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Uma nova chance: projeto orienta publicação de livro em penitenciária de Criciúma

CÂMPUS CRICIÚMA Data de Publicação: 17 dez 2018 21:00 Data de Atualização: 17 dez 2018 14:50

“Só depois de viver aprisionado no mundo do crime por praticamente dez anos e ter passado mais de sessenta por cento deste tempo na estreiteza de uma cela, amargando momentos difíceis por causa da minha ambição e atitudes inconsequentes, foi que eu descobri que a verdadeira felicidade não está nas coisas que o dinheiro pode comprar, mas sim nas coisas humildes e anônimas.”

A frase acima está no prefácio de um livro que será lançado nesta terça-feira (18). Não se trata de um livro qualquer. Além da reflexão de um presidiário sobre seu passado no mundo do crime, o livro pode ser, quem sabe, uma porta de saída.

“Uma nova chance” é o título da obra. O autor cumpre pena na Penitenciária Sul, de Criciúma, e passou os últimos nove meses escrevendo a mão. Sua história só está virando um livro de verdade por causa de um projeto de extensão desenvolvido no Câmpus Criciúma.

Desenvolvido pela professora de Língua Portuguesa Carla Scapini, cuja tese de doutorado, defendida em 2015, foi sobre literatura carcerária, o projeto foi realizado no segundo semestre deste ano e está em fase de finalização. Tudo começou quando Carla deu aulas em cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) que o Câmpus oferece em parceria com a Penitenciária, e ficou sabendo que alguns apenados estavam escrevendo livros. O livro, autobiográfico, foi selecionado para participar do projeto de extensão. 

Com encontros semanais, Carla e duas professoras que atuam na Penitenciária, Bruna Soarez Luiz e Patrícia França, passaram a trabalhar o texto com o autor, discutindo conjuntamente alterações, correções e novas abordagens. O resultado é um livro de sete capítulos, em que o autor narra o começo de seu envolvimento com o crime, a vida na prisão e as consequências negativas que o crime trouxe para si e para a família. A obra será ilustrada pela estudante Caroline Rosso, do Ensino Médio Técnico Integrado em Química, que leu o texto e desenhou as cenas mais importantes. Já os estudantes Danielle Serafim e Matheus Mendes, do Ensino Médio Técnico Integrado em Edificações, vão diagramar o livro sob orientação do professor de Artes, Jonathan Braga.

Ressocialização

Além do livro, o Câmpus Criciúma desenvolve outros projetos de ensino e extensão na Penitenciária Sul e na Penitenciária Feminina de Criciúma. Homens e mulheres que cumprem pena nos locais estão recebendo qualificação profissional e certificações de suas competências em trabalhos que já realizam. No dia 5 de dezembro, a apresentação de um coral feminino marcou o encerramento de outro projeto de extensão do IFSC na Penitenciária Feminina. A Penitenciária também oferece cursos de Educação de Jovens e Adultos e mantém projetos de remição de pena por leitura. O objetivo é oferecer uma alternativa para quando deixarem o sistema prisional.

“O preso não é um problema apenas do sistema prisional, mas de toda a sociedade. Ele vai voltar para a sociedade. Se aqui dentro ele participa de um projeto social, de leitura e de trabalho, ele pode acreditar nele e ser uma pessoa melhor”, lembra a diretora da Penitenciária Sul, Maira Montegutti.

Para o autor do livro, escrever o livro e poder discuti-lo com três professoras foi uma porta que se abriu. “Tudo começa pela educação. Tudo é possível quando a gente crê e tem uma oportunidade. Sem a contribuição das professoras, a nova chance ficaria só na teoria”, afirma. Com a obra, ele espera conscientizar os jovens sobre o que realmente representa entrar para o crime. “Tudo que consegui foi uma matrícula, uma camisa alaranjada e uma condenação”, lamenta.

Doutora em Letras pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com a tese Hoje é dia de visita: o testemunho carcerário brasileiro no início do século XXI, Carla avalia que o trabalho é uma forma de aplicar seu conhecimento em uma ação de caráter social, contribuindo com a ressocialização de um detento.

“Enquanto educadora, essa é minha tarefa. O IFSC, ao oferecer todo o suporte - cedendo sua servidora, dando um suporte editorial, investindo nas impressões, divulgando nosso trabalho - por extensão também está criando essa oportunidade de o sujeito mostrar que tem mais a oferecer do que as ações que o levaram à prisão e afirmar-se enquanto um outro sujeito, capaz de produzir coisas boas”, diz.

O livro terá um pré-lançamento nesta terça (18), durante a formatura dos cursos de qualificação profissional e certificação de competências realizados no segundo semestre na Penitenciária Sul.

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