ENSINO Data de Publicação: 04 out 2020 21:03 Data de Atualização: 14 out 2020 16:08
Graduação é um tempo de experimentar. E nada melhor do que testar suas ideias na prática, numa interação real com uma marca consolidada no mercado. Foi a experiência que teve uma turma do curso superior de tecnologia em Design de Moda do Câmpus Araranguá, num projeto que também serve como piloto para o processo de introdução da extensão nos currículos do IFSC.
Na disciplina de Desenvolvimento de Coleção Avançado, estudantes da quinta fase do curso entraram em contato com marcas da região de Araranguá para criar uma coleção baseada na identidade e no público-alvo da empresa escolhida. Como explica a professora Letícia Cunico, a proposta é testar uma coleção comercial, já que a coleção conceitual é trabalhada na sexta fase, quando acontece o I’Fashion, desfile de encerramento do curso.
“No curso de Design de Moda temos disciplinas relacionadas ao desenvolvimento de coleção. Na sexta fase, é desenvolvida uma coleção autoral, que traz um tom mais conceitual, aproximando-se das roupas que vemos nas passarelas, um pouco diferente do que temos no dia a dia. Já na quinta fase, a turma desenvolve uma coleção comercial. E a proposta foi trabalhar com empresas da região, até para pensar no momento que o estudante for se inserir no mundo do trabalho, conseguindo captar quem é a persona que consome a marca e que compra os produtos, para que tenham essa sensibilidade de desenvolver uma coleção para pessoas com determinadas características”, explica Letícia.
Trabalho e reconhecimento
Foram desenvolvidos trabalhos inspirados em 16 empresas do sul de Santa Catarina. Marcas como Gandhi, Kalline, Lança Perfume, Bambollina e Vida Marinha serviram de inspiração para 19 estudantes criarem uma coleção, com dez looks, baseada em tendências da moda, no público-alvo das empresas e no que elas costumam desenvolver. Para chegar até a coleção final, foram realizados questionários com as marcas e muita pesquisa na internet, o que foi necessário em função das medidas de distanciamento social.
“O IFSC está preparando a gente do jeito certo. Uma prova disso foi esse desenvolvimento de coleção, um trabalho real, para uma empresa que existe. Recebi um retorno que não esperava e fiquei lisonjeada”, conta Willa Sehnem, que desenvolveu uma coleção para a marca Francesca Loungewear, de Criciúma, especializada em roupas femininas confortáveis e elegantes. Willa recebeu um retorno positivo tanto da professora quanto da proprietária da marca, que aprovou a coleção.
“Em primeiro lugar fiquei muito feliz em ser uma marca escolhida. Acho que uma instituição de ensino e empresas locais atuando juntas aproximam o aluno da realidade do mercado de trabalho. No caso da Willa, ela foi muito sensível e muito apurada no trabalho, conseguiu mergulhar no conceito da marca e desenhar peças muito coerentes com o perfil Francesca”, afirma Mônica Castro, fundadora da marca Francesca.
Desafio e experimentação
A aluna Stella de Souza já estagiava na empresa Make Jeans, de Araranguá, e aproveitou para criar uma coleção voltada para a empresa. Conhecer internamente a marca ajudou a pensar a coleção e, a partir de entrevistas com a proprietária e com a mudança da empresa para a beira do rio Araranguá, Stella teve uma inspiração: o rio e suas cores em constante mutação.
“Levei aproximadamente dois meses para lapidar a ideia e ir atrás de mais fontes de moda, inspirações em desfiles, catálogos e imagens que pudessem inspirar a coleção. Foi muito gratificante a experiência de se desafiar e desenvolver em mim algo que antes eu havia demonstrado dificuldade. Ao longo do processo eu fui entendendo melhor como funcionava o desenvolvimento da coleção e consegui externalizar o que eu imaginava de conceito para a ‘cores do rio’”, conta Stella, que antes do desafio encontrava dificuldades de trabalhar com desenvolvimento de coleção.
“Como a marca é predominantemente feminina, o conceito estava ao redor de fazer com que o rio fosse um símbolo dessa mulher de Araranguá que vestisse uma peça da Make. O rio flui, muda de cor, é água que contorna, que fica calmo, que fica agitado. E como o rio é conhecido por sua característica de mudar de cor, a coleção teria essa variação de cores como cartela, conseguindo ser flexível e expressivo como a água”, explica Stella.
O trabalho também serviu para que a turma se desafiasse à experimentação, como fez Thauanne Aleixo. Acostumada a trabalhar com coleções femininas, a aluna decidiu desenvolver uma coleção para a marca Gandhi, cujo foco é o público masculino. “Foi um desafio bem grande realizar este trabalho, porque saí completamente da minha zona de conforto. Desenvolver uma coleção masculina não era o que eu me imaginaria fazendo, até porque nos semestres anteriores eu sempre desenvolvia uma coleção feminina”, lembra Thauanne.
Inspirada nas plantas medicinais, tema que remente ao autoconhecimento e está relacionado com o público-alvo da marca, a aluna criou uma coleção que se adequasse ao estilo da empresa mas propusesse algo mais. “Tentei trazer algo diferente do que a marca está acostumada a trabalhar. É uma marca muito básica, com cores neutras. Explorei isso ao máximo e tentei trazer algo um pouco diferente para incrementar e associar ao tema que estava trabalhando”, afirma.
As coleções criadas pela turma estão disponíveis nesta apresentação. De acordo com a professora Letícia Cúnico, a proposta também é uma experiência para a implantação do processo de curricularização das atividades de extensão no curso de Design de Moda. Resolução do Conselho Nacional de Educação de 2018 estabelece, entre outros pontos, que as atividades de extensão devem compor no mínimo 10% do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação.