Como a gripe aviária pode afetar seu prato e sua saúde?

IFSC VERIFICA Data de Publicação: 11 jun 2025 10:20 Data de Atualização: 12 jun 2025 11:14

Santa Catarina é o segundo maior exportador de carne de frango do Brasil, responsável por um quarto da produção nacional. Com qualidade mundialmente reconhecida, o setor teve o melhor desempenho de sua história no primeiro quadrimestre deste ano. No entanto, a confirmação de um foco de gripe aviária em uma granja no vizinho Rio Grande do Sul acendeu um sinal de alerta. O temor de que o vírus H5N1 se espalhe compromete não apenas a saúde das aves, mas toda a cadeia produtiva – da granja ao consumidor final. 

Milhares de pessoas trabalham no segmento avícola, que abrange desde o campo até o processamento. Nos últimos anos, Santa Catarina investiu em tecnologia e biosseguridade, tornando-se uma referência. Ainda assim, o que antes parecia uma preocupação distante hoje se traduz em embargos internacionais, instabilidade no mercado e receio da população quanto à segurança dos alimentos. 

Esta reportagem do IFSC Verifica investiga de que forma a gripe aviária pode afetar a sua saúde, o que você consome, quanto você paga e o ritmo da economia do estado. Para analisar esses diferentes aspectos, ouvimos três especialistas:

Sandra Tavares, professora do Câmpus Canoinhas do IFSC, mestra em Ciências dos Alimentos e doutora em Nutrição e Produção Animal;

Celso Bergmaier, professor do Câmpus São Carlos do IFSC, bacharel em Administração com ênfase em Agronegócios, mestre e doutor em Administração;

Vanessa Tuono, professora do Câmpus Florianópolis do IFSC, epidemiologista, mestra em Saúde Pública e doutora em Enfermagem. 

Um vírus antigo, uma ameaça atual 

A influenza aviária, ou gripe aviária, é uma zoonose viral altamente contagiosa que afeta várias espécies de aves domésticas e silvestres. Ocasionalmente, como explica a professora Sandra Tavares, do Câmpus Canoinhas, pode infectar mamíferos como ratos, gatos, cães, cavalos, suínos – e até seres humanos. A doença é de notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Embora esteja atualmente em evidência no noticiário, a gripe aviária não é um fenômeno recente. Foi registrada pela primeira vez na Itália, em 1878, sob o nome de ‘Praga Aviária’. Somente em 1955 passou a ser oficialmente reconhecida como Influenza A aviária. Já o primeiro caso documentado de infecção humana pela cepa H5N1 ocorreu em Hong Kong, em 1997.

Desde então, a enfermidade ganhou contornos de ameaça global. O vírus demonstrou alta capacidade de transmissão e letalidade em aves, além de provocar casos esporádicos em humanos – o que levou ao aumento da vigilância por parte das autoridades sanitárias internacionais. Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a OMSA hoje tratam a gripe aviária como prioridade de vigilância e resposta.

No Brasil, o primeiro caso foi detectado em 2023, em aves silvestres, e rapidamente contido. Em 15 de maio deste ano, pela primeira vez, o vírus foi encontrado em uma granja comercial, no município gaúcho de Montenegro. A repercussão foi imediata, uma vez que, dependendo da duração e da disseminação dos focos, os prejuízos podem chegar à casa dos bilhões de reais. 

Casos semelhantes em outros países ajudam a dimensionar o risco. Em 2014, os Estados Unidos enfrentaram um dos maiores surtos de gripe aviária da história, que levou ao sacrifício de mais de 50 milhões de aves e gerou prejuízos superiores a US$ 3 bilhões. Foram necessários anos para recuperar a produção e reconquistar os mercados. Situação semelhante ocorreu na China e em países da Europa, que hoje mantêm rígidos protocolos de biossegurança, monitoramento e contenção.

O Brasil participa de redes globais de vigilância animal. Em situações como a do Rio Grande do Sul, as autoridades brasileiras seguem protocolos estabelecidos, notificando imediatamente a OMSA e os países parceiros. A credibilidade do país como exportador, especialmente para mercados mais exigentes, depende dessa transparência. Sendo assim, qualquer foco interno logo se torna notícia internacional e exige respostas ágeis e coordenadas.

Historicamente, Santa Catarina se destaca na gestão de crises sanitárias no agronegócio. O controle da febre aftosa é um exemplo: o estado foi o primeiro a erradicar a doença no Brasil. Embora a vacinação dos bovinos tenha sido mantida até o ano 2000, o último caso registrado data de 1993. Assim, espera-se que essa experiência ajude a conter com agilidade um eventual surto de gripe aviária. 

