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Qual a melhor forma de medir a temperatura do corpo?

IFSC VERIFICA Data de Publicação: 04 ago 2020 14:33 Data de Atualização: 21 mai 2021 19:10

A medição da temperatura corporal das pessoas que circulam em espaços públicos, como estabelecimentos comerciais, clínicas, transporte coletivo ou mesmo em barreiras sanitárias, é uma das medidas preventivas adotadas em todo o mundo para evitar a propagação do novo coronavírus. Em Santa Catarina, cada município detalha as regras para esse procedimento. No caso de Florianópolis, por exemplo, as pessoas que estejam com temperatura acima de 37,8 graus devem ser impedidas de entrar nos estabelecimentos e encaminhadas ao serviço Alô Saúde (conheça essa e outras normas no Decreto Municipal 21.459).

O equipamento mais utilizado nesses contextos é o termômetro digital de infravermelho, que permite a aferição da temperatura sem que haja contato físico entre a pessoa examinada e quem opera o aparelho. Há, contudo, diferentes tipos de termômetros. Além do infravermelho, em evidência neste momento de pandemia, há também os termômetros digitais e os de mercúrio – estes últimos, em processo de obsolescência. Independentemente do tipo de termômetro que se utiliza para aferir a temperatura do corpo e identificar se há ou não um processo febril, é importante saber a forma correta de utilizar o equipamento e também os contextos em que é necessário verificar a febre.

Nós conversamos com dois pesquisadores do IFSC para este post e vamos abordar as seguintes questões:

- Entender o que é febre, o que ela pode indicar e como proceder para baixá-la;
- Identificar os diferentes tipos de termômetros e como utilizá-los corretamente para fazer a aferição da temperatura corporal.

O que é a febre? O que ela indica?

O professor Inácio Alberto Pereira Costa, que atua na área de Saúde no Câmpus Florianópolis, explica que a febre geralmente indica uma reação do organismo a algum tipo de infecção. A temperatura média corporal costuma variar entre 36 e 37,3 graus Celsius. Mais do que isso caracteriza a febrícola (até 37,8 graus), a febre (acima de 37,8 até 39 graus) e a febre alta (mais de 39 graus). 

Ao se constatar a ocorrência de febre com uso de um termômetro, deve-se observar se há outros sintomas associados a ela – no caso da Covid-19, os mais comuns são tosse, falta de ar, falta de paladar e cansaço, de acordo com o professor, que é doutor em Enfermagem. Ele enfatiza também que é importante sempre procurar orientação médica em caso de febre, evitando, principalmente, a automedicação. “Muitas vezes a febre é um dos sintomas de alguma condição clínica que demanda um tipo específico de medicamento, e não outro. Por isso o recomendado é só tomar medicamentos para baixar a febre com orientação médica, respeitando a dose e a frequência”, explica.

Outro alerta que o professor faz é que nem sempre um aumento da temperatura do corpo significa febre. Há alterações de temperatura que são aceitáveis em condições normais. Após a prática de atividades físicas, por exemplo, é comum que haja uma oscilação. Mulheres em período fértil também costumam ter a temperatura corporal elevada. 

Como medir corretamente a temperatura corporal?

Identificar se há febre apenas pelo contato da mão ou do pulso com o rosto da pessoa examinada pode ser válido apenas como uma primeira “impressão empírica” do problema, mas não é recomendável, de acordo com o professor Inácio Costa. “Numa primeira impressão empírica, você pode sentir alguma alteração na temperatura da pessoa. Mas é preciso fazer a aferição com uso de um termômetro para mensurar a temperatura, identificar se há febre, se é alta ou não, e proceder dependendo do caso”, recomenda.

