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Não à discriminação racial: pesquisa auxilia na percepção de racismo na sociedade

CÂMPUS JARAGUÁ DO SUL-CENTRO Data de Publicação: 21 mar 2019 06:30 Data de Atualização: 22 mar 2019 14:22

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a data de 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. A data surge no calendário para lembrar a todos que ainda existe muito a se fazer para acabar com o racismo e com suas consequências na vida de quem é discriminado. Para conhecer mais a respeito dessas consequências e mostrar que as dificuldades vividas pela população negra são estruturais e não apenas individuais, um grupo de pesquisadoras do Câmpus Jaraguá do Sul-Centro desenvolveu um estudo que foi concluído no fim do ano passado.

Coordenado pela pedagoga Priscila Silva e pela assistente de alunos Larissa Daniel, a pesquisa mapeou todos os estudantes autodeclarados pretos ou pardos que estudaram desde 2013 em três cursos técnicos oferecidos no câmpus – ou seja, desde que o IFSC implantou a sua política de cotas. Foram, no total, 186 estudantes que se declararam pretos ou pardos na matrícula para o curso Técnico Proeja em Vestuário e para os cursos de Ensino Médio Técnico Integrados em Química e em Modelagem do Vestuário. O número inclui todos os matriculados, inclusive os que se formaram ou evadiram em algum momento do curso.

Segundo as pesquisadoras, os negros passam por vivências discriminatórias que acabam sendo naturalizadas – e, dessa forma, não são compreendidas como racismo – ou entendidas como eventos isolados. “Porém, quando a gente juntou esses alunos pra eles conversarem, percebemos que o que um passou também foi uma situação vivenciada por outros, às vezes de maneira até mais grave. Isso evidencia que o racismo não é uma questão individual, mas sim estrutural na sociedade”, destaca Priscila.

Os estudantes mapeados durante a pesquisa foram convidados a responder um questionário sobre como o racismo interferiu nas diversas áreas da sua vida. Os que responderam os questionários foram convidados a participar de rodas de conversa para aprofundar a discussão. Foram realizadas ao longo do segundo semestre de 2018 quatro rodas, cada uma com um tema específico: “Estética Negra e Transição Capilar”, “Masculinidades e Feminismo Negro”, “Cotas Raciais” e “Violência Policial”. Entre cinco e dez pessoas participaram de cada encontro.

Assunto sério

Para a estudante Karine Santos de Jesus, que foi bolsista do projeto e está na terceira fase do curso Técnico Subsequente Têxtil no período noturno, o projeto “tirou a venda dos olhos” para que ela percebesse o quão reais e frequentes são as situações racistas e que mexem com a cultura negra. “Teve uma noite que um colega fez uma piada racista e a turma riu. Eu chamei a atenção de que não tinha graça aquela piada. Mas continuaram rindo e até falaram ‘tu nem é tão negra assim’. Acabei ficando com fama de chata na turma, mas se praticar o racismo pra eles é brincadeira, então vou continuar defendendo minha origem e sendo chata”, afirma.

A percepção de Karine é confirmada pela coordenadora do projeto como o resultado esperado do trabalho. “O racismo é uma questão macro, não uma culpa do indivíduo negro. Ao darmos possibilidade de se falar sobre isso, esse processo permite que se mostre que as vivências são estruturais e, assim, a pessoa pode achar estratégias de combate”, explica a pedagoga.

Além de fortalecer os negros a partir do compartilhamento de vivências e informações, o grupo responsável pelo projeto também espera que os estudantes criem uma articulação entre si para permitir ações coletivas. “Durante as rodas de conversa já surgiu a ideia de criarmos um coletivo negro aqui no IFSC, assim como um ciclo de filmes com diretores negros e a adoção de mais autores negros no currículo escolar. Como eu estou também no grêmio, vou levar essas ideias para serem debatidas”, diz Karine.

Além de Karine, também foi bolsista do projeto “A trajetória dos estudantes negros e negras do IFSC – Câmpus Jaraguá do Sul-Centro” a aluna Beatriz Lima dos Santos, da sétima fase do Ensino Médio Técnico Integrado em Química.

Sobre 21 de março

A escolha da data como “Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial” ocorreu em referência ao “Massacre de Sharpeville”, que aconteceu em 21 de março de 1960, em Joanesburgo (África do Sul). Naquele dia, cerca de vinte mil pessoas protestaram contra a Lei do Passe – que obrigava a população negra a portar um cartão que continha os locais onde era permitida a sua circulação – e, mesmo sendo uma manifestação pacífica, a polícia do regime de apartheid abriu fogo sobre a multidão e matou 69 pessoas. Outros 186 manifestantes acabaram feridos.

Legislação no Brasil

A legislação brasileira instituiu os primeiros conceitos de racismo em 1951 com a Lei Afonso Arinos (1.390/51) que classificava a prática como contravenção penal. Porém, somente com a Constituição Federal de 1988 e com a Lei Caó (7.716/89) o racismo passou a ser crime, inclusive com pena de reclusão.

Uma das mais importantes atualizações da legislação desde a Lei Caó foi a criação, em 2010, do Estatuto da Igualdade Racial (12.288/2010), sancionada com o objetivo de “garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica”.

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