Para Celso Bergmaier, professor do Câmpus São Carlos, uma ocorrência sanitária “é fator-chave para possíveis suspensões de exportação do produto de origem animal, podendo também retrair o consumo interno por desconfiança dos consumidores e afetar a cadeia produtiva. Isso reflete na geração de empregos, no movimento econômico e na arrecadação de tributos”. 

Como a gripe chegou ao galinheiro?

A gripe aviária é causada pelo vírus influenza A, com diferentes subtipos (como o H5N1) que circulam entre aves domésticas e silvestres. O contato entre essas aves é um dos determinantes para ocorrência de surtos na avicultura comercial ou doméstica. Além disso, a introdução e a disseminação do vírus também estão associadas a outras condições, como o trânsito de aves vivas, a criação de múltiplas espécies no mesmo ambiente e a exposição a habitats frequentados por espécies transmissoras.

As aves silvestres migratórias, especialmente as aquáticas, são hospedeiras naturais e reservatórios do vírus da gripe aviária. Em seus tratos respiratório e intestinal, elas podem carregar diferentes versões do agente infeccioso – chamadas de cepas –, que variam em capacidade de causar a doença dependendo do subtipo e da espécie atingida. Como conseguem conviver com o vírus sem apresentar sintomas, essas aves acabam espalhando-o ao longo de suas rotas migratórias, cruzando fronteiras e percorrendo grandes distâncias.

Os subtipos do influenza são mais frequentemente detectados em aves da ordem Anseriformes, como patos, cisnes, gansos e marrecos. A ordem Charadriiformes – que reúne mais de 350 espécies com ampla distribuição geográfica, muitas delas costeiras ou litorâneas – também hospeda o vírus, embora com menor frequência. Entre os representantes desse grupo estão gaivotas, maçaricos, vira-pedras, trinta-réis, batuíras e jaçanãs. Essas aves podem eliminar o vírus pelas fezes sem apresentar sintomas, contribuindo silenciosamente para sua propagação.

Por outro lado, aves domésticas terrestres, como galinhas e perus, não atuam como reservatórios naturais, mas são altamente suscetíveis à infecção por cepas transmitidas por aves silvestres. Patos domésticos e codornas também desempenham papel importante na cadeia de transmissão, atuando como elos intermediários entre aves silvestres e domésticas. 

De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), os subtipos dos vírus influenza A podem ser classificados em duas categorias: influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP), que podem causar graves sinais clínicos e altas taxas de mortalidade nas aves; e influenza aviária de baixa patogenicidade (IABP), que geralmente causam poucos ou nenhum sinal clínico. Segundo Sandra Tavares, a rápida propagação em granjas comerciais traz sérios prejuízos econômicos e representa risco para a cadeia alimentar. 

Qual o risco para a sua saúde?

Antes de mais nada, vale entender o seguinte: o vírus da gripe aviária não é transmitido pelo consumo de carne de frango ou ovos. A principal ameaça está no impacto sobre a produção e no risco de descontrole sanitário, não na segurança alimentar propriamente dita. “O vírus não é transmitido por carne ou ovos cozidos. Para garantir a segurança alimentar, é essencial manter os cuidados habituais: consumir alimentos bem cozidos, evitar produtos crus ou mal cozidos, e manter boa higiene ao manipular alimentos, lavando bem as mãos e os utensílios antes e após o preparo”, orienta Sandra.

No entanto, apesar de rara, a transmissão para humanos é possível. Conforme explica a professora Vanessa Tuono, do Câmpus Florianópolis, sempre que os vírus da influenza aviária circulam entre aves, existe o risco de surgirem casos humanos isolados. “O vírus pode sobreviver em produtos avícolas, como ovos e sangue. Contudo, não foi documentada infecção humana por via alimentar considerando o consumo de ovos e carne corretamente cozidos, ainda que de aves infectadas. No caso do H5N1, há potencial de transmissão por ingestão de produtos não cozidos – incluindo sangue cru – de aves domésticas infectadas”, reforça a docente.

Até o momento, os casos documentados de infecção verificaram-se, majoritariamente, entre trabalhadores com exposição direta a aves contaminadas. Outro ponto relevante é que não há evidências de transmissão entre humanos. Segundo a OMS, não existe registro no mundo de que o contágio tenha ocorrido de uma pessoa para outra. 

“Existe a probabilidade desse evento caso os vírus continuem a circular e sofram mutações que os tornem mais resistentes. No entanto, as evidências disponíveis indicam que estes que atualmente estão em circulação não adquiriram a capacidade de se transmitir de forma eficiente entre seres humanos. Por isso, no momento, considera-se improvável a ocorrência de transmissão sustentada entre pessoas”, explica Vanessa.

