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Quem teve Covid-19 pode ficar com sequelas?

IFSC VERIFICA Data de Publicação: 24 nov 2020 16:01 Data de Atualização: 17 fev 2021 15:35

A Covid-19 é uma doença aguda que, em cerca de 15% dos casos, pode evoluir para uma doença grave e até levar a óbito em casos mais críticos (dados da Organização Pan Americana de Saúde – Opas). A maioria dos infectados, porém, desenvolve a forma leve da doença, com sintomas semelhantes ao do resfriado comum.

Nos últimos meses, no entanto, a comunidade médica e científica tem observado que, mesmo entre pacientes com sintomas leves, a Covid-19 tem efeitos mais prolongados que um resfriado ou uma gripe causada por outros tipos de vírus. Fadiga, dor de cabeça, perda de olfato e paladar, entre outros sintomas, são alguns dos efeitos relatados por pacientes em várias partes do mundo, por semana ou até meses após a contaminação pelo vírus. 

Ouvimos um médico reumatologista e um otorrinolaringologista para saber se esses sintomas prolongados podem se tornar sequelas da doença ou mesmo se a Covid-19 pode se tornar uma doença crônica (doença ativa que precisa ser tratada pelo resto da vida, como por exemplo diabetes ou pressão alta). Segundo eles, ainda é cedo para afirmar isso, pois a doença foi descoberta há menos de um ano (o primeiro relato foi feito na província de Wuhan, na China, em dezembro de 2019) e ainda são necessárias pesquisas a longo prazo. O consenso entre os especialistas, no entanto, é de que esses sintomas não devem ser negligenciados.

No post de hoje, veja:

- Qual a diferença entre sintomas persistentes, recorrentes e sequelas?

- Quais são os sintomas persistentes mais comuns na Covid-19?

- Quem tem mais predisposição para desenvolver sintomas persistentes da Covid-19?

- Pessoas com sintomas persistentes continuam transmitindo o novo coronavírus?

- O novo coronavírus pode causar doenças autoimunes?

- Qual o tratamento para quem apresenta sintomas persistentes e/ou recorrentes?

- Podemos dizer que ainda temos muito a descobrir sobre essa doença?

Qual a diferença entre sintomas persistentes, recorrentes e sequelas?

O médico reumatologista Diego Vinicius de Magalhães explica que sequela é um defeito no funcionamento no organismo, ocasionado por uma doença. Por exemplo, o novo coronavírus, em sua forma grave, pode causar uma inflamação nos pulmões (pneumonia viral), que pode levar à fibrose e consequente perda da capacidade respiratória, causa da fadiga crônica relatada por muitos pacientes. Porém, alguns sintomas parecem ser persistentes, como a perda de olfato e paladar, que podem desaparecer em algumas semanas, ou recorrentes, isto é, retornam depois que os sintomas iniciais desapareceram. Isso pode acontecer mesmo quando a pessoa não tem mais carga viral, ou seja, não está mais transmitindo o vírus. “A gente tem 10 meses só de doença, e na Medicina, para dizer que algo é crônico, precisa de pelo menos um ano”, explica.

Veja no vídeo a explicação completa sobre o que são sintomas persistentes:

Quais são os sintomas persistentes mais comuns na Covid-19?

Ainda há poucas pesquisas científicas sobre os sintomas prolongados (persistentes, recorrentes e possíveis sequelas) da Covid-19. Os esforços da comunidade científica estão concentrados na descoberta da vacina e no tratamento mais eficaz para pacientes em estado crítico. No entanto, alguns estudos preliminares alertam que a Covid-19 pode trazer muito mais prejuízos que outros vírus respiratórios.

Um estudo preliminar realizado em um hospital da Itália e publicado no periódico científico JAMA Network (em inglês) avalia quais os principais sintomas persistentes após a fase aguda da Covid-19. Apenas 12,6% dos pacientes analisados relataram estarem livres dos sintomas em dois meses após a fase aguda. Outros 32% relataram um ou dois sintomas e outros 55% relataram três ou mais sintomas persistentes. Cerca de 44% relataram piora na qualidade de vida após a Covid-19. Os sintomas mais citados foram fadiga, dispneia (falta de ar), dores nas articulações e dores no peito.

Veja na figura abaixo o comparativo entre os sintomas na fase aguda e no período de acompanhamento:


Gráfico mostra os sintomas persistentes em pacientes depois da fase aguda da Covid-19

Fonte: JAMA Network

Outros fatores bastante recorrentes são os relacionados à perda de olfato e paladar. O médico otorrinolaringologista e cirurgião Guilherme Webster explica que “o Sars-Cov-2 é um vírus que tem uma predominância da parte respiratória e um tropismo por nervos. Esse tropismo afeta o nervo olfatório, levando esses pacientes a um quadro da perda súbita do olfato e de alterações do paladar”. 

As alterações mais comuns são a anosmia, que é a ausência do olfato; a parosmia, a alteração do olfato; a hiposmia, a diminuição do olfato; a fantosmia, quando o paciente passa a sentir odores pútridos onde eles não existem; e a disgeusia, que é a alteração no paladar. 

Segundo o médico, esses sintomas são comuns em resfriados, porém, nesses casos, os sintomas desaparecem em pouco tempo. Na Covid-19, essas alterações são mais persistentes. Observa também um número frequente de casos de pacientes com perda súbita da audição após a Covid-19, sintoma que demora mais tempo para desaparecer que os demais observados. O tema foi abordado em artigo (em inglês) na publicação Pubmed.gov.

Veja no vídeo a explicação completa sobre as alterações de olfato, paladar e audição:

Quem tem mais predisposição para desenvolver sintomas persistentes da Covid-19?

