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Sernegra discute raça e gênero

CÂMPUS GASPAR Data de Publicação: 15 nov 2017 22:00 Data de Atualização: 06 fev 2018 15:38


A maioria da população brasileira é composta por mulheres, elas representam mais de 100 milhões de pessoas, e desse total mais da metade são negras, segundo dados do IBGE. Apesar de serem maioria, qual é o espaço que elas ocupam em uma sociedade pensada para uma minoria formada por homens brancos? A 6ª edição da Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça (Sernegra), realizada no Câmpus Gaspar do IFSC de 9 a 11 de novembro, colocou esses temas em debate em oficinas, mesas-redondas e palestras. Atividades que foram pensadas a partir da perspectiva da mulher negra.

Realizado pela primeira vez de forma itinerante, o Sernegra reuniu estudantes e pesquisadores de diversas regiões do país como da Universidade Federal da Bahia (UFB), da Universidade Estadual da Bahia (UEB), do Instituto Federal de Brasília (IFB), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Utfpr), do Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Ufrrj), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Na conferência de abertura “Máscaras brancas...ciência negra”, a professora Anna Benite, da Universidade Federal de Goiás (UFG) e presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, falou sobre como o conhecimento científico tem se estruturado como um espaço de poder que promove desigualdades. “Se pegarmos o quadro de bolsistas do Cnpq e olharmos as bolsas destinadas a mulheres negras, vemos que elas representam 30% das bolsas de iniciação científica, mas esse número diminui quando olhamos as bolsas destinadas ao mestrado, que fica em torno de 25%, do doutorado, quando chega a 20%, e de produtividade em pesquisa, que representam o nível mais alto dentro desta tabela, nesse caso, elas representam apenas 7%.”

Na mesa-redonda sobre protagonismo negro em espaços institucionais, Cristiane Maré da Silva, doutoranda em História Social pela PUC de SP e membro do coletivo Pretas em Desterro, também questionou os privilégios de prestígio e poder associados a uma elite branca. Ela lembrou da geração de intelectuais negros engajados que intensificou esse trabalho de combate ao racismo institucional a partir da década de 1990.“O Brasil é o segundo país do mundo com maior contingente de pessoas negras. Dos 54 países africanos, só a Nigéria tem mais negros do que o Brasil. Nossas instituições de poder ainda se constituem enquanto um espaço de prestígio de uma branquitude. É preciso transformar esses sistemas, é preciso negritar.”

Nessa mesma mesa-redonda, o vereador de Gaspar Cícero Amaro traçou um panorama sobre a presença do negro em espaços institucionais na região do Médio Vale do Itajaí. “Em 80 anos do município de Gaspar, eu sou o primeiro negro a assumir a função de vereador. Segundo dados do Censo de 2010, são 1.500 negros e outros 6.000 pardos moradores de Gaspar.”

Durante o Sernegra, a professora Ana Paula dos Santos mostrou que a moda pode ser um espaço de resistência. Na palestra “Geração tombamento: a moda como estratégia de resistência às violências de gênero e de raça”, ela mostrou como a ideologia de branqueamento, intensificada de 1900 a 1930 no Brasil, atuou na esfera biológica, da moral e da estética. “Gênero e raça são construções sociais que atuam sobre os corpos. É possível observar o branqueamento estético a partir da cultura de alisar o cabelo e de clarear a pele. Se olharmos as propagandas de cremes para clarear a pele do início do século XX é possível ver que eles vendem o clareamento como uma questão de saúde para esterilizar a pele.”

Além da palestra, a professora promoveu oficinas sobre turbantes e fez com que muitos refletissem sobre os padrões de beleza. A aluna do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Câmpus Gaspar Beatriz Fradico conta que quando vai procurar emprego sempre vai com o cabelo amarrado. Só depois que ela já está empregada é que costuma mostrar suas tranças. “Quando eu vi no corredor do Câmpus a programação do Sernegra eu pensei isso é para mim. Escolhi fazer as oficinas porque quero conhecer um pouco mais da minha história para contar para o meu filho.”

Nas oficinas do Sernegra, os participantes puderam também conhecer um pouco mais sobre literatura, música e sobre história africana.O professor do câmpus Estrutural do Instituto Federal de Brasília (IFB) Átila dos Santos mostrou jogos que estão sendo desenvolvidos sobre história da África em conjunto com os professores do IFSC do câmpus Criciúma Marcos Grams e do câmpus Chapecó Marco Antônio Vezani. “Um dos jogos que desenvolvemos é na linha de RPG com a temática da África e outro é sobre os impérios de Guiné. A ideia é que eles possam ser utilizados em sala de aula como um aporte para os professores.”

Por Beatrice Gonçalves/ Jornalismo IFSC

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