Os grupos mais vulneráveis são aqueles que atuam na cadeia avícola, incluindo produtores rurais, manipuladores de alimentos e médicos-veterinários, expostos direta ou indiretamente a aves infectadas (doentes ou mortas) ou a ambientes contaminados. A professora Sandra destaca que esse cenário demanda medidas sanitárias mais rígidas e controles de segurança rigorosos junto aos trabalhadores desses locais, como na utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs). “Além de uma atenção por parte dos produtores e funcionários aos sinais clínicos em aves, os órgãos oficiais devem ser notificados após suspeita. Embora a transmissão da gripe aviária para humanos seja rara, a exposição a aves infectadas ou inalação de partículas contaminadas pode causar a doença, sendo que os trabalhadores de granjas e incubatórios têm um risco maior”, alerta Sandra.

Nos humanos, a gripe aviária pode se manifestar desde quadros leves, como febre e tosse, até formas graves, como pneumonia e, em casos mais extremos, morte. Sintomas gastrointestinais – como náuseas, vômitos e diarreia – também são frequentes. No estágio inicial, é comum o aparecimento de febre alta (igual ou superior a 38°C) e tosse, seguida de desconforto respiratório. Dor de garganta ou coriza são menos frequentes. Alguns pacientes ainda relatam dores abdominais, encefalite e sangramentos do nariz ou das gengivas. Nos casos mais severos, podem ocorrer complicações como insuficiência respiratória, falência de múltiplos órgãos, choque séptico e infecções bacterianas ou fúngicas secundárias. 

Para identificar o tipo de vírus, é necessário realizar diagnóstico laboratorial, aliado ao histórico de exposição do indivíduo infectado. De acordo com professora Vanessa Tuono, a vigilância epidemiológica e a notificação de casos suspeitos são obrigatórias e têm sido aplicadas desde o primeiro caso diagnosticado. “A partir dos anos 2000, a gripe aviária passou a ser considerada como uma emergência global e monitorada pelos principais órgãos de controle e prevenção de doenças no mundo. Todos os casos suspeitos devem ser submetidos à coleta de amostra de secreção nasofaríngea o mais rápido possível, seguindo a mesma forma da coleta para diagnóstico dos demais vírus influenza”, aponta.

Em caso de surtos entre aves, as secretarias de Saúde e o Ministério da Saúde acionam protocolos específicos: pacientes com sintomas respiratórios graves que tiveram contato com aves são testados para H5N1, assegurando controle imediato. Nesses casos, os hospitais solicitam exames especializados a laboratórios de referência credenciados pela OMS, que têm capacidade de diferenciar os vírus de influenza aviária e humana. O país conta atualmente com três desses centros: o laboratório de referência nacional Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), localizado no Rio de Janeiro; e dois laboratórios de referência regional, o Instituto Adolfo Lutz (IAL), em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. Essa estrutura permite uma resposta rápida e, em caso de suspeita confirmada, são tomadas medidas de isolamento do paciente e rastreamento de contatos, evitando a propagação local.

Existe vacina contra a gripe aviária para humanos?

Atualmente não há vacina disponível no Brasil para uso humano contra a gripe aviária. Contudo, países como os Estados Unidos e membros da União Europeia estão mais avançados na criação de estoques para caso o vírus provoque uma pandemia humana. “Existem algumas vacinas antigas aprovadas para uso em caso de emergência e outras em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, a FDA [Food and Drug Administration] já aprovou, desde 2007, três imunizantes destinados à cepa H5N1 da gripe aviária”, informa Vanessa. 

Enquanto isso, recomenda-se a vacinação sazonal contra a influenza comum. Ainda que não ofereça proteção específica contra o H5N1, ela reduz o risco de coinfecções e complicações. O Guia de Vigilância para Influenza Aviária em Humanos orienta que a população deve evitar se aproximar, tocar, recolher ou ter qualquer contato com aves doentes ou mortas, além de relatar a identificação da ocorrência às autoridades locais de agricultura e saúde. Para trabalhadores expostos a aves ou ambientes contaminados, são recomendadas precauções adicionais: evitar tocar boca, olhos e nariz após interação com animais ou superfícies contaminadas; lavar bem as mãos com água e sabão; trocar de roupas ao final do expediente; entre outras medidas de biossegurança.

