Diferenças culturais entre Brasil e Portugal

BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 30 nov 2023 10:30 Data de Atualização: 30 nov 2023 19:41

Conhecer um novo país em uma experiência de intercâmbio oferece perspectivas únicas sobre culturas e rotinas diversas. Durante o relato da Laura Martin da Silva Werneck sobre como tem sido seu intercâmbio no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), podemos entender um pouco mais sobre como é a vida na cidade de Porto, em Portugal.

Acompanhe a seguir mais detalhes sobre a rotina, o projeto e as experiências de Laura, estudante de Engenharia Eletrônica do Câmpus Florianópolis, que está em Portugal pelo Propicie 20. Caso você também tenha interesse em fazer um intercâmbio, acesse nossa cartilha e veja como estudar no exterior pelo IFSC.
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A cidade do meu projeto é a cidade do Porto, no norte de Portugal. É uma cidade conhecida pelo turismo. Cheguei no Porto (forma que eles falam, em vez de em Porto) na última semana do verão de Portugal, então a cidade estava cheia de turistas. Era bastante comum ver pessoas com malas ou mochilas de viagem no metrô. Além disso, ao percorrer as ruas e explorar a cidade, o que predominava eram as vozes de diversas línguas, provenientes de todos os lugares do mundo.

Desde a minha chegada, tenho me empenhado em explorar ao máximo todos os lugares e aproveitar ao máximo o tempo deste intercâmbio. Para o projeto, organizei um horário que me permite cumprir as horas necessárias por semana e mesmo assim não sair muito tarde do ISEP. Isso me possibilita desfrutar dos fins de tarde para conhecer novos lugares e aproveitar os fins de semana para viajar e conhecer outras cidades.

Dessa forma, após quase um mês aqui, já consegui perceber e aprender algumas coisas durante a minha estadia, tais como:

● Língua
Nas primeiras semanas aqui, por conta da grande quantidade de turistas, a cidade estava tomada de diversos idiomas, então saber inglês foi essencial. Na própria faculdade, não foi necessário usar o inglês, já que todos os membros do projeto são portugueses ou brasileiros. No entanto, mesmo o português de Portugal sendo uma língua muito próxima da nossa, ainda há momentos em que é difícil compreender completamente o que estão dizendo. Já tiveram casos em que precisei perguntar mais de uma vez o que uma pessoa disse por não ter entendido na primeira vez. Mas depois de algumas semanas você vai se acostumando com a língua e entendendo melhor o que eles falam.

Algo curioso daqui é como os portugueses são “curtos e grossos” no que falam. Qualquer pergunta que se faça eles respondem diretamente, e não entendem às vezes um pedido no meio de uma pergunta. Às vezes esse jeito deles até parece rude, mas depois de um tempo você percebe que não é algo direcionado a você por ser brasileiro ou algo assim, é só o jeito deles mesmo, e com eles mesmos eles são assim e pior, até, às vezes.

Com relação ao inglês, como mencionado anteriormente, não foi necessário para o projeto em si. No entanto, está se mostrando fundamental para a comunicação com outros intercambistas, já que o ISEP recebe pessoas do mundo todo. Isso possibilita interações e trocas culturais com estudantes de diversas nacionalidades, e o inglês se torna uma língua comum que facilita essa comunicação e o entendimento mútuo.

● Amizade
Com relação às amizades, logo no meu segundo dia aqui, conheci outra participante deste mesmo edital do IFSC. Ao longo da semana seguinte à minha chegada, fui conhecendo os outros estudantes do IFSC. Desde o começo, nos unimos muito para fazer passeios e viagens juntos. O engraçado é que três dos outros alunos do IFSC eram do mesmo campus que o meu, mas não nos conhecíamos, e um deles ainda é muito amigo de um amigo meu.

Além do pessoal do Propicie 20, conhecemos outros brasileiros, de outro IF, que vieram fazer a dupla titulação no ISEP. E também conheci um grupo de italianos os quais também vieram estudar no ISEP. Na moradia estudantil em que estou hospedado, há uma diversidade incrível de pessoas de diferentes partes do mundo, incluindo brasileiros, portugueses, espanhóis, indianos, paquistaneses e muitos outros.

