IFSC VERIFICA Data de Publicação: 30 set 2025 11:00 Data de Atualização: 01 out 2025 10:39
As mudanças climáticas já não são mais uma projeção distante, mas uma realidade que molda o presente da agricultura. No Brasil, seus impactos estão cada vez mais visíveis. O verão de 2025 foi marcado por fortes instabilidades: chuvas excessivas no Centro-Oeste e Sudeste, estiagens prolongadas no Sul e ondas de calor fora do padrão em diversos estados. No ano anterior, o país enfrentou a pior seca em 70 anos e recordes de queimadas na Amazônia e no Cerrado, enquanto o Rio Grande do Sul sofreu com chuvas extremas e enchentes que resultaram no maior desastre socioambiental da história do estado. Esses fenômenos tornaram-se mais frequentes, duradouros e intensos, representando uma grave ameaça à agricultura global.
Santa Catarina também tem testemunhado alterações significativas no clima, com aumento gradual das temperaturas médias anuais, mudanças nos padrões de precipitação e maior ocorrência de eventos extremos. O estado, reconhecido pela diversidade agrícola e, em especial, pela fruticultura, vivencia desafios que afetam a produtividade, a qualidade dos frutos e a segurança alimentar. Cultivos como maçã, uva, banana e pêssego já evidenciam as consequências dessas variações climáticas. Esse cenário exige respostas rápidas e estratégicas de produtores, governo e instituições de pesquisa para garantir a resiliência do setor.
O regime de chuvas na região passou a ser mais imprevisível, alternando longos períodos de estiagem com episódios de precipitações intensas. Nos últimos 30 anos, a incidência de chuvas extremas em Santa Catarina cresceu cerca de 20%, segundo dados do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Ciram) da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Estado (Epagri). Segundo especialistas, manifestações como El Niño e La Niña têm intensificado essas oscilações, provocando excesso de chuvas no Sul e secas prolongadas na região central do Brasil.
Esta edição do IFSC Verifica analisa de que forma os eventos climáticos estão transformando a produção de frutas no estado. Para isso, consultamos quatro especialistas:
• Adinor José Capellesso, professor do Câmpus São Miguel do Oeste do IFSC, na área de produção vegetal agroecológica;
• Bruno Dalazen Machado, professor do Câmpus Lages do IFSC, na área de manejo e fisiologia de plantas;
• Luiz Antonio Palladini, pesquisador e coordenador do programa de fruticultura da Epagri; e
• Michel Nobre Muza, professor do Câmpus Florianópolis do IFSC, na área de meteorologia.
Quais fenômenos meteorológicos afetam mais a fruticultura catarinense?
Conforme explica Bruno Machado, a fruticultura pode ser classificada em três tipos, de acordo com as condições de cultivo: de clima tropical (regiões mais quentes), de clima temperado (regiões frias) e de clima subtropical (intermediário entre ambas). "Desta forma, eventos climáticos extremos podem ter impactos severos na produção de frutas no estado, independentemente do tipo de clima, especialmente porque muitas dessas culturas dependem de condições climáticas específicas para florescer, frutificar e amadurecer adequadamente", observa.
Um dos pontos críticos apontados por Machado é a insuficiência das horas de frio. Nas regiões subtropicais e temperadas, a chegada do outono dá início a um processo essencial para a fruticultura: a dormência. É nessa fase, que vai de maio a setembro, que espécies como maçã, pêssego, uva e ameixa se preparam para enfrentar as baixas temperaturas e começar um novo ciclo produtivo.
Após a colheita, com a queda gradual das temperaturas, da luminosidade diária e da pluviosidade, as plantas passam a adotar mecanismos de adaptação. As folhas caem, e a fruteira entra em repouso vegetativo. Durante esse período, acumula as chamadas "horas de frio" – temperaturas abaixo de 7,2ºC – e "unidades de frio", que determinam a qualidade desse resfriamento. Esse acúmulo é fundamental para que, ao fim do inverno, a planta desperte da dormência, volte a brotar e inicie uma nova safra. Cada espécie ou cultivar tem sua exigência específica de frio. Uma vez satisfeita essa necessidade, o aumento das temperaturas atua como gatilho para a brotação. É um delicado equilíbrio regulado por hormônios vegetais e pelas próprias condições ambientais.
