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Boca de Siri faz 25 anos e é o mais antigo grupo de teatro de escola pública em SC

INSTITUCIONAL Data de Publicação: 13 mar 2020 11:10 Data de Atualização: 13 mar 2020 13:40

Em março deste ano, o grupo teatral Boca de Siri, do Câmpus Florianópolis, completa 25 anos. É o mais antigo grupo de teatro escolar em atividade, se contarmos apenas as escolas públicas – há um grupo no Colégio Catarinense com a mesma idade.

Durante todo o ano, serão realizados eventos para marcar a data, com início nesta sexta, dia 13. A comemoração de hoje inclui recepção e bolo de aniversário, exposição de acervos do grupo, homenagens e apresentações de cenas e jogos teatrais. Será a partir das 19h, no teatro Alberto Aparecido Barbosa, no próprio câmpus (Avenida Mauro Ramos, 950).

“Manter essa atividade por 25 anos, para nós, é manter à disponibilidade da comunidade, tanto interna quanto externa, a possibilidade do fazer artístico. E a instituição, quando abre espaço para que isso aconteça dentro do ambiente acadêmico, mostra que a formação oferecida por ela é uma formação humana”, destaca Alex de Souza, atual coordenador do Boca. “É preciso destacar que nosso objetivo principal não é formar artistas, mas trabalhar, por meio de conceitos artísticos, princípios e valores, como por exemplo, a alteridade: se colocar no lugar do outro, pensar como sente e age o outro. Isso dá uma outra abertura de olhar para o mundo”.

Um dos princípios trabalhados com afinco é a autonomia. No Boca de Siri, os integrantes aprendem a procurar soluções para as mais diferentes questões. “E, na busca dessa autonomia, é uma necessidade desenvolver a criatividade”, destaca Alex. “A gente entende também que, apesar de estarmos complementando uma formação profissionalizante, de quem está fazendo o Médio Técnico, nosso trabalho é fornecer uma formação séria, não estamos só brincando de fazer teatro”.

O professor ressalta que, ao longo de sua passagem pelo Boca de Siri, os participantes entendem todas as etapas da montagem, desde a seleção do tema, do texto, a forma que será apresentado, para qual público, em qual espaço, até a desmontagem. “O evento de hoje, por exemplo, está sendo trabalhado há duas semanas. Fizemos escalas de serviço, revezamento das tarefas e todo o planejamento para que a desmontagem encerre às 22h, quando fecha o câmpus”.

Outra função do grupo teatral do Câmpus Florianópolis é ser campo de experiência para o curso de graduação em teatro da Udesc. Na realização de estágio, a maior parte dos estudantes acaba trabalhando em escolas, e é um diferencial poder estagiar em um grupo de teatro com atividades consistentes e permanentes. O Boca de Siri recebe, por ano, de seis a 10 estagiários da Udesc e a intenção é firmar um acordo de cooperação entre as instituições para que passem a atuar também estagiários do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid).

Criado em 1995, o Boca tomou impulso ainda maior com a integração do Teatro ao currículo obrigatório de todos os cursos de Ensino Médio Técnico a partir do ano 2000. “Com mais alunos tendo contato, ainda que obrigatório no começo, o interesse em participar aumenta. Em uma única turma do ano passado, por exemplo, quatro dos estudantes pediram para integrar o grupo este semestre”, diz Alex. De acordo com os registros, cerca de 750 pessoas passaram pelo Boca de Siri no período.

Para ele, a curricularização do teatro também ajudou pois foi a partir desse ano que a escola passou a ter uma Sala de Teatro, adequada para os ensaios. “Antes, os ensaios eram feitos em salas, no pátio, onde fosse possível”.

Outra “fonte” de futuros atores são as oficinas gratuitas oferecidas ao público. Qualquer pessoa a partir de 12 anos, mesmo sem experiência teatral, pode participar. Hoje elas integram o LaTTe – Laboratório de Técnicas Teatrais e está com inscrições abertas para três turmas: Laboratório de Iniciação Teatral, Laboratório de Improvisação e Jogos Teatrais e Laboratório de Formas Animadas. Para saber mais, clique aqui.

