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Existe uma previsão para o fim da pandemia?

IFSC VERIFICA Data de Publicação: 23 jun 2020 09:59 Data de Atualização: 18 fev 2021 17:52

O anúncio de que se tratava de uma pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), foi feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 11 de março de 2020. Desde então, há mais de três meses, o que todos querem saber é quando essa situação irá acabar.

No início deste mês, vimos a Nova Zelândia comemorar o fato de não ter mais casos ativos de coronavírus, tornando-se um dos primeiros países do mundo a voltar à normalidade pré-pandemia, suspendendo todas as restrições impostas para controlar a disseminação do vírus. No entanto, uma semana depois, dois casos voltaram a ser registrados e nos mostraram que a luz no fim do túnel pode não estar tão próxima.

Afinal, podemos falar de um fim da pandemia?

Segundo a epidemiologista e professora do curso de Enfermagem do Câmpus Florianópolis do IFSC, Vanessa Jardim, a resposta é sim, mas isso em termos de pandemia, já que a doença será algo presente nas nossas vidas. “A gente espera que sim, que haja um fim do estado de pandemia. Agora o fim da doença, o fim da disseminação da Covid-19 entre a população, é algo extremamente incerto de se dizer”, afirma a doutora em Enfermagem na área de Indicadores de Saúde.


A professora explica que conviver com a doença será uma realidade, mesmo que uma vacina seja desenvolvida. “Até hoje convivemos com surtos de Influenza, apesar de termos vacina e tratamento específico”, comenta ao relembrar a epidemia da Influenza, que também é uma síndrome aguda respiratória como a Covid-19.

Em que fase estamos no momento?

Nesta segunda-feira (22), a Organização Mundial da Saúde alertou que a pandemia continua acelerando no mundo e que seus efeitos serão sentidos por muitos anos. Mais de 8,8 milhões de casos de pessoas infectadas pelo coronavírus já foram reportados à OMS e mais de 465 mil pessoas morreram por causa da Covid-19 em todo o mundo.

Se você acompanha os noticiários, já deve ter visto diversas reportagens falando do pico da curva da doença. No mês passado, a Secretaria da Saúde de Santa Catarina revisou a data e projetou que o pico da pandemia do coronavírus no Estado deve ocorrer até o fim de junho. Se você está confuso achando que já leu ou ouviu que o pico seria em abril ou maio, a gente explica.

O pico da curva da doença muda, uma vez que ela se comporta de maneira diferente de acordo com as medidas que são tomadas no local para a contenção da circulação do vírus. A professora Vanessa revela que todo ciclo de uma doença infectocontagiosa ocorre em forma de curva ascendente, passando para um período de platô para depois começar a ser descendente. “Se são tomadas medidas para atrasar ou impedir a circulação extrema do vírus, a gente começa a ter um aumento do número de casos mais discreto e pode ser que não haja um pico ou que a gente não veja este pico”, afirma. 

De acordo com a epidemiologista, em Santa Catarina está havendo um comportamento semelhante entre os municípios de forma geral. No gráfico abaixo, extraído de uma aplicação on-line interativa desenvolvida por pesquisadores do Câmpus Lages do IFSC, é possível visualizar os casos confirmados de Covid-19 no estado:

 

Como é possível perceber, ainda estamos subindo na curva. “Não é pra ser alarmante, mas olhando do ponto de vista do ciclo da doença infecciosa e do ciclo epidemiológico, ainda estamos em um período ascendente”, ressalta Vanessa. A professora do IFSC alerta ainda que essa ascensão vem junto com o período de inverno, em que outras síndromes agudas respiratórias normalmente já acometem a população.

Quando chegaremos ao platô da curva?

A gente ainda não chegou ao estágio de platô na curva, que é quando grande parte da população já se contaminou e é possível contar com a resposta imunológica de forma que a doença não siga se espalhando. Mas é aí que está o grande problema da atual pandemia. “A gente ainda não conseguiu definir no padrão populacional qual é a resposta imunitária ao novo coronavírus”, explica Vanessa.