O problema, porém, não se limita a temperatura. A agricultura, em geral, depende diretamente de outros fatores, como regime de chuvas, radiação solar e umidade do solo. Para Michel Muza, as inundações bruscas ou graduais, desencadeadas por chuvas persistentes e intensas, estão entre os fenômenos mais recorrentes em Santa Catarina e podem causar danos significativos para a população e para as atividades produtivas, incluindo a fruticultura. "No contexto de eventos de chuva excessiva ou estiagem – isto é, nos extremos climáticos – os estágios de crescimento são comprometidos, reduzindo a produtividade dos cultivos, sobretudo daqueles mais sensíveis e importantes para a segurança alimentar e a produção local e regional", afirma.
De acordo com o professor, o aquecimento global tende a potencializar fenômenos já característicos da região, como ciclones extratropicais, frentes frias e tempestades convectivas – estas últimas associadas a trovões, relâmpagos, chuva forte, granizo, ventos fortes e mudanças bruscas de temperatura. Além disso, os períodos de estiagem devem ser tornar mais frequentes e prolongados.
Para Adinor Capellesso, a fruticultura é uma das atividades mais susceptíveis às oscilações ambientais. Ele observa que as árvores, originalmente espécies de floresta, ficam mais vulneráveis quando plantadas em monocultivos. “À medida que aumentarem a frequência e a intensidade dos eventos climáticos, será ainda mais necessário adotar técnicas de mitigação como quebra-ventos, telas antigranizo e coberturas plásticas”, alerta Capellesso. Sem esses recursos, frustrações de safra recorrentes podem inviabilizar economicamente a atividade.
O futuro da fruticultura em Santa Catarina pode demandar uma reconfiguração profunda. Capellesso destaca que o aumento médio de temperatura entre 1,5°C e 2°C até o fim do século poderá comprometer cultivares de clima temperado, requerendo o uso de técnicas de quebra de dormência ou a substituição por variedades menos exigentes. “Algumas espécies podem se tornar inviáveis, mas, por outro lado, é possível que se abra espaço para cultivos de espécies tropicais ou intermediárias, dependendo das condições locais. No entanto, ainda há muitas incertezas: existem vários cenários traçados, otimistas e pessimistas, e dependeremos de qual deles irá se confirmar”, ressalta.
Por que maçãs, bananas e uvas estão entre as mais prejudicadas?
Santa Catarina é o maior produtor de maçã do Brasil. Entretanto, a safra 2023/2024 registrou o menor volume em 10 anos: 423 mil toneladas, uma queda de 24% em relação à anterior. O principal motivo foi o excesso de chuvas durante a floração, no segundo semestre de 2023, que diminuiu a produtividade e favoreceu problemas fitossanitários. A cultivar Gala – que junto com a Fuji responde por cerca de 98% da produção catarinense – teve uma redução de 27,35% na produtividade.
Embora as condições tenham melhorado neste ano, historicamente a cultura da maçã enfrenta secas severas, chuvas em excesso ou frio intenso. O aumento das temperaturas tem levado a menor incidência de sarna, doença típica de clima frio, mas estimulou a disseminação da entomosporiose, associada a ambientes mais quentes e já presente em altitudes antes livres de pragas. Outro desafio é a necessidade de cerca de 700 horas de frio por ano para o bom desenvolvimento da fruta. Em regiões produtoras como Caçador, contudo, esse número tem ficado em pouco mais de 500 horas, obrigando o uso de indutores de brotação, que prejudicam a qualidade do fruto.
Por sua vez, a baninicultura catarinense ocupa hoje a terceira posição no ranking nacional. Apesar da relevância, a cultura é altamente sensível a extremos climáticos como temporais, estiagens e vendavais. Temperaturas acima de 35°C podem causar queimaduras nas folhas, maturação precoce e menor qualidade comercial dos frutos. Tanto o calor excessivo quanto as chuvas intensas contribuem para o aparecimento da sigatoka, doença que ataca as folhas, enfraquece a planta e pode até levar ao tombamento do tronco.
