso compromisso e desafio é o fortalecimento da identidade bilíngue e da difusão do câmpus regional e nacionalmente. É também uma preocupação central nossa contribuir para a aproximação entre áreas e equipes, no sentido de aprimorar a atuação pedagógico-administrativa e as relações interpessoais, valorizando a diferença e a pluralidade de compreensões e atuações, que sempre foram tão importantes para a instituição”, finaliza a diretora-geral. 

Live

Para comemorar o aniversário do câmpus e o Dia Nacional do Surdo, o Câmpus Palhoça Bilíngue organiza um evento online para a próxima quarta-feira, 30 de setembro, às 19h. A live “IFSC de mãos dadas” vai abordar a história do câmpus (com o ex-diretor-geral Vilmar Silva), a experiência dos estudantes em uma instituição bilíngue (com alunos e ex-alunos) e o olhar da família sobre o câmpus (com familiares de estudantes). O evento será transmitido online.

Dia Nacional do Surdo

O aniversário do Câmpus Palhoça Bilíngue coincide com o Dia Nacional do Surdo, instituído pela lei 11.796/2008. A data de 26 de setembro foi a escolhida porque a primeira escola de surdos do Brasil foi fundada nesse dia, em 1857, no Rio de Janeiro, dando origem ao atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines).

Por Felipe Silva | Jornalista IFSC

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