Apresentar fatores de risco para o desenvolvimento da forma grave da Covid-19 não necessariamente significa que a pessoa vá desenvolver sintomas persistentes, recorrentes ou sequelas. De acordo com o médico reumatologista Diego Vinicius de Magalhães, ainda não há estudos apontando essa relação. 

Um estudo da publicação MedRxiv (em inglês) aponta que não há relação entre a gravidade dos sintomas iniciais do novo coronavírus e casos de fadiga prolongada (cerca de 10 semanas). Foram analisados pacientes que estiveram em estado crítico (hospitalizados e/ou entubados) e pacientes com sintomas mais leves. O que se observou foram mais relatos de fadiga crônica em pacientes mulheres com histórico anterior de depressão e ansiedade. 

Segundo o médico otorrinolaringologista Guilherme Webster, “o que se observa é que mais mulheres do que homens apresentam sintomas prolongados, e em uma faixa etária entre 30 a 40 anos, aqui no Brasil. Em outros países, como a Itália, essa média é mais alta, também porque nos países europeus há maior prevalência de pessoas com idade avançada”.

Pessoas com sintomas persistentes continuam transmitindo o novo coronavírus?

Segundo os especialistas, não há evidências de que as pessoas com sintomas prolongados continuem transmitindo o vírus. O fator que determina a transmissão é a presença viral indicada nos exames de sangue. O indivíduo pode ter uma recorrência ou prolongamento dos sintomas devido à sequela deixada pelo vírus, mas não significa que esteja transmitindo a doença. “Você pode ter uma sequela após o vírus. Isso quer dizer que o vírus lesionou você e você ficou com essa consequência, não significa que você é transmissor”, explica Webster.

Ter sintomas recorrentes também não significa que a pessoa se reinfectou com o vírus, mas pode ser uma consequência do Sars-Cov-2. A reinfecção é outro ponto que está sendo investigado pela ciência. Segundo Webster, há casos em que o vírus não estimulou o sistema imunológico do paciente de forma suficiente para haver uma imunidade permanente. Por isso a importância de o paciente que teve o novo coronavírus continuar adotando medidas preventivas (distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos).

O novo coronavírus pode causar doenças autoimunes?

O médico reumatologista Diego Vinicius de Magalhães explica que existem vários gatilhos para o desenvolvimento de doenças autoimunes: um gatilho ambiental, um gatilho infeccioso, no caso o Sars-Cov-2, e uma questão genética. Assim, se uma pessoa tem uma predisposição genética para desenvolver doenças como artrite reumatoide ou lúpus, por exemplo, e entra em contato com um agente infeccioso, como o vírus da Covid-19, ela pode começar a desenvolver sintomas. “Em um dado momento da vida, ele (o paciente) é exposto a uma radiação solar, a um vírus, e passa a desenvolver uma resposta inflamatória. Ou seja, o sistema imunológico, que não estava bem modulado, com o vírus presente, a pessoa começa a apresentar sinais e sintomas de doenças autoimunes. Não é que o Sars-Cov-2 causa uma doença autoimune, ele propicia um desequilíbrio em uma pessoa que já está propensa”, explica. 

O médico alerta, no entanto, que as pesquisas nesse sentido ainda são inconclusivas. “Na reumatologia, que é a minha especialidade, a gente estuda doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide e elas não têm causas bem estabelecidas. Porém, sabe-se que os gatilhos ambientais, junto com a genética, são favoráveis. Então, infere-se que o vírus Sars-Cov-2 possa funcionar como gatilho de uma doença autoimune, mas isso ainda é incipiente”.

Qual o tratamento para quem apresenta sintomas persistentes e/ou recorrentes?

Não há uma medicação específica para tratar os sintomas persistentes e/ou recorrentes da Covid-19. Segundo Magalhães, são utilizadas medicações conforme os sintomas, como analgésicos comuns ou antidepressivos tricíclicos para dor de cabeça e anti-inflamatórios para sintomas de dor no corpo. 

Para os sintomas de perda de olfato e paladar, há estudos em reabilitação do olfato, que é fazer a pessoa sentir vários tipos de odores, uma espécie de treinamento olfativo. Porém, segundo Webster, não há estudos comprovando a eficácia. Corticoides nasais e orais são indicados para evitar sequelas por lesão ao nervo do olfato, mesmo procedimento adotado em resfriados e gripes comuns.

Para quem teve Covid-19, com sintomas prolongados ou não, o ideal é que continue realizando o acompanhamento médico. Essa é a melhor maneira, segundo o médico otorrinolaringologista, de se evitar sequelas graves. Esses dados também ajudam os médicos e pesquisadores a conhecer os padrões de evolução da doença e definir melhores formas de tratamento.

O Hospital Universitário da UFSC está desenvolvendo pesquisa com o objetivo de medir o impacto da Covid-19 no aparelho respiratório, a partir de acompanhamento de pacientes por um prazo de até dois anos.

Podemos dizer que ainda temos muito a descobrir sobre essa doença?

Segundo Magalhães, os coronavírus são vírus antigos, relatados desde a década de 50 ou 60. Em relação ao novo coronavírus, ainda há muita coisa a ser descoberta. “Não temos uma terapia padrão que comprove tratar Covid-19. O que mais queremos nesse momento é a melhor forma de prevenção que se tem, que é a vacinação”, destaca.

Segundo Webster, as descobertas acontecem muito rápido, há protocolos que mudam de uma semana para outra. Ele alerta, porém, que o consenso no momento é a prevenção, utilizar máscaras, higienizar as mãos e evitar o contato social.

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