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Intercambista decide fazer sua graduação em Portugal

BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 13 nov 2020 10:16 Data de Atualização: 13 nov 2020 10:53

Em 2018, Karina Santos Silvério nunca tinha viajado para fora do País. A então aluna do curso técnico em Biotecnologia do Câmpus Lages decidiu tentar uma vaga no Programa de Cooperação Internacional para estudantes do IFSC (Propicie) e conquistou a oportunidade de realizar um projeto de pesquisa no Instituto Politécnico de Beja (IPBeja).  Ela gostou tanto da experiência que decidiu continuar em Portugal para cursar graduação em Tecnologias Bioanalíticas no IPBeja.

-> Assista à live feita com intercambistas do IFSC em que a Karina também participou

Conversamos com a Karina para conhecer melhor a sua trajetória no IFSC, sua experiência de intercâmbio e como está sua vida no exterior neste momento. Veja o seu relato:

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Conhecendo o IFSC

A minha história no IFSC começou em uma fase de incerteza na minha vida. Eu havia sido selecionada para uma bolsa do Prouni para Engenharia Química, porém, quando foi feita a análise salarial, eu perdi por ter passado em torno de R$30,00. Eu havia recém começado a trabalhar na minha área depois de me formar no técnico em Química e tinha feito muita hora extra naquele mês e, como o salário conta pelo bruto, eu acabei perdendo a bolsa. Foi muito frustrante!

Eu sempre fui uma pessoa que gosta muito de estudar, tem paixão pelo conhecimento e também sempre fui muito curiosa no que diz respeito à ciência e a vida. Perder aquela bolsa foi ter que encarar seis meses naquela rotina de trabalhar e ir para casa, o que sempre foi algo angustiante para mim, pois não estava aprendendo algo novo e minha vida acadêmica ficou parada.

Neste período, eu decidi estudar para concurso público e, por acaso, descobri o IFSC Câmpus Lages. Eu sabia que era uma instituição pública, mas não fazia ideia do que realmente era. Então comecei a pesquisar mais sobre e descobri que o IFSC oferecia um curso técnico gratuito de Biotecnologia e pensei comigo: “Melhor fazer outro técnico do que ficar só em casa, sem estudar”. Decidido isso, eu me deparei com uma antiga crença que dizia que somente as pessoas que estudavam em escola particular conseguiriam passar em uma instituição pública de ensino. Ou a pessoa estudava em escola particular ou era mesmo muito dedicada aos estudos - o que não era o meu caso já que eu só tinha o período da noite porque trabalhava o dia todo.

No dia do exame de classificação, eu estava muito nervosa e não achei que fosse passar… mas, para minha surpresa, eu recebi um e-mail dias depois me informando que eu havia sido classificada para cursar Biotecnologia. Eu não fazia ideia do que me aguardava, mas fiquei muito feliz e entusiasmada.

Chegando lá, foi amor à primeira vista! Logo nos primeiros dias, eu já me apaixonei pela instituição. Fiquei impressionada com a qualidade do ensino, com a qualificação dos professores e sua simpatia e energia em sala de aula e também com os servidores do câmpus que se mostravam sempre tão prestativos e preocupados com o bem estar dos alunos.

E assim foram os próximos dois anos: todos os dias eu saía de Otacílio Costa, ia para a Palmeira trabalhar e de lá mesmo eu ia para Lages depois das 18h para estudar. Este percurso dava em torno de 30km todos os dias, mas nunca foi um peso, muito pelo contrário. Houve dias em que eu tinha dias péssimos no trabalho e, quando chegava no câmpus, os professores, os amigos e todo aquele ambiente me transmitiam uma energia tão boa que transformava meu dia e eu terminava indo pra casa muito mais tranquila.

O que começou com uma frustração e incerteza terminou na melhor decisão que eu já tomei na vida. Costumo dizer que minha vida se divide no antes e depois do IFSC. Me formei em 2018. 

