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Dia Mundial da Água: e você com isso?

BLOG DO IFSC Data de Publicação: 22 mar 2022 08:51 Data de Atualização: 16 dez 2022 08:41

Neste dia 22 de março comemoramos o Dia Mundial da Água. A data foi criada durante uma Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992 e tem por objetivo fomentar a discussão sobre assuntos importantes relacionados a esse recurso natural. A água é um dos elementos mais importantes para a vida no planeta. Isso porque é ela que permite que a terra se torne fértil e possa ser cultivada, é também o habitat de inúmeros animais e, além de tudo isso, elemento abundante no corpo dos seres vivos. Em resumo, sem água, sem vida.

-> Sabia que a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico criou uma playlist na plataforma Spotify com músicas brasileiras que nos inspiram a refletir sobre a importância da água doce? Ouça aqui.

Para falar deste tema tão importante, conversamos com os professores Débora Brentano e Reginaldo Jacques, do Câmpus Florianópolis, e com a Mariana de Souza, egressa do curso técnico em Saneamento, também do Câmpus Florianópolis, e que criou o canal no Instagram @saneamari

Cadê a água que estava aqui?

Apesar da importância das águas, ainda há muito a ser feito em relação à conscientização e preservação do ecossistema aquático no mundo. Não basta usar a água de maneira consciente, é preciso preservar nascentes e evitar a poluição hídrica, um problema social. A professora Débora Brentano, professora do curso técnico em Meio Ambiente, em Saneamento e do Mestrado em Clima e Ambiente do Câmpus Florianópolis, nos explicou que é possível olhar para esse recurso sob diferentes dimensões: a humana, a econômica, a ecossistêmica e a de resiliência

Nessa perspectiva, são contemplados o uso da água para as atividades domésticas (dimensão humana), para as indústrias, agricultura e pecuária (dimensão econômica), assim como para a manutenção da flora e da fauna (dimensão ecossistêmica). Há ainda a questão da preservação de um percentual de água para que o ciclo seja mantido, ou seja, ao armazenar água é necessário deixar que um percentual siga o fluxo normal para o equilíbrio do sistema. A ação do homem tem impacto direto em todas essas dimensões.
 

No Brasil, 15% dos recursos hídricos “desapareceram” nos últimos 30 anos, conforme o relatório do Mapbiomas. Isso significa a perda de 3,1 milhões de hectares de água em 30 anos. O resultado é o racionamento hídrico nos centros urbanos, o aumento de queimadas, o impacto na produção de alimentos e na produção de energia. Esse volume que “sumiu” corresponde às canalizações, aterramentos e à poluição que tornou a água imprópria para todas as dimensões de vida.

-> Professores do IFSC explicam porque a crise na geração de energia é grave e como isso afeta seu bolso: leia esta reportagem especial 

A consequência da poluição hídrica

A poluição hídrica corresponde ao processo de contaminação ou deposição de rejeitos em rios, lagos, córregos, nascentes, mares e oceanos. Entre as principais causas estão o esgoto doméstico, as atividades industriais, o uso indiscriminado de agrotóxicos e a pecuária. Para se ter a real dimensão do problema, os dados apresentados no Mapa da Água demonstram que a água da torneira tem produtos químicos e radioativos em 763 cidades brasileiras, inclusive em cidades de Santa Catarina. Ou seja, milhões de brasileiros ingerem todos os dias doses de substâncias que podem desencadear doenças como câncer, mutações genéticas, problemas hormonais, nos rins, fígado e no sistema nervoso.

De maneira complementar, os dados do relatório sobre o ranking de saneamento no Brasil do Trata Brasil apontam que quase 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e cerca de 100 milhões não têm serviço de coleta de esgotos no país. Débora reforça que quanto pior a qualidade da água, maior o custo público com saúde. Isso porque mais de 70% das internações estão relacionadas à ingestão de água imprópria, que pode ser desde o consumo direto ou no uso para lavar frutas e verduras, assim como nos banhos de rio ou mar de água imprópria.

