Do FIC ao Superior: Veridiana, uma história de superação e oportunidades

ENSINO Data de Publicação: 22 mar 2023 15:54 Data de Atualização: 22 mar 2023 16:31

O caminho regular do estudante brasileiro é completar o Ensino Médio até os 17 anos. A idade, preconizada pelo Ministério da Educação, é um indicativo de que o aluno concluiu as etapas da educação básica no tempo certo, estando apto a terminar a formação junto à maioridade. Porém, em um país tão diverso e complexo como o Brasil, isso não é uma realidade para milhares de brasileiros.

Veridiana Oliveira é uma dessas pessoas. Ela nasceu em Curitiba, mas duas décadas atrás migrou para Urupema, na Serra Catarinense. Para cuidar dos filhos, que hoje têm 18 e 14 anos, ela teve que abandonar os estudos, mas a vontade de estudar sempre esteve presente. Em 2011, com a chegada do Câmpus Urupema do IFSC no município, o sonho do reencontro com a educação formal ficou mais próximo de ser realizado.

"Eu comecei com o curso de qualificação profissional em Desenvolvimento de Sites. Logo que abriu o câmpus eu fiquei sabendo, por meio de amigos, e iniciei o curso", conta Veridiana. O curso tinha duração de 162 horas e era ofertado em dois encontros semanais. O pré-requisito era ter concluído o Ensino Fundamental, escolaridade que a aluna possuía na época.

Depois do primeiro contato com o câmpus, Veridiana voltou a se afastar dos estudos em razão do cuidado com os filhos. O retorno, porém, não tardou. Desta vez, para concluir o Ensino Médio por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que no IFSC conta com o complemento da formação profissionalizante. "Eu fui fazer o Proeja Ensino Médio em Operador de Computador. Adorei o curso, tudo que é ligado ao IFSC eu gosto de participar", completa. Foi também no curso Proeja que a aluna descobriu outras possibilidades que o IFSC pode oferecer. Ela foi bolsista de extensão do Programa Mulheres Sim, projeto do Governo Federal de empoderamento feminino por meio da geração de renda.

O encerramento do curso Proeja levou de vez a estudante a retomar o caminho da educação. O próximo passo foi o curso Técnico em Administração, também no Câmpus Urupema. Mais um desafio, que Veridiana não superou sozinha. "Foi bem desafiante, teve momentos que quase desisti por problemas pessoais. Era bem cansativo, pois ainda tinha a casa e os filhos, mas graças à força dos professores e servidores do câmpus, que sempre me apoiaram muito, eu consegui chegar no final. Sem eles eu não teria conseguido, eu sempre digo que eles são o meu porto seguro", complementa.

A conclusão do curso técnico foi no ano passado. A nova formação ajudou Veridiana a melhorar seu negócio e a planejar o que deseja fazer daqui para frente. "Sou cabeleireira e  usei o Técnico em Administração para melhorar meu negócio. Mas meu sonho mesmo é trabalhar na área de informática. Estou estudando para isso não vou parar até conseguir", projeta. Na Serra Catarinense o IFSC oferta o curso superior em Ciência da Computação no Câmpus Lages, formação que está no horizonte da estudante, que chegou a iniciar o curso superior em Viticultura e Enologia em Urupema, mas infelizmente teve que desistir. 

"O IFSC foi a melhor coisa que aconteceu para o nosso município. Abriu muitas oportunidades para os alunos concluírem os estudos, e também fazerem os cursos que o IFSC oferece para ter um emprego melhor sem precisar sair do município", finaliza.

Poder transformador

Um dos portos seguros de Veridiana, e que acompanhou todo o trajeto educacional dela no IFSC, foi a servidora Camila Koerich Espíndola. Durante muitos anos Camila exerceu a função de Coordenadora Pedagógica do Câmpus Urupema e sabe bem o impacto que o IFSC pode ter na comunidade e na redução das desigualdades. "Pensando na realidade de Urupema, acredito que o curso Proeja seja um dos mais importantes, pois ele tem como objetivo promover a reparação das desigualdades aos grupos desfavorecidos da nossa  comunidade. No caso da Veridiana, a situação ainda se agrava, pois ela é o retrato de milhares de outras mulheres que se sentem forçadas a abrir mão dos estudos, em detrimento da maternidade. Então, ter um curso numa pequena comunidade com vários desafios, entre eles o de isolamento geográfico, é essencial para que ela, assim como tantos outros estudantes vulneráveis socialmente, tenham a oportunidade de concluírem a educação básica com qualidade, aliada ao ensino profissionalizante", comenta Camila.

Embora reconheça os esforços, a servidora alerta que a oferta não pode parar. Em especial no caso do IFSC, que está em locais de pouco acesso à educação formal. O desafio é continuar atendendo ao público trabalhador e na busca pela redução das desigualdades. "Percebo que nosso câmpus ainda precisa avançar na questão da oferta da educação superior para o público trabalhador de nossa comunidade. De certa forma, eles ainda ficam de fora desse espaço escolar, já que atualmente os cursos superiores acontecem nos períodos matutino e vespertino. A Veridiana ingressou esse ano no curso de Viticultura e Enologia. Infelizmente, pela necessidade de trabalhar, a estudante acabou desistindo do curso", conclui.

"Fiquei muito feliz por saber a trajetória da Veridiana e, ainda mais, pelo fato dela ter retomado a carreira acadêmica a partir de um curso FIC que ministrei há tanto tempo no Câmpus Urupema. Aquele FIC foi a porta de entrada dela para o IFSC, o curso fez com que ela perdesse o medo de estudar e buscasse novos desafios. Esta história demonstra, ainda, como o investimento em educação é um investimento de longo prazo. Nós educadores não podemos desanimar quando os resultados parecem não vir, pois certamente um dia eles virão, mesmo que leve mais de 10 anos como no caso da Veridiana", recorda Wilson Castello Branco Neto, professor de Informática do IFSC e proponente do primeiro curso que Veridiana participou, o de qualificação profissional em Desenvolvimento de Sites.

Que a história da Veridiana possa tocar outras pessoas. O IFSC seguirá no caminho para tornar esses sonhos em realidade.

 

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