No cenário global, a banana – fruta mais consumida no mundo – está sob séria ameaça. Um estudo da ONG Christian Aid indica que até dois terços das áreas de cultivo na América Latina e Caribe podem se tornar inaptas até 2080 devido ao aumento das temperaturas, das condições extremas e da disseminação de pragas, como o fungo preto, especialmente em climas úmidos.
A viticultura também é fortemente afetada pelas variações no regime de chuvas, pois tanto a escassez quanto o excesso alteram o padrão das uvas e comprometem sua aceitação em mercados internacionais que exigem alta qualidade. Em Santa Catarina, a expectativa é de redução na produtividade. Uma pesquisa da Epagri aponta que, até 2050-2070, áreas potenciais para variedades que demandam mais horas de frio para brotação poderão encolher entre 70% e 89%.
Outras frutas igualmente sofrem os efeitos do clima. Segundo Machado, a produtividade do pêssego na safra de 2024 foi significativamente reduzida, podendo chegar a uma diminuição de 60% em relação à média normal de 15 toneladas por hectare no Sul do estado. Essa redução pode ser atribuída a fatores climáticos, como a falta de frio, que afeta a floração e a frutificação da cultura. Em 2023, produtores de pêssegos no Meio-Oeste catarinense também já haviam registrado perdas de até 50% na colheita, resultado do grande volume de chuva e da ocorrência de granizo.
Para Luiz Palladini, as variações climáticas exercem papel decisivo na dinâmica das lavouras, criando condições que possibilitam o surgimento e a proliferação de pragas e doenças. “A natureza é muito sábia, e com qualquer adversidade para a cultura cria-se facilidade para a ocorrência das pragas e doenças. Isso ocorre, principalmente, quando o clima foge do normal”, afirma.
Ele acrescente que situações de instabilidade ambiental têm estimulado o aparecimento de novas ocorrências no campo. Para minimizar os danos, o monitoramento constante é essencial, pois permite intervenções rápidas que impedem a instalação de organismos nocivos. “Em condições adversas, determinadas pragas podem se estabelecer e ganhar força, aumentando significativamente sua incidência em comparação a anos anteriores. Em alguns casos, ocorre o predomínio de determinados fungos ou insetos que encontram ambiente propício para se multiplicar em larga escala”, conclui.
Que impactos recaem sobre produtores e consumidores?
As mudanças climáticas afetam não apenas a produtividade, mas também a economia dos agricultores e os preços dos alimentos. A queda na qualidade e no volume colhido diminui a receita das propriedades, enquanto eventos severos geram prejuízos diretos às safras. A instabilidade da oferta provoca flutuações nos preços, com altas decorrentes da escassez, impactando o consumidor e a segurança alimentar global. Um estudo publicado em 2024 na revista Nature, por exemplo, estimou que o calor poderá elevar os preços dos alimentos em até 3,23% ao ano até 2035.
Os custos operacionais também crescem, impulsionados pela necessidade de reparar infraestruturas danificadas, investir em insumos mais caros – como sementes resistentes e pesticidas – e até oferecer salários maiores, uma vez que as condições de trabalho se tornam mais difíceis. Problemas logísticos, como estradas danificadas por enchentes, aumentam as despesas com transporte e distribuição. A longo prazo, a instabilidade climática pode reduzir as áreas cultiváveis e atravancar a vocação agrícola de regiões inteiras, forçando a realocação de cultivos e ocasionando incertezas quanto à adaptação das plantas a novos ambientes.
No aspecto social, Adinor Capellesso chama a atenção para a vulnerabilidade dos pequenos agricultores, que costumam estar mais expostos aos eventos extremos devido à menor capacidade de investimento. Em muitos casos, quando uma intempérie atinge a lavoura, atinge toda a produção e, como resultado, coloca em risco a sobrevivência da propriedade.
“Você perde toda a safra, a renda oscila, e isso pode inviabilizar a continuidade da propriedade. Não consegue manter a produção. Então, acredito que a frequência maior destes tipos de evento, quando o agricultor não consegue se proteger ou quando eles ultrapassam a capacidade de proteção existente, vai ocasionar grandes danos aos sistemas de produção e, consequentemente, à vida das famílias”, pontua Capellesso.
