Pela primeira vez longe da família

BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 21 dez 2023 10:30 Data de Atualização: 21 dez 2023 10:30

Para muitos intercambistas, a experiência de estudar em outro país significa pela primeira vez morar longe da família. Esse foi o caso do Miguel Philippi Araújo, nosso aluno do Técnico Integrado em Eletrônica do Câmpus Florianópolis, que participou do Propicie 20. No relato que ele nos enviou em Outubro, ele contou sobre os aprendizados pelos quais ele passou ao participar no projeto Electronics and Informatics Applied to Health Systems (INNO4HEALTH) no segundo semestre deste ano.

Leia o relato do Miguel e conheça um pouco mais sobre como é participar de um projeto no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), em Portugal.
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Embora a língua falada em Porto seja o Português, devido ao dialeto, sotaque e tom de voz serem diferentes, algumas vezes eu tenho dificuldade em entender e preciso que as frases sejam repetidas. Como na residência estudantil que eu vivo, a maioria dos estudantes são estrangeiros, preciso estar constantemente falando inglês, especialmente com meus colegas de apartamento. Normalmente conseguimos conversar tranquilamente em inglês, ainda que encontremos alguns empecilhos durante conversas por esquecermos das palavras. Estou aproveitando também a oportunidade para tentar aprender algumas palavras em francês e espanhol com meus colegas de apartamento.

Os outros estudantes que tive mais contato fora do âmbito acadêmico com quem eventualmente criei amizade foram alguns colegas do meu apartamento, outros residentes do lugar onde estou morando e os outros intercambistas do IFSC. Apesar de já ter feito programas com todos, os que tenho maior costume de sair junto são minhas colegas de apartamento, ainda que eu tenha uma viagem marcada para Madrid com os outros intercambistas. Meus amigos da residência consistem igualmente de Europeus e Sul-Americanos, incluindo pessoas da Bélgica, Espanha, Uruguai, Brasil e até mesmo Liechtenstein.

Acredito que as três coisas que mais me causaram estranhamento foram: o tom de voz da maioria dos portugueses, que falam extremamente baixo, a um ponto que é complicado entendê-los caso você não esteja virado diretamente para eles; a vestimenta utilizada pelos alunos do segundo ano da universidade, que se trata de um uniforme tradicional com uma longa capa preta; e a duração dos trotes universitários dos “caloiros” (como são chamados em Portugal), que ocorrem todo dia por mais de um mês.

Como estou em mobilidade de pesquisa, acabei não tendo nenhuma aula, portanto não posso opinar na didática dos professores na sala de aula, porém consegui perceber uma certa distância até mesmo durante a coordenação de projetos, já que eu estou recebendo pouca orientação.

O objetivo do projeto é criar uma série de dispositivos de monitoramento inteligente de saúde, utilizando sensores e algoritmos inteligentes. Nesse projeto minha função seria trabalhar com o hardware desses sensores, porém até agora não tive nenhuma função atribuída à mim, sendo meu tempo reservado somente para o estudo do uso de sensores e microcontroladores.

As maiores dificuldades que encontrei foram a falta de atividades nesse primeiro momento, a falta de recursos e a falta de orientação para atividades. Fui alocado a uma sala comum, e não um laboratório de eletrônica, logo não tenho acesso a instrumentação, preciso percorrer todo um processo para conseguir componentes limitados e ainda aguardo a chegada dos sensores oficiais para estudo desde o final do mês passado (setembro). Sobre a orientação para atividades, nenhum dos professores do GECAD, meu departamento, tem envolvimento com o hardware ou firmware do projeto, fazendo com que eu precise tirar minhas dúvidas na internet.

Consegui utilizar esses primeiros momentos do projeto para aprofundar meus conhecimentos em programação, especialmente a linguagem C e Javascript, das quais tive que aprender o básico quando ainda me estava atribuída a função do desenvolvimento front-end. Além disso aprendi mais sobre o uso de microcontroladores e sensores com uma parte de teoria dos sensores também, embora eu acredite que não fosse necessário meu envolvimento no projeto para tais aprendizados.

Estou morando em uma residência estudantil chamada LIV Student Campus Street, que se situa bem próxima à instituição de ensino. Consegui alugar um quarto na residência em um tipo de apartamento chamado cluster, no qual oito pessoas compartilham uma cozinha e sala de estar comum, embora tenham suítes privadas. Aluguei quando eu ainda estava no Brasil, reservando online. Minha rotina hoje consiste somente em acordar, me arrumar para sair, tomar café da manhã, passar o dia na universidade, depois retornar para casa, ir à academia da residência, cozinhar meu jantar e depois participar um pouco em atividades de lazer antes de me preparar para dormir, deixando todas as tarefas domésticas para o domingo.

Apesar de almoçar no restaurante universitário, tenho que cozinhar o jantar pelo menos a cada dois dias. Todos meus colegas de apartamento cozinham, porém são poucas as vezes em que fazemos comida juntos, deixando para ocasiões especiais. A comida aqui é muito menos baseada em carne de gado, porém mesmo no restaurante universitário é bem saborosa. Fui positivamente surpreendido pelo estrogonofe deles e acredito que esse prato esteja batalhando com o empadão de bacalhau pela posição de meu prato predileto. Na janta eu costumo cozinhar pratos simples e parecidos, então não há nada de impressionante sobre eles.

Como sempre tive apoio dos meus pais para realizar intercâmbio, eles ficaram extremamente contentes quando descobriram que eu fui aprovado no programa e me ajudaram em todas as etapas de preparação da viagem, até mesmo viajando comigo na primeira semana. Já havia viajado anteriormente para a Europa, então a experiência acabou não sendo tão assustadora. Como é minha primeira experiência morando sozinho e não tendo nenhum conhecido em uma cidade nova, foi um pouco difícil no começo e as saudades estavam insuportáveis, porém conforme fui me acostumando e criando novas amizades aqui, ficou mais fácil lidar com a distância, conquanto eu troque mensagens quase diariamente com amigos e familiares no Brasil e faça chamadas de vídeo semanais com meus pais.

Busque destaque acadêmico, seja somente nas aulas ou projetos de pesquisa e extensão. Não se contente com o pouco e tente se lançar à novas experiências sempre que possível, pois isso que irá lhe abrir portas para essas oportunidades.
 

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