Quem foi Nilo Peçanha?

BLOG DO IFSC Data de Publicação: 20 set 2023 08:12 Data de Atualização: 20 set 2023 08:34

A gente brinca por aqui que o Nilo Peçanha é nosso pai, porque foi ele que, enquanto presidente da República, criou - por meio do decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909 - 19 Escolas de Aprendizes Artífices no Brasil - que deram origem aos nossos Institutos Federais de hoje. O IFSC surgiu a partir da Escola de Aprendizes Artífices de Santa Catarina.  

Mas, afinal, quem foi este tal de Nilo Peçanha que sempre citamos quando falamos da nossa história? Neste mês em que a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica completa 114 anos, queremos contar um pouco da história dessa personalidade importantíssima para a Educação Profissional e Tecnológica no Brasil: o fluminense Nilo Procópio Peçanha, presidente da República entre 1909 e 1910. Hoje o post do Blog do IFSC é todo sobre ele.

Quem foi Nilo Peçanha?

Nascido em Campos dos Goytacazes, município situado no norte do estado do Rio de Janeiro, em 2 de outubro de 1867, Nilo Peçanha veio de uma família modesta. O pai, o padeiro Sebastião de Souza Peçanha, legou ao filho a valorização do trabalho digno e honesto. Já a mãe, Joaquina Anália de Sá Freire, incentivou em Nilo Peçanha o gosto pelos estudos. Ele recebeu sua educação básica no Liceu de Humanidades de Campos e, aos 20 anos, já havia se formado bacharel na prestigiada Faculdade de Direito do Recife (PE).

Abolicionista, republicano, democrata e liberal, Nilo Peçanha teve participação intensa no cenário político do Brasil que saía da monarquia, implementava a república e tinha abolido a escravidão havia apenas duas décadas. Criou e presidiu, por exemplo, o Clube Republicano em sua cidade natal. Foi deputado constituinte entre 1890 e 1891, deputado federal, senador e presidente do estado do Rio de Janeiro – cargo então equivalente ao atual governo do estado. Ocupava a vice-presidência do Brasil quando o titular, Afonso Pena, veio a falecer, em 1909. Foi assim que Nilo Peçanha tornou-se o primeiro e único presidente negro do Brasil.


 

Sua atuação no curto período de governo – ao todo, foram 17 meses – foi marcada por ações como a reorganização do Ministério da Agricultura e a criação do Serviço de Proteção ao Índio, sob a direção do então tenente-coronel Cândido Rondon. Mas é em função da criação da rede de Escolas de Aprendizes Artífices em todo o país que Nilo Peçanha se tornou o patrono da Educação Profissional e Tecnológica.

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Para o professor Paulo Roberto Wollinger, estudioso da educação profissional e tecnológica e professor aposentado do IFSC, Nilo Peçanha pode ser considerado um herói nacional:

“Ele criou escolas técnicas que ensinavam as letras e as artes, ou a formação propedêutica e a profissional. Também criou a primeira ação inclusiva, ou norma de cotas, na educação brasileira, pois queria garantir que os pobres tivessem acesso a uma escola de qualidade.”

Já a criação do Serviço de Proteção ao Índio foi uma iniciativa pioneira de valorização e respeito às populações indígenas, assunto que permanece em pauta ainda hoje, como comenta o professor Wollinger:

“Foi a primeira vez que o governo brasileiro assumiu com uma política pública que os povos indígenas eram importantes e precisavam ser respeitados, isso depois de mais de 400 anos de extermínio.”

No início do século 20, o Brasil era um país eminentemente rural, com 67% dos cerca de 21 milhões de habitantes morando em áreas rurais. O acesso à educação era restrito às elites. As famílias com algum poder aquisitivo mandavam os filhos estudarem em grandes centros, como São Paulo, Recife e Rio de Janeiro, em especial nas escolas confessionais (religiosas). Quem era realmente rico estudava na Europa. Além disso, a abolição da escravidão resultou num imenso contingente de pessoas negras, ex-escravizadas, que não tinham acesso à educação nem eram capacitadas para o trabalho, e que se dirigiam em massa para as cidades em busca de oportunidades de vida. Nesse cenário, o Decreto 7.566, de 23 de setembro de 1909, que criou as Escolas de Aprendizes Artífices, surge como marco de uma política pública educacional voltada às populações menos favorecidas.  Conforme analisa Wollinger:

“Nilo Peçanha tinha essa clareza. Ele era pobre, negro, filho de trabalhadores e tinha essa visão de inclusão, a noção de que ter um trabalho, saber um ofício, era uma conquista de vida. Só que a maioria das pessoas que tinham acabado de sair da escravidão não tinham recurso nenhum. Não receberam ajuda como aconteceu com os imigrantes europeus que vieram trabalhar no Brasil. E foi essa a revolução que ele começou quando criou as 19 escolas de aprendizes artífices, uma em cada estado brasileiro [na época só havia 19 estados]. Modelo que foi depois copiado em vários estados da federação, com a criação de escolas técnicas com educação propedêutica e profissional. Nilo Peçanha criou um modelo de educação genial para a autonomia da classe trabalhadora”.

O idealizador da primeira configuração daquilo que hoje é a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica tinha clareza do quanto seu projeto podia contribuir para o futuro do país. Após deixar o cargo, ele viajou à Europa para conhecer o modelo de educação profissional praticado por lá, constatando a importância desse tipo de ensino no desenvolvimento daqueles países. Suas impressões ficaram registradas no livro “Impressões da Europa: Suíça, Itália e Espanha”, que Peçanha publicou em 1912 pela editora francesa N. Chini & Cia. Éditeur.

Portador de um raro exemplar da publicação, garimpada em um sebo, o professor Paulo Wollinger destaca um trecho do texto em que Nilo Peçanha aborda a “instrução profissional” como solução de êxito para os problemas sociais. Ele escreve:

“É neste terreno que já se começa a medir o poder das nações. E no que nos diz respeito, se quando exerci a Presidência da República já conhecesse a extensão dos seus resultados, ao invés dos vinte [sic] institutos profissionais que fundei nas capitais dos Estados, teria certamente criado duzentos, e aliás com outro desenvolvimento, tão profunda será a sua influência na formação do caráter do povo e nos destinos do Brasil.”


 

Hoje, a Rede que se desdobrou após as sucessivas transformações institucionais das ancestrais Escolas de Aprendizes Artífices tem, em todo o país, 680 unidades e 1,5 milhão de estudantes matriculados em 11 mil cursos. E continua promovendo a inclusão, transformando vidas e ajudando na construção do país. Algo que, sem dúvida, traria muito orgulho ao nosso patrono.

Aliás, Nilo Peçanha é tão importante na nossa história que dá nome à plataforma que traz os dados da Rede Federal: Plataforma Nilo Peçanha.

História do IFSC

E agora que você já sabe a história do nosso patrono, pode conhecer também melhor a história do IFSC:

-> Navegue pela linha do tempo do IFSC
-> Acesse a versão digital do livro “Da Escola de Aprendizes de Artífices ao Instituto Federal de Santa Catarina” de Alcides Vieira de Almeida
-> Memórias IFSC: assista a reportagens sobre a história do IFSC

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