Sobre políticas de apoio, o professor ressalta que cada fenômeno climático pede uma resposta específica: irrigação para enfrentar secas, medidas ativas contra geadas, telas antigranizo para proteger pomares e escolha de áreas mais seguras contra enchentes. No entanto, adverte para os limites dessas soluções. “No caso da escassez hídrica, se não houver disponibilidade de água, nenhuma técnica será suficiente”, observa.
Diante disso, Capellesso destaca a importância de políticas públicas que apoiem os agricultores na adoção de tecnologias de proteção, irrigação e manejo adaptado. Ele defende a ampliação do crédito rural associado ao seguro agrícola obrigatório – que atualmente não cobre o setor de fruticultura – para mitigar riscos financeiros diante de perdas totais causadas por episódios extremos.
“Quando o banco concede um financiamento, precisa de garantias. Se a ocorrência desses eventos aumentar, talvez se torne mais inseguro produzir. Isso pode gerar uma série de incertezas e dificultar a operação da política de crédito. Teremos que pensar em ajustes que permitam vincular o seguro à política de crédito. Porém, isso tende a encarecer os financiamentos para o agricultor”, prevê.
Quais estratégias podem reduzir os riscos no campo?
Neste cenário desafiador, a busca por estratégias de adaptação e mitigação é urgente. Conforme ressalta Machado, “para se preparar para o futuro, é fundamental que se adotem estratégias que aumentem a resiliência dos sistemas produtivos, combinando práticas agroecológicas, manejo sustentável, tecnologia e gestão de risco”. Por isso, produtores, pesquisadores e governos em Santa Catarina e no Brasil têm investido em soluções e alternativas voltadas a um desenvolvimento sustentável em meio a um ambiente de incertezas.
• Melhoramento genético e cultivares resilientes: o desenvolvimento de variedades mais resistentes ao calor, à seca e a doenças é uma das medidas mais eficazes. No caso da maçã, por exemplo, a Epagri trabalha na criação de cultivares tolerantes à sarna e à mancha de Glomerella (também chamada de mancha foliar da Gala), reduzindo a necessidade de tratamentos químicos. “O melhoramento tem realizado inserções e tem obtido sucesso em várias variedades”, explica Luiz Palladini. Ele lembra, entretanto, que a resistência a determinados fungos pode favorecer a incidência de outros, antes considerados secundários.
Palladini reforça que a pesquisa e a inovação são essenciais para a sustentabilidade da fruticultura catarinense: “É necessário investir continuamente em pesquisa para desenvolver cultivares adaptadas às nossas regiões e ao nosso clima, resistentes às principais pragas e doenças das culturas — pêssego, banana, maçã, uva, todas elas. E precisamos sempre inovar: melhorar nos sistemas de produção, no controle fitossanitário e, principalmente, no desenvolvimento das cultivares adaptadas ao nosso clima”.
• Manejo do solo e uso eficiente da água: práticas de agricultura de conservação, como a cobertura vegetal, rotação de culturas e o plantio direto, são fundamentais para reduzir a erosão, melhorar a retenção de umidade e aumentar o teor de matéria orgânica no solo. O manejo eficiente da água inclui investimentos em irrigação de alta eficiência (gotejamento, pivôs centrais e sensores de umidade) e técnicas de captação da chuva.
Além disso, salienta Machado, um solo bem nutrido – com boa estrutura e alta atividade biológica – funciona como um "amortecedor natural" contra extremos climáticos: em períodos de seca, garante maior reserva de água e raízes profundas; e, em situações de chuvas intensas, favorece rápida infiltração e drenagem, evitando encharcamento. "Investir em fertilidade e manejo adequado do solo é tão importante quanto sistemas de irrigação ou drenagem, pois cria uma base sustentável para a resiliência dos pomares a longo prazo", destaca.
• Adoção de tecnologias agrícolas e agricultura digital: A agricultura de precisão utiliza sensores, drones e outras ferramentas para monitorar e gerenciar culturas de forma mais eficaz. Sistemas de previsão climática e de alerta precoce permitem que os agricultores se preparem para eventos extremos. Já inteligência artificial e big data ajudam a analisar grandes volumes de dados, prever fenômenos climáticos e otimizar o uso de defensivos.
