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Projeto prevê sistema para evitar contaminação de profissionais de saúde pelo novo coronavírus

PESQUISA Data de Publicação: 19 abr 2020 11:05 Data de Atualização: 19 abr 2020 11:45

Evitar a contaminação de profissionais de saúde pelo novo coronavírus por meio do ar é o objetivo de um projeto do Câmpus São José do IFSC aprovado na chamada emergencial para propostas de enfrentamento à pandemia de covid-19 (novo coronavírus). O sistema propõe monitoramento e controle em tempo real de agentes infecciosos presentes no ar em ambientes hospitalares e tem como objetivo ser implantado na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional de São José, que tem um espaço destinado ao tratamento de pessoas infectadas pela covid-19.

O adoecimento dos profissionais tem sido uma das causas do colapso dos sistemas de saúde causados pela covid-19 em vários países. Autor da proposta, o professor Marcelo Luiz Pereira explica que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o percentual de trabalhadores da saúde afetados pela covid-19 varia entre 8% e 10%. Na Itália, por exemplo, morreram até a última sexta-feira, 17 de abril, 131 médicos, 34 enfermeiros e 10 farmacêuticos por causa da pandemia, de acordo com a agência de notícias italiana Ansa.

O projeto consiste no desenvolvimento de um sistema de monitoramento e controle em tempo real  da concentração no ar de agentes infecciosos, em especial o coronavírus, em hospitais. A construção do sistema é baseada na tecnologia Arduino e, por meio dele, sensores de partículas, dióxido de carbono (CO2), temperatura e umidade farão a leitura e o registro desses parâmetros em tempo real. Os dados serão processados e enviados para um computador, que vai estimar automaticamente o percentual de riscos de infecção dos ocupantes daquele espaço.

“Diante disso, em situação de alto risco, o sistema emitirá um sinal de alerta e poderá acionar um sistema de ventilação e exaustão para a eliminação desses agentes, garantido assim, a segurança dos ocupantes”, comenta Marcelo. O sistema de ventilação e exaustão que será acionado pelo monitoramento também faz parte do projeto. A iniciativa tem participação também de outros dois professores do Câmpus São José do IFSC (Rogério Vilain e Rubem Toledo Bergamo) e do professor Saulo Güths, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Situações de risco e soluções

No levantamento de informações para realizar a proposta, o professor Marcelo Pereira observou que, entre os momentos que mais geram risco aos profissionais de saúde, estão coleta de exames, intubação, endoscopias, aspirações e trocas de tubulações de aparelhos de ventilação mecânica. “A carga viral disseminada no ambiente é elevadíssima, fazendo com que a presença deste tipo de coronavírus esteja presente no ar e em superfícies de diferentes materiais em elevadas concentrações”, conta. Segundo pesquisas, o vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19, pode sobreviver por até três horas no ar e até três dias em superfícies feitas de materiais como plástico e aço inoxidável.

Um bom sistema de ventilação é uma das medidas de proteção que podem ser adotadas para diminuir os riscos, pois pode remover as partículas de forma eficiente pelo sistema de condicionamento de ar. “É importante que haja uma boa ventilação dos ambientes, com uma freqüente renovação de ar e com sistemas de exaustão que forcem a sua saída do edifício para evitar a recirculação do ar infectado. Quanto maior a diluição e a remoção das partículas infectantes do ar ambiente, menor o risco de transmissão do coronavírus”, destaca o professor do IFSC.

De acordo com as pesquisas feitas por ele, sistemas de condicionamento de ar utilizados inadequadamente fazem com que os microrganismos carregados pelas gotículas ou pelas partículas de poeira se depositem sobre roupas, instrumentos e superfície ou podem, ainda, ser inalados pelos profissionais e causar ou agravar doenças.

Os sensores do sistema proposto não vão identificar diretamente as partículas do novo coronavírus, mas monitorar a concentração total de partículas menores que cinco micrometros (um micrometro é um metro dividido por um milhão). Isso porque as pesquisas apontam que o Sars-CoV-2 está presente no ar em partículas com tamanho entre 1 a 5 micrometros. “Além disso, a literatura sugere que existe uma correlação entre a concentração total de partículas e a concentração de partículas infecciosas, assim como existe uma correlação entre ventilação e a concentração de partículas infecciosas”, diz Marcelo.

Ineditismo e aplicação

Segundo o professor Marcelo Pereira, o projeto é inédito e já teve autorização do Hospital Regional de São José para ser iniciado, após reunião na última quinta-feira, 16 de abril. O primeiro teste será feito no ambulatório de broncoscopia (exame que permite a visualização e a realização de procedimentos terapêuticos e diagnósticos no aparelho respiratório), um setor com grande geração de aerossóis (partículas menores do que as gotículas, capazes de permanecer em suspensão no ar por períodos prolongados).

O primeiro passo para construir o sistema é avaliar as características gerais do ambiente: localização no edifício, dimensões, equipamentos instalados, tipo de sistema de tratamento de ar adotado e suas características gerais e o tempo de funcionamento do sistema. Depois, serão coletados dados como temperatura e umidade do ar, quantidade de pessoas na equipe médica, velocidade do ar e forma de movimentação, gradientes de temperatura (grandeza utilizada para descrever a direção e a taxa de variação de temperatura em uma área), número de partículas em suspensão e concentração de CO2, entre outros.

“É necessário analisar a importância de cada fator sobre a variável em estudo, a contaminação, e propiciar que nenhum fator essencial seja omitido e para uma melhor compreensão do grau de relacionamento entre os dados medidos”, destaca Marcelo. O resultado esperado é que, com um controle maior da qualidade do ar em ambientes hospitalares, a possibilidade de visitantes, profissionais de saúde e pacientes adquirirem infecção seja menor e conseqüentemente a dinâmica de suas vidas e de suas famílias sofra menos impacto.

Outro aspecto positivo do projeto apontado pelo professor é a economia que se pode ter com a diminuição de infecções hospitalares. “Estes recursos podem ser destinados à melhoria da infraestrutura hospitalar, na manutenção dos que já estão em funcionamento, na contratação de mais funcionários, enfim, na melhoria de um modo geral na vida da população”, ressalta.

Por meio da chamada emergencial do IFSC, o projeto receberá R$ 38 mil em recursos para ser implantado.
 

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