Sandra Tavares reforça que, apesar de o risco à saúde humana ainda ser considerado baixo, as consequências para as aves são graves. “A gripe aviária representa uma ameaça significativa tanto para a saúde pública quanto para a economia. Mas o impacto sanitário sofrido pelas aves é mais expressivo devido ao alto índice de mortalidade. A doença é altamente contagiosa e letal para as aves, levando a mortes em grande escala e à necessidade de abate profilático [preventivo] de aves saudáveis em áreas afetadas”, destaca a docente. 

Em outras palavras, a detecção de um único foco ativo pode levar ao sacrifício não apenas das aves infectadas, mas de todo o plantel de uma granja e até de aviários próximos. Isso amplia o prejuízo: além das perdas diretas, há impacto na produção futura, com a redução do fornecimento de ovos para incubação e de pintinhos de um dia – essenciais para reiniciar o ciclo produtivo do frango.

Como a gripe aviária afeta os preços?

Embora o impacto sanitário nos humanos seja limitado, as consequências econômicas de um surto são potencialmente devastadoras. O alerta sanitário é ainda mais sensível em Santa Catarina, segundo maior exportador de carne de frango do país, atrás apenas do Paraná. No primeiro quadrimestre deste ano, o estado foi responsável por 22,9% do volume e 24,8% da receita das exportações brasileiras do setor.

Em abril, Santa Catarina exportou 108,3 mil toneladas de carne de frango, com um faturamento de US$ 229,7 milhões. Os números representam crescimentos de 2,1% em volume e 4,6% em receita em relação a março. No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, o estado atingiu um recorde histórico, com 415,3 mil toneladas embarcadas e receita de US$ 846,7 milhões – altas de 8,9% e 17,3%, respectivamente, em comparação com o mesmo período de 2024.

Os principais destinos da carne de frango catarinense no período foram Arábia Saudita, Países Baixos, China e Japão, responsáveis por quase metade das exportações. A China, principal compradora, aumentou suas importações em mais de 30% em volume e 43% na receita, em relação ao ano anterior. 

Atualmente, o modelo predominante na avicultura catarinense é intensivo, com alta concentração produtiva e cadeias integradas. Todavia, essa organização cria ambientes propícios para a rápida disseminação de doenças se a biosseguridade for insuficiente. Enquanto os grandes produtores contam com sistemas rigorosos de controle, as criações familiares e de menor escala, muitas vezes, apresentam menor capacidade de prevenção, o que amplia a vulnerabilidade do setor como um todo.

“Em geral, os setores do agronegócio mais afetados são aqueles com alta dependência de mão de obra e menor capacidade de adaptação a mudanças, como a agricultura familiar. Esse segmento geralmente opera com menor escala e recursos, pode ser mais vulnerável às crises, como mudanças climáticas e sanitárias, além de ter dificuldades de acesso a mercados e financiamentos. As cooperativas e os grandes frigoríficos, por sua vez, podem enfrentar desafios, mas tendem a ter maior resiliência devido à sua estrutura e capacidade de investimento”, afirma a professora Sandra.

Assim, a confirmação de um surto sanitário pode abalar fortemente os mercados interno e externo. Segundo o professor Celso Bergmaier, uma crise de gripe aviária afeta toda a cadeia produtiva: produtores de ovos galados, produtores rurais, empresas frigoríficas, de tecnologia e de nutrição animal. Ele destaca que restrições na produção reverberam em outros setores. “Como agronegócio é um vetor econômico importante em Santa Catarina, todos demais segmentos acabam sendo atingidos. Por exemplo: o setor de transportes, máquinas e equipamentos, e o comércio em si”, complementa. 

Mesmo distante das granjas, o consumidor final sente os efeitos no bolso. “Um surto pode ter impactos significativos no que chega ao prato do consumidor em termos de preço pago pela carne de frango e ovos”, salienta Sandra. O aumento dos preços e a alteração no abastecimento são realidades possíveis diante da situação. Se a doença reduzir a oferta de frango e ovos, a tendência é que subam os valores nas prateleiras. Por outro lado, o excedente de produto redirecionado ao mercado interno pode provocar uma queda temporária de preços, até que um novo equilíbrio seja alcançado. 

O professor Celso Bergmaier considera que existe uma tendência de elevação de preços, mas a dimensão desse impacto depende da gravidade e da extensão dos focos da doença. “Se a crise sanitária for muito aguda, poderá haver uma interrupção de oferta pela morte acentuada de animais ou pelo vazio sanitário que precisa ser feito nas granjas para retomada da produção. Neste caso, uma oferta menor de carne de frango vai elevar os preços aos consumidores”, observa.