Oportunidade de intercâmbio

Para além de todo conhecimento adquirido durante o curso e também a ampliação da minha visão de mundo, eu tive a sorte de ser contemplada com a bolsa de intercâmbio do IFSC no último semestre do curso.

O projeto que eu fui selecionada foi o “aplicações da agrometeorologia às culturas mediterrânicas”. Inicialmente eu havia concorrido para um outro projeto na cidade do Porto, mas depois eu fui remanejada para este projeto aqui no Instituto Politécnico de Beja.

Eu decidi fazer o Propicie porque já fazia quase três anos que eu estava trabalhando e não estava realizada na empresa em que eu estava, me via sem perspectiva de crescimento e, por isso, queria tentar algo novo. A princípio, o que eu queria era passar em algum concurso público.

Eu sempre quis fazer intercâmbio, mas via isso como algo muito distante, muito fora da minha realidade. Mesmo assim, resolvi tentar no último dia de inscrição, no último instante. Faltando poucos minutos para meia-noite, consegui submeter a minha candidatura. Foi um sufoco por vários empecilhos no meio do caminho, mas no final deu tudo certo.

Eu tinha 22 anos, nunca tinha viajado para fora do país antes e certamente foi algo que transformou a minha vida em vários sentidos. A experiência foi muito enriquecedora! Desde que cheguei aqui, morei em uma república com outros intercambistas das mais variadas nacionalidades. Entre os primeiros que conheci, estavam pessoas da Croácia, República Tcheca, Espanha, França, Polônia e, é claro, Brasil. Este contato me permitiu fazer muitos amigos e me fez conhecer mais sobre a cultura de cada país e também entender que há pontos no ser humano que são comum a qualquer cultura.  Além disso, ficou ainda mais clara a importância do inglês fluente e o quão isso é fundamental. Pela proximidade dos países aqui, é muito comum encontrar pessoas que falam até cinco línguas fluentemente, então falar inglês é mesmo o básico.

Mas eu diria que a coisa mais importante que aprendi aqui como cidadã foi aprender a valorizar o que é nosso e entender que todo país tem pontos positivos e pontos negativos. Parece óbvio, mas muitas vezes as pessoas acham que tudo que é europeu é superior ao que temos no Brasil. Talvez esse pensamento tenha um motivo histórico, mas abrir a minha mente e ampliar os meus horizontes nesta questão, com certeza, me fez crescer e ser outra pessoa.

Em termos acadêmicos, eu senti muita diferença. Aqui em Portugal é seguido um modelo de ensino tradicional muito mais metódico, onde predomina a ideia de “transmitir o conhecimento”. Diferente do IFSC, por exemplo, em que a ideia é a construção do conhecimento e as metodologias são bem mais interativas. Das duas formas você aprende, contudo, eu acho que o IFSC consegue fazer com que o aluno gaste menos tempo e esforço estudando e, acima de tudo, que o conhecimento seja realmente internalizado e entendido e não somente “memorizado”.

Inclusive, eu tive uma experiência muito interessante no início deste ano letivo em que um professor aplicou um questionário para testar quais eram os conhecimentos prévios sobre a imunologia. Eu tive imunologia no IFSC há três anos e nunca mais havia sequer ouvido falar nas suas especificidades. Mesmo assim, consegui tirar 17 sendo 20 a nota máxima. Foi uma prova de que quando o ensino é de qualidade, você nunca mais esquece.

A decisão de fazer a graduação em Portugal

Antes mesmo de terminar o Propicie, eu me matriculei no ensino superior no Instituto Politécnico de Beja no curso de Tecnologias Bioanalíticas. Esta decisão de fazer um curso superior fora do país se deu principalmente a um desejo antigo de me formar em uma graduação na área química e, curiosamente, o custo de estudar fora não era superior ao ter que fazer uma graduação em uma faculdade particular ou mesmo ter que me mudar para outra cidade e deixar de trabalhar para conseguir estudar em uma instituição pública em tempo integral.