● Curiosidades
Ao chegar na faculdade pela primeira vez, o que mais me chamou a atenção foram as roupas tradicionais usadas pelos estudantes. O jeito mais fácil de explicar como elas são é dando como exemplo as roupas de Harry Potter, e isso se dá pelo fato de a escritora dos livros ter morado por um tempo no Porto. Então é como se fosse um uniforme deles, é completamente diferente do que estamos acostumados no Brasil.

Outro aspecto que me surpreendeu bastante, considerando que se trata de uma faculdade de engenharia, é a presença significativa de mulheres. Posso afirmar que a proporção de mulheres e homens no campus é bastante equilibrada, incluindo também a presença de professoras mulheres. Sabemos que, no Brasil, a participação feminina na engenharia é baixa, embora tenha havido melhorias nos últimos anos. A diferença é notável, e é encorajador ver essa diversidade aqui.

● Metodologia/Ensino:
Como meu projeto envolve pesquisa, não tive uma experiência direta com a metodologia de ensino local. No entanto, em relação aos professores que estão colaborando com a pesquisa, é perceptível que talvez não sejamos a principal prioridade deles, ou que eles tenham um estilo de interação mais distante com os alunos. No meu caso, o projeto não existia previamente, apenas a ideia dele, e eu estou encarregada de desenvolvê-lo. O professor responsável me forneceu uma orientação geral do que eles tinham em mente, mas a maior parte do trabalho envolve decisões, pesquisas e ações que estou tomando por conta própria, sem um suporte muito próximo.

Em relação às minhas expectativas, elas não estão sendo totalmente atendidas, especialmente no que diz respeito ao meu projeto. Minha principal decepção está relacionada ao espaço de trabalho designado para mim. Fui alocado em uma sala com algumas mesas onde outros alunos também realizam pesquisas. No entanto, o meu projeto envolverá uma parte prática de construção, e a sala que me foi designada não oferece o suporte necessário para o que vou precisar. Ao questionar o professor responsável pelo projeto sobre essa questão, ele me mostrou outras salas que são laboratórios, mas nenhum deles é específico para a área de eletrônica, que é fundamental para o meu projeto. Um dos laboratórios que ele me mostrou estava relacionado a multimídia, o que não tem relevância para o meu projeto. Portanto, estou bastante preocupado com essa situação. Sei que há outros laboratórios com o que preciso aqui, embora sejam de diferentes disciplinas. Em um caso extremo, estou considerando a possibilidade de verificar se posso utilizar um desses laboratórios alternativos.

No entanto, também houve experiências positivas. Um exemplo disso foi uma entrevista que conduzi com uma psicóloga para coletar dados para o projeto. Ela se mostrou completamente disposta a colaborar, demonstrou grande entusiasmo pelo projeto e pelo que pretendo desenvolver.

O que mais me causa preocupação é a quantidade de trabalho e desenvolvimento necessário para o projeto, considerando o tempo limitado que tenho à disposição. Normalmente, um projeto de grande porte como esse levaria de 5 a 6 meses, ou até mesmo mais. Aqui, no entanto, temos apenas 3 meses para concluí-lo. Dada a abertura que eles dão para desenvolver sozinha o projeto, sem o acompanhamento mais próximo com professores, tenho incertezas quanto à possibilidade de conseguir finalizar tudo dentro do prazo estabelecido no meu plano.

● Projeto de pesquisa
O meu projeto tem como título “Artificial Intelligence applied to Health”, nele irei desenvolver um sistema de sensores para medir diferentes sintomas físicos de pessoas com ansiedade. Com o sensoriamento será possível criar um banco de dados com os dados dos sensores e ver as mudanças que ocorrem quando os indivíduos estão tendo uma pré-crise de ansiedade e quando estão tendo uma crise. A partir desses dados será possível criar um sistema de alerta e apoio com a finalidade de evitar as crises de ansiedade, ou pelo menos, evitar seus efeitos.