Quer saber mais sobre o assunto? Conheça algumas iniciativas desenvolvidas no IFSC:

-> Preservação dos rios: a importância das pesquisas de monitoramento para a qualidade da água em Canoinhas
->Estudantes realizam pesquisa para identificar a presença de pesticidas na água de abastecimento de Itajaí
->Pesquisadores do Câmpus Lages que buscam soluções para tratamento de resíduos líquidos

O problema do esgoto doméstico

A falta de acesso à água potável e a falta de saneamento básico são fatores que impactam diretamente na saúde e na qualidade de vida. Em Florianópolis, por exemplo, 35,2% da cidade não possui sistema de esgoto, ou seja, são 176 mil pessoas que não possuem saneamento básico e acabam contribuindo para a poluição das águas, segundo o relatório do Trata Brasil (2021).  

Ainda assim, a capital está entre as cidades com a maior rede de esgoto. Em nível catarinense, 173 dos 295 municípios não possuem rede de coleta de esgoto, segundo IBGE (2020), o que representa quase 60% das cidades catarinenses.  

O esgoto doméstico não tratado é o principal poluente das águas. A professora Débora nos explicou que o esgoto doméstico contém material orgânico e substâncias químicas. O material orgânico é proveniente das excreções como fezes e urina, bem como restos de alimentos. Já as substâncias químicas estão presentes na medicação não absorvida pelo corpo (que é excretada com a urina), além dos produtos para limpeza. 

Veja o que a professora Débora nos ressaltou sobre o fósforo presente no detergente que tem grande impacto ambiental: 

“Em um ambiente que tem a presença do fósforo acontece a eutrofização, que é o aumento de algas e plânctons. O fósforo serve de nutriente a esses micro-organismos que se reproduzem abundantemente”.  

O processo pode levar ao acúmulo desses organismos na superfície da água e impedir a entrada de luz, matando os organismos que fazem fotossíntese e habitam o fundo das águas. Além disso, há a possibilidade do desenvolvimento de algas tóxicas que acabam com espécies aquáticas e causam o desequilíbrio do ecossistema. 

Reginaldo Jaques, professor do curso técnico em saneamento do Câmpus Florianópolis, nos citou outro problema da poluição da água pelos esgotos domésticos:  

“Em grandes concentrações de carga orgânica, diminui-se a quantidade de oxigênio presente na água, podendo chegar a níveis que causem a morte de peixes e outros organismos aquáticos”. 

Mas, além do perigo para o ecossistema aquático, o esgoto não tratado representa perigo também para os seres humanos. Isso porque além de matéria orgânica, as excreções humanas podem conter protozoários e bactérias. Esses organismos sobrevivem em meio líquido e podem causar doenças como disenteria bacteriana, amebíase, ascaridíase, hepatite A e leptospirose. 

As doenças de veiculação hídrica são transmitidas por meio da ingestão, mas também do contato com a água contaminada. E esse problema acaba sendo comum entre populações em situação de vulnerabilidade social, principalmente pela falta de estruturas de tratamento ou de contenção desses dejetos e pela falta de acesso à água potável de qualidade. 

Infelizmente o problema é de difícil solução. Isso porque além da necessidade de se criar uma consciência ambiental, as ações como implantação de um sistema de esgoto dependem dos governos. Mas, ainda assim, é possível minimizar os efeitos prejudiciais com a construção de fossas sépticas ou sumidouros.

Fossas sépticas

As fossas são “tanques” que ficam abaixo do solo, recebendo e tratando o esgoto doméstico. O processo inicia com a decantação dos materiais sólidos e a degradação da matéria orgânica pelas bactérias anaeróbias presentes no esgoto. O tratamento, conforme explica Reginaldo, reduz cerca de 50% a carga orgânica do esgoto. Por isso, depois da fossa se deve ter tratamentos complementares, como o filtro anaeróbio e o sumidouro. Pode-se utilizar sumidouro ou valas de infiltração para infiltrar o esgoto tratado no solo. 

Esse sistema (fossa e sumidouro) deve ser construído a uma distância mínima de 1,50m do lençol freático e pelo menos 15m de poços de água. Recomenda-se ainda que as fossas fiquem pelo menos a 5 metros da residência e na parte baixa do terreno, evitando o mau-cheiro e contaminação em caso de vazamento. Já em relação ao tamanho, varia conforme o número de pessoas na casa, mas possuem em média 2m³ e as estruturas podem ser construídas com tijolo (revestido de cimento) ou de plástico, sendo possível comprar modelos pré-fabricados ou já prontos. 

O professor Reginaldo nos destacou não apenas a importância do tratamento de esgoto adequado, como também a necessidade da manutenção adequada das fossas. Isso porque essas estruturas necessitam de esvaziamento, que deve ser feito por empresas especializadas que darão o destino correto a esse material.  