Aqui em Beja eu estudo em tempo integral. Entretanto, há duas coisas que facilitaram a minha estadia enquanto estudante aqui em Beja. A primeira delas foi receber uma bolsa do instituto que ajudou no pagamento das mensalidades durante praticamente um ano. E a outra maneira foi ser a representante de uma das residências estudantis, ou seja, colaboro com o Instituto recebendo os novos intercambistas e tratando dos assuntos relacionados à residência e, por fazer este trabalho, eu não pago moradia.

É importante ressaltar que esta ajuda na isenção de pagamento da moradia se deu por eu ter facilitado a ponte entre o Instituto Politécnico de Beja e o IFSC em agosto de 2019. Esta ponte resultou em uma parceria sólida e hoje todos os alunos do IFSC que decidem fazer a graduação em Beja têm moradia gratuita também. ♥  É uma forma com que consegui retribuir tudo o que o IFSC me proporcionou.

Também faço parte de um projeto que acabou por mais tarde se tornar uma empresa que presta consultoria a estudantes que queiram estudar em Portugal, seja para fazer a graduação, mestrado, intercâmbio ou mesmo auxiliar na validação de diplomas. A empresa é fruto de uma parceria com o IPBeja e abrange três países: Brasil, Angola e Guiné-Bissau.

A experiência de morar no exterior

Eu moro em Portugal desde setembro de 2018 quando vim participar do Propicie e continuei por aqui para fazer a graduação. Nunca foi um objetivo sair de Santa Catarina e morar fora do país. Nunca tive esse sonho. As coisas foram simplesmente se encaminhando e acontecendo. 

Eu diria que morar fora, pelo menos por algum tempo, é algo que todos que tiverem a oportunidade deveriam tentar. É possível viajar na Europa por preços muito acessíveis. Por exemplo, Beja fica a duas horas e meia da Espanha. Este é um ponto muito positivo de estar aqui: esta possibilidade de viajar e conhecer culturas e lugares muito bonitos e interessantes. 

Contudo, preciso dizer que não é um processo fácil e maravilhoso como muitas pessoas imaginam ser. Para além da saudade de casa, dos amigos e de todos os choques culturais - que não são poucos- , ainda é preciso lidar com situações difíceis como a xenofobia de algumas pessoas que passam pelo nosso caminho. Infelizmente existe e não é algo que pensamos quando estamos prestes a fazer um intercâmbio. É importante manter a mente aberta para o novo e aprender a extrair o melhor destas situações, até porque eu encontrei também muitas pessoas maravilhosas e fiz amigos aqui e isso só foi possível mantendo a mente aberta ao novo.

A situação da pandemia também é algo que já testou e continua testando meus limites várias vezes. Sou muito grata por ter amigos e uma família tão presente na minha vida mesmo estando longe e por poder contar com pessoas que conheci aqui e que construí uma amizade muito bonita também. Mas o que eu quero dizer com tudo isso é que, apesar de toda dificuldade que encontrei, eu não tenho a menor dúvida que foi uma experiência única, enriquecedora e que me fez amadurecer muito e me tornar uma pessoa melhor e mais forte e, por isso, eu faria tudo de novo.  

Planos 

Hoje eu tenho 24 anos. Estou no último ano da graduação e pretendo continuar estudando. Provavelmente vou fazer o mestrado ainda aqui em Portugal na área de Biotecnologia ou genética. Não pretendo continuar morando em Portugal. Pretendo sim estudar e aproveitar todas as oportunidades que surgirem de forma a abrir portas para um futuro promissor. 

Apesar de sentir que meu lugar continua sendo Santa Catarina e sempre ter a sensação boa de que posso andar por todo lado e que, mesmo assim, sempre vou ter um cantinho especial que posso chamar de casa, em um mundo globalizado é importante não colocar fronteiras em seus sonhos e objetivos. A experiência de morar na Europa me fez entender o quanto não só o Brasil, mas a América do Sul como um todo tem um potencial de crescimento enorme e eu quero muito poder contribuir e preservar tudo aquilo que é nosso. 

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