Para este projeto, está sendo necessário realizar uma extensa pesquisa sobre os sintomas da ansiedade, em particular os sintomas físicos que podem ser sensorizados. Além disso, é necessário definir uma faixa etária para a realização dos testes. Após a pesquisa relacionada à ansiedade propriamente dita, há a necessidade de conduzir uma pesquisa adicional para determinar quais sensores são essenciais e quais tipos de sensores podem ser utilizados. Essa pesquisa leva em consideração que a pessoa que irá usar os sensores deve se sentir o mais confortável possível, a fim de evitar interferências nos resultados da pesquisa. Portanto, além da parte técnica, é crucial dar atenção especial ao aspecto estético do protótipo.

Após a fase de pesquisa, seguimos para a montagem do protótipo e a programação do projeto. A etapa que mais representa um desafio para mim é a criação do banco de dados, já que é algo que nunca tive experiência anteriormente. Portanto, vou precisar aprender como isso funciona e como posso aplicá-lo neste projeto, especialmente considerando a variedade de sensores envolvidos. Após a conclusão do protótipo, é crucial realizar testes com indivíduos que sofrem de ansiedade para validar o projeto.

Quanto ao meu papel no projeto, como mencionado anteriormente, ele é central, já que fui encarregada de conduzir toda a pesquisa e montagem do projeto de forma independente. Dada a complexidade do projeto, estou determinada a realizar o máximo que posso, mas devido às limitações de tempo, não estou certa se conseguirei concretizar todos os planos conforme o previsto.

● Aprendizado
Devido ao projeto estar sendo desenvolvido a partir do zero, está sendo de extrema importância estudar as diferentes etapas da concepção de um projeto e compreender a relevância de cada uma delas. Além disso, esse processo destaca a importância da pesquisa em um projeto, pois sem uma pesquisa sólida ou com uma pesquisa superficial, não é possível alcançar os melhores resultados possíveis.

Além disso, este projeto me proporcionará a oportunidade de adquirir conhecimentos em áreas nas quais eu tinha menos experiência anteriormente, como a criação de bancos de dados. Embora eu tenha estudado sobre isso na faculdade, a profundidade do meu conhecimento era limitada, e aqui, no contexto do projeto, estou desafiado a estudar e aprender a implementar essa habilidade de forma mais aprofundada.

No que diz respeito aos aprendizados fora do ambiente acadêmico, o intercâmbio representa a melhor maneira de receber uma verdadeira aula de história, costumes e tradições. Devido à presença de pessoas de diferentes países, estamos constantemente aprendendo coisas novas e conhecendo costumes diversos. Além disso, em Portugal, devido ao seu passado histórico notável, adquirimos muito conhecimento ao visitar as antigas cidades medievais e ao explorar suas histórias fascinantes.

● Rotina
Como moradia escolhi uma moradia estudantil, que outros alunos que participaram do Propicie 19 indicaram. Ela fica em uma região central da cidade, além de estar praticamente em cima da principal estação de metrô, trem e ônibus da cidade.

Escolhi um quarto individual para desfrutar da comodidade de não precisar me preocupar em compartilhá-lo com outra pessoa. Este quarto inclui um banheiro e uma cozinha integrados, eliminando a necessidade de compartilhar essas instalações com outras pessoas, como ocorre em algumas outras opções de moradia estudantil.

Este local foi recomendado, como mencionado anteriormente, mas, além disso, enquanto ainda estava no Brasil, pesquisei várias outras opções, e este foi o que mais se destacou em termos de benefícios. Após tomar a decisão de escolhê-lo, entrei em contato e iniciei o processo de reserva. Eles foram extremamente prestativos, respondendo a todas as minhas dúvidas, e ainda emitiram um comprovante para ser apresentado na imigração, comprovando que eu tinha um local de hospedagem garantido.

Dado que essa moradia estudantil não está localizada nas proximidades da faculdade, mas sim na parte central da cidade, precisei organizar meus horários da melhor maneira possível. Isso se deve ao fato de que é necessário pegar o metrô para chegar ao ISEP, e a viagem leva aproximadamente 30 minutos. Portanto, optei por sair por volta das 8 horas da manhã, o que me permite chegar ao ISEP às 8h30. Fico lá até às 16h30, cumprindo assim as 7 horas diárias do projeto, com uma pausa de 1 hora para o almoço. Essa programação me permite aproveitar o fim da tarde, ainda com luz solar, para explorar mais a cidade.