Infelizmente, por vezes, as pessoas fazem ligações irregulares e proibidas das fossas às redes de drenagem pluvial. Nessa situação, o esgoto é levado pelas galerias subterrâneas contaminando rios e mares. E vale lembrar que a água que chega até as torneiras vem desses mesmos rios que recebem a contaminação dos esgotos domésticos, das indústrias, da agricultura e da pecuária. Embora a água passe por tratamentos, algumas das substâncias não são neutralizadas. E no caso da água mineral, retirada das camadas mais profundas do solo, também esta está passível de contaminação pela infiltração desses poluentes. 

-> O que é um imóvel regular à rede de esgoto: nossa egressa explica! 

Precisamos falar sobre isso 

Você sabia que o esgoto era tão prejudicial às águas? Ou ainda que a fossa séptica precisa ser limpa periodicamente? E essa é só a ponta da discussão sobre o uso consciente da água, dos processos envolvidos no tratamento do nosso esgoto e no destino do lixo produzido em nossas casas. A quantidade de assuntos é bastante grande e tem impacto direto no meio ambiente. Pensando nisso, Mariana de Souza, aluna formada no curso técnico em Saneamento do câmpus Florianópolis, criou o canal no Instagram @saneamari.  

Print do perfil do Instagram de egressa @saneamari

A ideia de criar o canal surgiu a partir do incentivo de amigas para que ela levasse a mais pessoas essas informações úteis. O canal saiu do papel com a pandemia e a paralisação das aulas, permitindo que ela se dedicasse ao projeto. Nele são abordados diversos assuntos como: saneamento (água, esgoto, drenagem e resíduos), maneiras de separar o lixo em casa, inclusive o que fazer com os resíduos especiais como lâmpadas, pilhas e baterias, óleo de cozinha usado, aborda ainda questões envolvendo a água (potável ou não) que consumimos. 

 

 

Mariana cita o exemplo das fossas para reforçar a importância de se falar sobre isso: 
 

“As pessoas só lembram que precisa limpar [a fossa] quando ela extravasa no terreno. Então saber qual a rotina de limpeza (e isso vai depender do projeto - volume e número de pessoas utilizando) é muito importante para manter a qualidade ambiental do local. São nessas coisas que eu passei a criar gosto por criar os conteúdos, porque é muito do nosso dia a dia e faz diferença termos acesso a essa informação”. 

-> O que significa a cor do saco de lixo: veja um exemplo do conteúdo produzido pela Mari 

Cursos do IFSC relacionados à água 

Você gosta desta temática? Pois saiba que aqui no IFSC temos cursos em que esse tema é abordado. São eles: 

- Curso técnico em Aquicultura (Câmpus Itajaí)
- Curso técnico em Meio Ambiente (Câmpus Florianópolis)
- Curso técnico em Recursos Pesqueiros (Câmpus Itajaí)
- Curso técnico em Saneamento (Câmpus Florianópolis)
- Técnico integrado em Química (Câmpus Florianópolis, Gaspar e Jaraguá do Sul - Centro)
- Técnico Concomitante em Meio Ambiente (Câmpus Criciúma).
- Superior tecnólogo em Gestão Ambiental (Câmpus Garopaba)
- Superior tecnólogo em Sistemas de Energia (Câmpus Florianópolis)
- Superior tecnólogo em Química (Câmpus São José)
- Mestrado em Clima e Ambiente (Câmpus Florianópolis, Itajaí e Garopaba)
- Mestrado em Sistemas de Energia (Câmpus Florianópolis)

Conheça outros cursos no nosso Guia de Cursos do IFSC

Projetos do IFSC 

A temática água também é objeto de estudo em projetos de pesquisa e extensão no IFSC. Conheça alguns projetos: 

- Estudo da radioatividade de águas minerais destinadas ao consumo humano (Câmpus Florianópolis)
- Monitoramento da turbidez em águas tratadas da cidade de Joinville (Câmpus Joinville)
- Desenvolvimento de tecnologia utilizando drone para monitoramento de qualidade de água em piscicultura (Câmpus Criciúma)
- Impressão 3D de Reservatórios de Distribuição de Água (Câmpus Florianópolis)
- Desenvolvimento e construção de sistema para captação de água pluvial considerando suporte para placas solares e cobertura para estacionamento da frota do IFSC (Câmpus Chapecó)

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