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Curso de extensão traz história de movimento artístico surdo

CÂMPUS PALHOÇA BILÍNGUE Data de Publicação: 18 fev 2022 16:50 Data de Atualização: 18 fev 2022 17:08

O Câmpus Palhoça Bilíngue lançou, por meio de um projeto de extensão, o curso online  “História Visual dos Povos Surdos: Contribuições do Movimento De’VIA”. O curso, que é aberto a qualquer participante (sem necessidade de inscrição) e tem duração de 4 horas, conta a história do movimento artístico Deaf View Image Art (De’VIA, cuja tradução em português é “Imagem e Arte na Perspectiva Surda”) e as suas contribuições para a construção de uma narrativa surda sobre sua história e sua surdidade. O curso também se aprofunda na contribuição de mulheres surdas para os movimentos políticos das comunidades surdas.

Para participar do curso, acesse artedevia.wordpress.com. Não há prazo de início e fim - o estudante pode realizar as atividades no seu tempo, e ao final, gerar o seu certificado. O público a que ele se destina é a comunidade acadêmica em geral, em especial a comunidade surda, pelo fato de serem oferecidos conteúdos em língua brasileira de sinais (Libras) e em português. O curso de extensão foi pensado em formato MOOC (Massive Open Online Course, ou “Curso Online Aberto e Massivo”, em português), para atender a um público diverso, autoinstrucional e sem necessidade de tutoria.

Vídeo de divulgação do curso, em Libras:



O curso é um desdobramento da pesquisa de doutorado da professora Gabriele Vieira Neves, coordenadora do projeto de extensão, na qual ela investigou as estratégias de resistência política da surdidade na produção de imagens de crianças surdas na arte De’VIA. “Após a defesa da tese, senti que era importante socializar os conhecimentos acadêmicos produzidos e torná-los mais acessíveis para o público em geral, em especial para a comunidade surda. Fizemos um trabalho de transposição didática, transformando o texto teórico em um conteúdo mais visual e traduzido para a Libras, sem perder de vista o teor acadêmico”, explica Gabriele.

Conforme mencionado no curso, os artistas do movimento De’VIA, criado nos Estados Unidos, “intencionavam expor a sua experiência de ser surdo, as formas como se relacionam entre si e com a sociedade majoritariamente ouvinte”. Entre as características das produções do movimento, estão: imagens de mãos, olhos (lembrando a modalidade gestual das línguas de sinais), bocas e orelhas (essas duas partes do corpo simbolizando as formas de comunicação impostas aos surdos ao longo da história); cores fortes, contrastes, foco nas expressões faciais, escala humana de forma exagerada; e experiências de audiometria, oralização nas escolas, proibição do uso da língua de sinais, uso de aparelhos auditivos, implantes cocleares. A arte De’VIA é encontrada em pintura, escultura, cinema, teatro e poesia.

A principal contribuição da linguagem artística visual, segundo a professora Gabriele Neves, é tornar possível a exposição da contranarrativa surda sobre sua história e sua surdidade, independentemente da língua e da necessidade de tradução. “Os surdos vivem imersos num mundo de pessoas que, na grande maioria, não entendem a língua de sinais e mesmo assim constroem diferentes teorias e narrativas sobre o que é ser surdo. Transcender a barreira linguística e expor sua diferença pela arte transforma o fazer artístico em luta política. Quando uma pessoa surda se propõe a fazer arte, ela está resistindo ao silenciamento que lhe foi historicamente infligido pela lógica da normalidade”, comenta.

Participaram do projeto, além da professora Gabriele Vieira Neves: duas bolsistas do curso técnico integrado em Comunicação Visual (Kailani dos Santos da Silva, que é surda, e Maria Eduarda Gonsalves Rodrigues, que é ouvinte); o egresso do curso superior de tecnologia em Produção Multimídia Darley Goulart Nunes (surdo); e a tradutora-intérprete de Libras Camila Cardoso Fernandes, que atuou no Câmpus Palhoça Bilíngue até o ano passado.

Mais informações sobre o curso podem ser encontradas no site artedevia.wordpress.com ou obtidas com a coordenadora pelo e-mail gabriele.neves@ifsc.edu.br.

Surdidade

O termo surdidade (em inglês, deafhood), que aparece neste texto e ao longo do curso de extensão, foi criado foi criado em 1990 por Paddy Ladd, um pesquisador surdo, para definir o estado de existência de ser-surdo-no-mundo. “Até então, o termo médico ‘surdez’ era utilizado para enquadrar na categoria de deficiência auditiva toda a experiência de ser surdo”, lembra a professora Gabriele Neves. A palavra surdidade não designa um estado finito e essencial, mas um processo pelo qual os surdos concretizam as suas identidades surdas.

“Diferentemente da condição médica e estática que o termo ‘surdez’, a surdidade representa um processo”, complementa Gabriele. “Em síntese, ela significa reconhecer-se surdo para além da ideia de normalidade e de deficiência: é ser culturalmente surdo, ter orgulho de ser surdo, de usar a língua de sinais e de participar politicamente de uma comunidade”, finaliza.
 

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