Dia da Mulher na Ciência: professora do Câmpus Chapecó é protagonista em notícia nos EUA

ENSINO Data de Publicação: 08 mar 2024 13:17 Data de Atualização: 13 mar 2024 11:06

A professora de Física do Câmpus Chapecó do IFSC, Camila Gasparin, tornou-se protagonista de uma notícia nos Estados Unidos. A Universidade do Estado da Georgia publicou a notícia na semana passada, com o título “Gasparin foi inspirada por cientistas da TV brasileira, professores e família para seguir carreira no ensino de ciência” (tradução livre).

A entrevista é assinada pelo jornalista David Hoffman, que produziu a notícia em razão do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado no dia 11 de fevereiro. “Gasparin dá um forte exemplo para outras mulheres que consideram carreiras científicas”, cita ele, contando a história da professora e as inspirações que a levaram para a área científica, especialmente física e pesquisa para surdos.

Desde o final de 2022, Camila e os dois gatos - levados do Brasil - moram nos Estados Unidos. Estão em Atlanta, na Geórgia, onde a professora cursa o Doutorado em Educação. “Apesar de ser a cidade de Martin Luther King Jr., a cidade não foge aos problemas raciais do país e é bastante complicada quanto a isso”, destaca. 

Ensino científico para surdos

O prazo final do Doutorado é dezembro de 2026, mas Camila está fazendo o possível para finalizar antes. “Minha tese será sobre ensino científico para surdos, como tem sido desde 2013. Ainda não tenho projeto específico, mas devo defini-lo até começo de 2025. Foi por isso que escolhi essa universidade e meu orientador, Prof. Dr. Patrick Enderle”, conta a professora. 

Atualmente, ela está no quarto semestre, primeiro do segundo ano. Em meio à tese e às disciplinas, Camila trabalha com outras quatro professoras, duas americanas e duas brasileiras, em um artigo sobre educação de surdos em países de língua não-inglesa. 

“Também trabalho com meu orientador e uma colega em um artigo sobre Computational Thinking na formação de professores. E ano passado apresentamos um trabalho em um evento estadual de professores sobre cultura, educação e descolonização, o que ainda precisa ser aprimorado e enviado para publicação”, conta.

Contato com o inglês

“A língua é tranquila, nunca é problema, o problema é sempre as pessoas”, afirma a professora. “A adaptação à escrita acadêmica demorou um pouco e ainda aprendo vocabulário avançado da área, obviamente. Esse período de adaptação é normal e acontece até com estudantes nativos enquanto aprendem a linguagem científica de uma área”.

As dificuldades, segundo Camila, foram com a pouca compreensão e colaboração de alguns professores. “Houve rejeição das referências acadêmicas e culturais que eu trago, por não serem ‘americanas’. Um colega, por exemplo, questionou minha identificação étnica e racial, falava mais rápido, baixo e com sotaque forçado para eu não entender”, conta com tristeza.

Valorização dos professores

Ao final do Doutorado, Camila retorna ao Brasil e ao Câmpus Chapecó do IFSC. Enquanto isso, conhece inclusive a realidade dos professores nos Estados Unidos. “Eles têm salários baixos, no geral. Por exemplo, meu orientador tem rendimentos comparáveis aos meus, e ele já ascendeu ao topo da carreira da universidade”, conta. 

“Então, a área paga mal, há todo um processo longo, burocrático e extremamente político para alcançar a estabilidade (tenure), e os direitos trabalhistas são risíveis. Não há liberdade de ser e dizer. Um professor da universidade sair do trabalho e ser visto com qualquer coisa que o identifique como profissional da instituição em um ambiente que possa ser considerado ‘reprovável’, vira um escândalo que pode ter consequências sérias. Esse tipo de controle não dá pra mim, o que me faz ansiar pela volta ao Brasil”, relata.

Além disso, Camila também quer retribuir a oportunidade proporcionada pelo IFSC, pelo governo federal, e pelos contribuintes brasileiros. “Acredito que a formação e experiência aqui estão acrescentando grandemente às minhas experiências internacionais anteriores de formação profissional continuada na área de física. Quero unir a isso o aspecto des/anticolonial e fortalecer a qualidade da formação dos nossos cidadãos”, finaliza.

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