● Comidas
Quanto à alimentação, devido à presença de uma mini cozinha no meu quarto na moradia estudantil, acabo optando por refeições mais simples lá. Normalmente, almoço na própria faculdade, utilizando o restaurante estudantil disponível. O custo é de 2,75 euros, e o cardápio oferece uma ampla variedade de opções, incluindo carne, peixe, opções saudáveis e vegetarianas. Os pratos vêm sempre acompanhados de pão, uma sopa de legumes, salada e diversas sobremesas para escolher.

No que diz respeito às comidas típicas, tenho apreciado muito quase todas as que experimentei até agora. Aqui, é comum consumir pratos que incluem peixe, ovos e sopas. No Porto, há um prato típico conhecido como "francesinha", que consiste em um pão recheado com várias carnes, coberto com queijo e um ovo com gema mole, além de um molho preparado com molho de tomate, vinho e cerveja. É uma combinação bastante única, mas intrigante.

Além das refeições salgadas, que diferem das do Brasil, mas não de forma tão significativa, também temos os doces. A maioria das cidades possui um doce típico, e a maioria deles é à base de ovos. Até agora, experimentei e gostei dos "ovos moles de Aveiro" e do famoso "pastel de nata", que é incrivelmente delicioso.

● Saudades
Durante todo o processo de seleção para o Propicie, minha família e professores torceram muito por mim. Quando recebi a notícia de que participaria do intercâmbio, todos ficaram extremamente orgulhosos e felizes por mim.

Inicialmente, fiquei um pouco apreensiva por ser minha primeira viagem internacional, e a ideia de viajar sozinha para um país desconhecido me deixou um pouco ansiosa na época. No entanto, acabou sendo uma experiência surpreendentemente tranquila. Às vezes, é até estranho pensar que estou em um país diferente, considerando como costumava me sentir angustiada com o medo de ir para outro país sozinha e sem conhecer ninguém.

Quando se trata de saudade, devo admitir que não sinto muita falta do Brasil em si. Aqui, a infraestrutura da cidade, o sistema de transporte público e, principalmente a segurança, fazem com que seja tão agradável estar aqui que não sinto falta do Brasil. Além disso, o clima até agora tem sido muito parecido com o da minha cidade. Além do mais, mesmo pagando em euros, é notável como algumas coisas compensam muito mais aqui, especialmente em relação aos mercados e à variedade de produtos.

A saudade da minha família já é algo que sinto mais, mas mesmo assim não é nada insuportável, já que eu morava longe deles por causa da faculdade. Por isso, temos o costume de fazer chamadas de vídeo e trocar mensagens durante o dia para manter sempre o contato. O maior desafio, na verdade, é o fuso horário, pois no Brasil são 4 horas a menos, o que torna difícil encontrar um horário que funcione para todos nós nos falarmos.

Sinto um pouco de saudade dos meus amigos devido à proximidade que tínhamos. Mesmo fazendo novos amigos no intercâmbio, não é a mesma coisa. Ainda estamos nos conhecendo e, em alguns casos, há uma grande diferença de idade, o que não facilita as coisas em certos momentos por conta do jeito de pensar e agir.

● Dicas
A minha principal dica para estudantes que desejam realizar um intercâmbio é simplesmente tentar. Se você deseja participar de algo assim, vá em frente e tente, não custa nada. Muitas vezes, as pessoas têm vontade de participar, mas ficam com medo ou adiam, e isso pode resultar na perda de oportunidades. Portanto, mesmo que sinta medo ou não tenha certeza se terá sucesso, vá em frente e tente.

Além disso, se possível, comece a pesquisar sobre os lugares que lhe interessam e também sobre o  dioma falado lá, especialmente se for aprender inglês, pois isso é essencial. Outra coisa que foi muito útil e agilizou o meu processo de intercâmbio foi obter o passaporte antecipadamente, mesmo sem ter certeza se iria ou não. Isso permitiu que o passaporte estivesse pronto antes de precisar preencher todos os  documentos para o intercâmbio, que geralmente requerem informações do passaporte.

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