Neste contexto, o professor Michel Muza enfatiza a importância de incorporar previsões meteorológicas ao planejamento agrícola. No curto prazo, a previsão diária é essencial para o manejo das fases de plantio, desenvolvimento e colheita. Já os prognósticos mensais e sazonais – vitais para a preparação de médio e longo prazo – podem orientar estratégias para cada safra e para culturas perenes.
Ele lembra que esses modelos já estão disponíveis e são utilizados por instituições de meteorologia no Brasil. “Os dados e informações climáticas recorrentemente disponibilizados por centros e instituições de meteorologia no país são os mesmos praticados (e compartilhados) no mundo todo. São modelos climáticos globais, dinâmicos (físico-matemáticos) e estatísticos, que produzem diagnósticos para as diferentes regiões e países”.
• Coberturas de proteção: em Santa Catarina, o uso de telas em pomares e parreirais tem se mostrado uma estratégia eficaz contra o granizo. Palladini relata que, até cinco anos atrás, produtores sofriam muitos prejuízos com este tipo de evento, mas as coberturas mudaram o cenário. “É uma tecnologia acessível, que tem tido sucesso e tem oferecido uma segurança para o agricultor, garantindo produção de qualidade e em quantidade para quem a utiliza”, conta.
• Diversificação de culturas e Sistemas Agroflorestais (SAFs): a diversificação, introduzindo variedades mais resistentes a condições adversas, e a integração de atividades como a pecuária e a piscicultura ampliam a resiliência econômica. Os SAFs, ao combinar árvores com culturas agrícolas ou pecuária, proporcionam proteção contra ventos fortes e altas temperaturas, melhoram a qualidade do solo e atraem polinizadores e inimigos naturais de pragas, promovendo o equilíbrio ecológico.
Produzir frutas em consórcio com outras espécies pode atenuar os impactos de eventos menos intensos, além de diminuir riscos em sistemas de menor investimento, explica Capellesso. Ainda assim, ele reconhece que esses modelos “são intensivos em mão de obra, o que representa um gargalo para sua expansão”. Embora os sistemas agroflorestais tenham maior resiliência diante de variações moderadas, o docente avalia que eles ainda não dão conta de superar situações extremas como secas prolongadas ou granizos intensos.
• Desenvolvimento territorial sustentável: em vez de focar apenas nas lavouras, essa abordagem integra a gestão de paisagens, a diversificação produtiva e a cooperação entre comunidades, pesquisadores e governos. A revitalização de ecossistemas, o uso de práticas adaptáveis e o fortalecimento de infraestruturas podem valorizar a produção local, associando-a a turismo e identidade regional — como já ocorre com o enoturismo na Serra Catarinense.
“No caso do vinho, por exemplo, as pessoas vão para conhecer o território, vivenciar um momento e aí consomem o produto do local. Se não fosse com a valorização associada ao turismo, talvez fosse inviável competir com vinhos de outras regiões que são mais favoráveis. Vejo que a articulação de aspectos econômicos, sociais e ambientais da região produtora pode, sim, criar condições para valorizar e dar preferência a esses produtos”, explica Capellesso.
Ele ressalta, no entanto, que o modelo não se aplica igualmente a todas as cadeias, como a da maçã, que envolve grandes volumes de produção. “Depende muito do contexto de cada local e dos atores saberem trabalhar isso – mercado, reputação e articulação com os consumidores. O desenvolvimento territorial sustentável valoriza produtos, mas essa valorização depende do interesse e da disposição dos consumidores em pagar por eles”, frisa.
“Se a pressão climática e as adversidades se intensificarem, isso pode comprometer sistemas baseados nesse modelo, e teremos que pensar em medidas para sustentar essas produções. Caso contrário, vamos nos tornar dependentes de regiões menos impactadas”, completa.
As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios para a produção de frutas em Santa Catarina. A adoção de boas práticas agrícolas, o investimento contínuo em tecnologias inovadoras e a implementação de políticas públicas eficazes são pilares para um futuro mais resiliente. O setor dependerá da capacidade de antecipar, adaptar e gerenciar riscos de forma inteligente.
A colaboração entre governos, agricultores, empresas e a sociedade civil será essencial para consolidar essas soluções e garantir a sustentabilidade a longo prazo. Afinal, a agricultura, como um sistema complexo, deve se adaptar continuamente – como um rio que, diante de obstáculos, encontra novos caminhos para seguir.
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