Depois da confirmação do caso no Rio Grande do Sul, dezenas de países – entre eles União Europeia, China, Coreia do Sul, México, Canadá e Arábia Saudita – impuseram embargos temporários à carne de frango brasileira. Ainda que a maioria das restrições atinja exclusivamente o estado gaúcho, os reflexos em Santa Catarina são inevitáveis, devido à interdependência da cadeia produtiva e à percepção de risco nos mercados internacionais.

A boa notícia é que o Brasil poderá voltar a ser considerado livre da gripe aviária a partir de 18 de junho, o que permitirá o restabelecimento das exportações para os países que suspenderam a compra do produto. A data marca o fim do chamado ‘vazio sanitário’ – período de 28 dias correspondente ao ciclo do vírus H5N1 – iniciado em 21 de maio, após a conclusão da desinfecção da granja em Montenegro. Esse intervalo é essencial para garantir que não restem vestígios do vírus no ambiente antes da retomada das atividades no local.

De acordo com o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, esse único caso registrado em uma granja comercial foi totalmente controlado. Com a ausência de novos focos em estabelecimentos similares, o país terá cumprido o prazo exigido pelas normas sanitárias. Apesar disso, o encerramento do período não significa que todos os mercados internacionais serão reabertos de imediato.

O que o poder público está fazendo para conter a doença?

Dada a importância estratégica da avicultura em Santa Catarina, especialistas apontam que a vigilância constante é essencial. No entanto, conter a gripe aviária requer mais do que monitoramento: é necessário investir em educação sanitária e promover uma integração efetiva entre instituições de pesquisa, setor produtivo e governo. O Mapa tem desenvolvido regulamentações para reforçar a segurança sanitária e atuado em parceria com os órgãos de fiscalização estaduais. Para o professor Celso, “a principal ferramenta para auxiliar neste processo é informar produtores sobre as medidas sanitárias preventivas e intensificar a fiscalização, em especial em regiões de fronteiras, de grandes fluxos e nas divisas de estados”.

Santa Catarina já demonstrou capacidade técnica em situações anteriores, como no enfrentamento da febre aftosa. Agora, o desafio exige ações coordenadas em diferentes frentes. “É fundamental investir em pesquisa, desenvolvimento de testes rápidos e acessíveis, fortalecer a vigilância ativa em áreas rurais em torno das granjas ou incubatórios comerciais, reforçar a biossegurança, promover a educação e informação a respeito do tema gripe aviária, e fortalecer a coordenação e transparência das informações entre diferentes órgãos”, argumenta Sandra.

Para a docente, as políticas públicas brasileiras de mitigação de riscos sanitários são, em geral, adequadas para lidar com um surto de gripe aviária. Ainda assim, ela considera crucial que os esforços sejam aprimorados em áreas como coordenação, comunicação, vigilância, biossegurança e pesquisa. “É essencial uma articulação mais estreita entre o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Ministério da Saúde e outras entidades envolvidas, como as secretarias estaduais e municipais de Saúde, para garantir uma resposta integrada e eficaz, especialmente quando há possibilidade de transmissão para humanos”, avalia.

Em momentos como este, o papel do poder público é não apenas no controle da doença, mas também no combate à desinformação. A transparência na divulgação de dados e o diálogo aberto entre governo, setor produtivo e sociedade são vitais para manter a credibilidade do setor avícola e a confiança do consumidor. Essas práticas são decisivas para evitar pânicos desnecessários e preservar a estabilidade econômica do agronegócio durante crises sanitárias. 

“Comportamentos inesperados, aumento súbito de casos, alteração na gravidade dos sintomas são alertas epidemiológicos que indicam a necessidade de reforço na vigilância. Esses alertas não são catastróficos ou sentenças de uma nova pandemia. É papel da vigilância também orientar a população em geral e desmentir fake news, que muitas vezes usam os dados para criar pânico, com intenções duvidosas”, alerta a professora Vanessa. “As pessoas encontrarão nos principais meios de comunicação os esclarecimentos e as informações a respeito da gripe. Se tiver dúvidas sobre esse assunto, procure os sites oficiais”, complementa Sandra.

Em um cenário de alta interdependência entre segurança sanitária, economia e abastecimento, a gripe aviária revela-se muito mais do que uma preocupação veterinária, pois tem potencial para afetar o prato do consumidor, a saúde pública e a sustentabilidade de um mercado. Diante de incertezas, a confiança na ciência e na transparência do poder público torna-se fundamental. Ao consumidor, cabe buscar a informação qualificada; ao poder público, garantir que essa confiança seja justificada por ações consistentes. Afinal, o que está em jogo vai além do frango no prato: é a segurança alimentar e o futuro da fonte de renda de milhares de famílias em todo o país.

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