Para entender melhor a questão da curva da doença, assista à live realizada no canal do IFSC do YouTube com o tema “O que os números revelam sobre a pandemia no Brasil”

Como saber que chegamos ao fim?

Diferentemente de quando a OMS declarou que estávamos vivendo uma pandemia, a professora do IFSC afirma  que, provavelmente, não teremos um grande anúncio para avisar que chegamos ao fim desta situação. “Isso só vai acontecer se a gente encontrar uma vacina e aí é um processo bem longo: descobrir a vacina, produzir a vacina, tornar a vacina disponível para a população em escala global e aí podemos falar de um controle global da pandemia”, afirma. Neste post do IFSC Verifica abordamos a questão de por que é tão demorado produzir uma nova vacina.

Enquanto os cientistas não desenvolverem uma vacina para combater o novo coronavírus, o que deve ser feito é tomar medidas que evitem a circulação exacerbada do vírus, a contaminação excessiva da população e um número elevado de mortos.

Olhando para a história, temos exemplos muito diferentes de pandemias para buscarmos algum parâmetro que nos permita estimar um fim para a atual doença. O professor de história do Câmpus Jaraguá do Sul-Centro, Jean Raphael Zimmermann Houllou, elenca a gripe russa, do século XIX, e a gripe espanhola, do século XX, que foram datadas em poucos anos. Já a varíola teve seus primeiros registros inferidos aos faraós do Antigo Egito e assolou a humanidade durante milhares de anos até ser considerada erradicada apenas no final do século XX por meio da vacinação em massa. A cólera, por sua vez,  é uma doença ainda presente.

Se tiver interesse em saber mais sobre pandemias ao longo da história, suas consequências, curiosidade e, especialmente, o que podemos aprender com essa pandemia do coronavírus, escute este episódio do podcast do IFSC Ciência para Seus Ouvidos.

Quais variáveis interferem para chegarmos ao fim da pandemia?

A principal variável que nos permite vencer o coronavírus é a imunidade da população, ou seja, as pessoas estarem biologicamente protegidas do vírus. Segundo a epidemiologista do IFSC, essa imunidade pode ser conseguida pelo contato com o agente infeccioso de forma natural – que significa ser contaminado com a doença e gerar anticorpos – e a outra maneira é a vacina, porque a vacina induz o sistema imunológico a desenvolver uma defesa e, com isso, é possível proteger a população ao seu redor. 

Então por que não expor toda a população ao vírus?

É neste ponto que entra toda a discussão da capacidade do sistema de saúde. "Não dá pra fazer isso porque não temos condições de tratar os doentes e, como há muitos doentes entre os contaminados, isso seria eliminar conscientemente os indivíduos mais vulneráveis, o que não é ético nem tolerável”, destaca Vanessa, lembrando que alguns países pensarem nesse tipo de ação – como o Reino Unido - , mas recuaram porque não funcionou. Segundo a professora, em uma doença como a Covid-19, o único meio seguro para erradicar a doença é a vacina.

O que fazer até que se tenha uma vacina?

As estratégias de distanciamento social, testagem em massa, higienização das mãos e uso de máscaras são essenciais para conter ou diminuir a circulação do vírus enquanto não é possível tratar todos os infectados. “Isso com certeza alarga a curva epidêmica porque estaremos em um período maior sem imunidade ao vírus, mas também estamos contendo o número de doentes e mortos pela nova doença”, afirma Vanessa.

Enquanto cientistas no mundo todo estão atrás de uma vacina, você pode fazer sua parte para que a gente chegue o quanto antes ao fim da pandemia.

 

Em uma entrevista dada em abril, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reforçou que o relaxamento de medidas de isolamento social ou quarentena não significa o fim da pandemia de Covid-19. "Queremos reforçar que relaxar restrições não é o fim da epidemia em país nenhum. Acabar com a epidemia vai requerer um esforço contínuo por parte de indivíduos, comunidades e governos para continuar a suprimir e controlar o vírus", afirmou.

Já posso visitar minha mãe e sair só com uns poucos amigos?

