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Iniciativa para combater o suicídio leva alunas do Câmpus Xanxerê para semifinal de desafio internacional

ENSINO Data de Publicação: 18 jun 2019 08:30 Data de Atualização: 18 jun 2019 08:39

Cinco alunas do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) estão na semifinal de uma competição internacional apenas para meninas, o Technovation Challenge. O grupo estuda no ensino médio técnico do Câmpus Xanxerê e decidiu unir dois desafios: aprender programação e combater o suicídio.

O desafio internacional de programação para meninas, no qual a equipe de inscreveu, ocorre anualmente e conta com milhares de participantes no mundo todo. Para se ter uma ideia, o número de inscritas costuma girar em torno de 19 mil em duas categorias: júnior (10 a 14 anos) e sênior (15 a 18 anos). Na edição deste ano, o Brasil conseguiu classificar nove equipes na divisão sênior (incluindo a equipe Powerful Daisies, de Xanxerê) e seis na divisão júnior.

Das 15 equipes semifinalistas brasileiras, três são de Santa Catarina. Além da equipe de Xanxerê, grupos de Luzerna e de Florianópolis também concorrem na semifinal. O resultado das finalistas será divulgado no dia 24 de junho. É nesta data que serão conhecidas as seis equipes de todo o mundo que apresentarão o aplicativo durante a grande final, na Califórnia, nos Estados Unidos, no mês de agosto.

A equipe de Xanxerê concorre com o aplicativo para celular intitulado “Safe Tears” (Lágrimas Seguras). “Nós sempre pensamos em temas com o objetivo de ajudar as pessoas. Pensamos em depressão, distúrbios alimentares e percebemos que todos esses transtornos poderiam levar ao suicídio. A partir daí, começamos a pesquisar mais sobre o assunto e verificamos que os índices de suicídio eram muito altos, principalmente na nossa região, e na adolescência esse índice estava aumentando consideravelmente”, lembra a estudante Anna Carolina Ferronato da Silva, que se uniu com outras quatro alunas do ensino médio técnico para desenvolver a ideia: Ana Júlia Giacomeli, Clara Noemi Pithon da Silva, Emanuela Martins Maraskin e Jhuly Kefny da Silva Carvalho.

Durante o planejamento e execução do projeto, as alunas puderam evoluir na área de informática, desenvolvendo um aplicativo do início ao fim com o auxílio do professor e mentor Alex Weber. E também abordar o assunto do suicídio, com o auxílio da psicóloga do câmpus. “Elas me procuraram e fizemos um mini-curso para que elas fossem capacitadas para falar sobre o assunto. Também orientei leituras básicas e visitamos o Centro de Valorização da Vida (CVV) de Chapecó. Depois disso tudo, fizemos juntas as mensagens que iriam para o aplicativo como orientações aos usuários”, conta a psicóloga do Câmpus Xanxerê do IFSC, Cristina Folster.

Na prática, o aplicativo tem como funcionalidade principal um copo com lágrimas que ajuda os jovens a monitorar seu estado emocional. “Para esse monitoramento basta acrescentar ou retirar ‘lágrimas’ do copo. O nível de lágrimas no copo vai subindo (ou descendo) de acordo com o que o jovem está sentido. E diferentes níveis geram mensagens de apoio, alertas, dicas de encaminhamentos e até sugestões de busca por auxílio profissional”, relata o professor de Informática do Câmpus Xanxerê e mentor do grupo, Alex Weber.

Atenção maior: meninos jovens

A ideia do grupo de Xanxerê surgiu porque o número de suicídios é cada vez mais preocupante. O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, mostra que, somados os últimos 20 anos, foram registrados 11.621 suicídios em Santa Catarina. Somente em 2018, foram confirmados 731 suicídios no estado. Cinco anos antes (2013), foram 573. Há 10 anos, 487. Há 15 anos, foram 405. E, há 20 anos, as mortes por este motivo foram 398.

Ao analisar os números, é possível inferir que, até o início dos anos 2000, o número de suicídios aumentava em torno de 1% a 2% a cada cinco anos. A partir de 2003, o percentual começou a subir drasticamente, chegando a 15% se comparado os dados de 2008 e 2013. Depois desse período, os números não pararam mais de aumentar e, quando comparamos 2018 com cinco anos antes (2013), o aumento foi de 22%. Em outras palavras: não é apenas uma “impressão”. O número de suicídios está crescendo, e muito.

“Importantíssimo que o assunto suicídio seja abordado entre os adolescentes com conhecimento e sensibilidade, pois os índices de suicídio e tentativas de suicídio nessa idade estão aumentando muito”, relata a psicóloga Cristina.

A psicóloga aponta que várias publicações e estudos tentam explicar esse crescimento (negativo) entre os mais jovens. Os principais motivos giram em torno dos seguintes motivos: 1) as crianças e adolescentes estão cada vez mais sozinhos em casa; 2) há pouco diálogo/abertura com os pais e familiares para falar sobre questões emocionais; 3) crianças/adolescentes que crescem sem saber o que é frustração (o "não") e então não sabem lidar com as adversidades da vida; 4) mal uso da internet; 5) relações cada vez mais líquidas.

Outra preocupação gira em torno dos meninos e homens. O número de suicídios entre eles é muito maior do que entre as meninas/mulheres. Uma das principais explicações está no fato de que elas falam e confidenciam mais do que eles. “As meninas relatam às amigas ou me procuram quando não estão bem e relatam quando pensam em suicídio, então consigo realizar uma intervenção. Já os meninos procuram menos, não comentam o que pensam com os outros, como se fosse sinal de fraqueza”, conta Cristina.

Como auxiliar na prevenção

1) “A pessoa que pensa em suicídio, na verdade, não quer acabar com a própria vida e sim com o sofrimento ao qual está passando. Se ela perceber que há outras saídas e pessoas que podem ajudá-la, ela não irá cometer suicídio”, afirma a psicóloga Cristina;

2) Se alguém relatar que está pensando em suicídio, a pessoa deve ouvir sem julgamentos e dar importância ao que está escutando. Nunca minimizar como, por exemplo, comparar os sofrimentos ("tem gente que não tem nem o que comer e você aí sofrendo por causa de um namoro” ou “isso não é nada vai passar”);

3) Mostrar para a pessoa que está sofrendo que ela não está sozinha. E acompanhá-la ao procurar ajuda profissional;

4) Leia e busque auxílio sobre o tema no Centro de Valorização da Vida (CVV). Segundo o CVV, 90% dos suicídios podem ser prevenidos.

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