Sobre o grupo

A iniciativa de propor o teatro na escola foi da professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira Noêmia Brandt Brall. Para ela, as artes cênicas fazem parte da formação do estudante: “há que se considerar que a arte gera conhecimento. Há que se entender que é necessário desenvolver no aluno a criatividade, o pensamento crítico e a reflexão ética”, citou em entrevista para um projeto de memórias do IFSC.

Ela lembrou que o desejo surgiu em 1992, quando o IFSC ainda se chamava Escola Técnica Federal de Santa Catarina (ETFSC), mas esse primeiro projeto não foi levado adiante. Em setembro de 1994, durante a Semana da Escola, foi promovida a 1ª Mostra do Potencial Educativo, com exposição de trabalhos dos alunos dos mais diversos cursos, inclusive o lançamento do livro “Crônicas e Poesias” e exposição de camisetas com frases de autoria dos alunos. “Como havia trabalhos escritos de nossos alunos, tomei a iniciativa de promover uma atividade oral, pois vários deles demonstravam talento para o teatro e declamação de poemas”, recorda. Assim, foi realizado o “Panorama da Literatura”, com os alunos declamando poesias e contos trabalhados previamente em sala de aula. “A apresentação foi coroada de sucesso e elogios!”, lembra Noêmia.

A então diretora da Escola Técnica, Soni de Carvalho, ficou emocionada com a atividade, especialmente com a interpretação de parte do poema “I Juca Pirama”, de Gonçalves Dias. Noêmia respondeu que o projeto já existia, e foi incentivada a reapresentá-lo, com o título “Motivando o Teatro na Escola”. Noêmia lembra que o professor Sérgio Cândido, hoje ator de renome, já havia tentado criar um grupo de teatro na escola, mas faltava o espaço físico. Mesmo assim o projeto foi aprovado pelo Conselho da Escola e levado adiante, especialmente pelo empenho da então diretora: “Soni, com sua coragem, sua perspicácia, sua sabedoria e sua determinação conduziu a Escola de maneira moderna, arrojada, dando início na comunidade escolar a um verdadeiro processo democrático”.

A peça “No Senadinho” marcou a estreia do grupo. Foi baseada em autores que se manifestavam sobre Florianópolis e tornou-se um grande espetáculo, que mobilizou a literatura, a música e o canto, com a presença de mais de 50 alunos participantes, com destaque para o Coral, regido pelo maestro Carlos Lucas Besen. Foi também a peça que lançou o nome do grupo, “Boca de Siri”, a partir do conto policial “Boca de Siri – o caso da pasta preta”, de Glauco Rodrigues Correa, professor de Literatura da UFSC e professor de muitos colegas de Português da Escola Técnica.

Em julho de 1999, a escola realizou a “Estação das Artes”, uma semana de atividades artísticas como artes cênicas, música, artes plásticas e canto. Como a morte de Lindolf Bell em 5 de dezembro de 1998, o autor foi o tema central do evento. Um dos destaques foi a exposição de camisetas engomadas com resina com frases de suas obras, intitulada “Corpoemaimagem de Lindolf Bell”. “Foi algo inédito na Escola, tudo centralizado em seu ginásio de esportes”, recorda Noêmia. Várias escolas visitaram a Exposição, participando inclusive da Mostra de Teatro, com 20 grupos da Grande Florianópolis.

Noêmia recorda de outro espetáculo de grande repercussão, que foi a peça “O Contestado”, de Romário José Borelli, dirigida por Leon de Paula, que também foi diretor do “Boca de Siri”. O espetáculo contou com apoio financeiro do governo do Estado, o que possibilitou a sua apresentação em várias outras escolas. Foi iniciativa do então governador Espiridião Amin apoiar o grupo.

Outra professora que marcou a história do grupo teatral foi Tânia Meyer. Ela coordenou a trupe do fim da década de 90 até 2019. “Para nós é muito importante lembrar os anos durante os quais estamos levando teatro e cultura à população. É muito tempo em um país em que a cultura não é tão valorizada. E, especialmente no Câmpus Florianópolis, temos a rara combinação de ensino técnico e tecnológico com arte, e é difícil achar a estrutura que temos para o desenvolvimento de atividades artísticas em outras escolas do tipo”, disse a professora em entrevista.

Você pode conhecer um pouco mais dessa estória no documentário da IFSC TV.

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