Esta é uma situação delicada, pois o que a OMS, o Ministério da Saúde e, no nosso caso, o Governo de SC e os municípios têm feito são recomendações de distanciamento social, evitar aglomerações e, se for possível, ficar em casa. Segundo a epidemiologista Vanessa, os estudos científicos têm apontado que a transmissão do coronavírus ocorre, principalmente, quando se está entre pessoas contaminadas (assintomáticas ou não) por um período muito longo. “Não deixa de ser uma escolha pessoal, mas muitas questões precisam ser avaliadas se alguém decide fazer isso, porque para transmissão do vírus é necessário contato”, comenta. 

De acordo com a professora do IFSC, algumas questões que tornam essa situação um pouco mais segura, se for necessário, é evitar o contato e fazer isso em ambientes abertos, evitando o compartilhamento de espaços, uma vez que esse tipo de contato pode gerar a transmissão do vírus. “Vale sempre a reflexão pessoal: se eu sou uma pessoa que preciso me expor constantemente por questões de trabalho ou atividades necessárias que eu realizo, eu vou querer expor meu familiar - membro de grupo de risco - ao meu contato sabendo que talvez eu tenha sido exposto ao vírus mesmo sem apresentar sintomas?”, destaca Vanessa.

Quando a vacina for descoberta, será vida que segue?

Se a descoberta de uma vacina pode representar o fim da pandemia em termos médicos, não podemos nos esquecer do que essa doença tem causado na sociedade como um todo - e não só em quem é contaminado ou atingido direta ou indiretamente pelo coronavírus. De acordo com a professora de Sociologia do Câmpus Criciúma, Sabrina Rosa Paz, as desigualdades sociais que sempre existiram e que estão sendo escancaradas neste momento, além de terem sido agravadas durante a pandemia, serão conservadas. 

Por isso, é difícil falar de um fim da pandemia em termos sociais. “A pandemia teve como efeito o que podemos chamar de uma aceleração de processos que já estavam em curso, como, por exemplo, o desemprego e o crescimento do trabalho informal e o aumento progressivo da educação a distância”, destaca Sabrina.

E o fim dos impactos econômicos?

Se por um lado estamos ansiosos aguardando a descoberta de uma vacina para podermos chegar ao fim da pandemia em termos de saúde, por outro, teremos um longo caminho de recuperação econômica pela frente. O professor da área de Gestão e Negócios do Câmpus São Miguel do Oeste, Felipe Cintra, menciona estudos feitos pelos organismos financeiros internacionais, como o FMI, e pelas agências de análise de riscos, que apontam a volta de um nível de atividade econômica similar ao que se tinha antes da pandemia a partir do primeiro semestre do ano que vem, mas isso em um cenário bem otimista e em termos globais. “Em outros cenários, temos relatos de que a gente pode demorar até 2023 para chegar ao nível de atividade econômica que tínhamos antes da pandemia”, afirma.

Ao analisarmos a situação econômica no Brasil, a previsão é ainda pior. “Quando você tem um ambiente de incerteza, não só do ponto de vista sanitário e global, mas também das regras do próprio funcionamento do país, que é o que acontece no Brasil, dificulta ainda mais responder. Pra cá, o próprio Banco Central vem trabalhando com um cenário de 2022 para 2023”, destaca o professor.

Para Cintra, é muito difícil responder quando vamos conseguir sair dessa pandemia.

Vida pós-pandemia

Muito tem se falado sobre como será a vida pós-pandemia e a certeza de que teremos um “novo normal”. Um hábito que deveria ser incorporado na nossa rotina, segundo a epidemiologista Vanessa, é a etiqueta respiratória:

Enquanto não existir uma vacina para o coronavírus, a professora de Sociologia do IFSC, Sabrina Paz, acredita que haverá uma “nova normalidade” com o estabelecimento de regras e medidas de proteção, especialmente, nos lugares públicos e ambientes de trabalho. A docente espera que, no período pós-pandemia, possamos pensar e agir de forma mais sistêmica.

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