O indicado para situações em que há suspeita de febre é fazer a aferição com uso de um termômetro digital, que é encontrado facilmente nas farmácias e tem preço acessível. Basta seguir as instruções do fabricante, “zerando” o termômetro e colocando o aparelho sob a axila da pessoa examinada. Após o tempo necessário para a aferição, o termômetro emite um sinal sonoro e mostra, no visor digital, a temperatura do paciente. O professor Inácio Costa salienta que, antes e após o uso, é importante higienizar o aparelho com álcool.

Outro ponto a observar é que a medição será mais precisa com o paciente examinado em repouso há pelo menos cinco minutos, num ambiente confortável. A oscilação da temperatura do ambiente pode causar imprecisões nas leituras – inclusive indicando temperatura menor que 36 graus.

Sempre é preciso fazer algo para baixar a febre?

A febre indica que o organismo está reagindo a algum agente infeccioso, mas tomar providências para baixá-la não implica que isso force o organismo a deixar de reagir. “Pelo contrário, baixar a febre ajuda o organismo a atuar nesse processo de defesa, a trabalhar para combater a infecção”, esclarece. Além de medicamentos específicos com função antitérmica, com orientação médica, é possível também adotar procedimentos como banho morno ou compressas de água fria no corpo para baixar a temperatura.

Controlar a febre é essencial principalmente nos casos de temperaturas acima de 39 graus, que caracterizam a febre alta. Nesse tipo de situação é preciso necessariamente de acompanhamento médico numa unidade de saúde. 

Quais os tipos de termômetros existentes no mercado, hoje? Existe algum mais recomendado?

São três tipos de termômetros utilizados para medir a temperatura do corpo. Os digitais de infravermelho, que se popularizaram com a pandemia do novo coronavírus, são o modelo mais caro, mas têm algumas vantagens. “Uma delas é que o termômetro infravermelho permite que se faça a aferição da temperatura sem contato físico. Além disso, a medição leva apenas alguns segundos”, esclarece Inácio Costa. Os termômetros digitais são os mais recomendados para uso doméstico: são acessíveis e de simples operação, além de serem também precisos. “O termômetro digital exige contato. Ele é posicionado na axila do paciente e manuseado por quem vai fazer a leitura, então é preciso mantê-lo higienizado após cada uso”, observa o professor. Os termômetros líquidos, que geralmente têm mercúrio na sua estrutura, estão cada vez mais em desuso. “Eles têm a vantagem de não precisar de bateria, mas como têm mercúrio, que é um metal tóxico que pode causar danos à saúde e ao ambiente, isso pode ser perigoso caso ele venha a se quebrar”, ressalta Inácio Costa. Outro aspecto negativo do termômetro de mercúrio é seu manuseio pouco prático, pois para que o filete de mercúrio se posicione no lugar correto antes da medição, é preciso “sacudir” o aparelho, e isso pode provocar quedas ou acidentes.

O mais recomendado para uso doméstico, portanto, é o termômetro digital, que tem manuseio fácil e permite uma leitura precisa e objetiva. O infravermelho, por conta de sua relação custo-benefício, pode ser um investimento desnecessário para quem só faz uso ocasional do aparelho. Já o de mercúrio é o menos recomendado.

Termômetros de infravermelho não causam danos à saúde: cuidado com a desinformação!

Têm circulado nas redes sociais boatos sobre possíveis riscos do uso de termômetros infravermelhos. Porém, como o professor Inácio Costa enfatiza, esse é o modelo de equipamento mais recomendado, no momento pandêmico, para fazer a aferição de temperatura em locais públicos. Várias agências de checagem já desmentiram o conteúdo malicioso divulgado pelas redes de que esses termômetros trariam danos à saúde (como a AFP Checamos, a Lupa e a Aos Fatos). O recomendado é que os termômetros sejam utilizados de acordo com a indicação dos fabricantes, que orientam que a medição seja feita direcionando o equipamento para a testa, com a pessoa examinada em repouso. (texto atualizado em 10/09/2020)

E como os termômetros funcionam? Qual a ciência por trás desses aparelhos?

Cada tipo de termômetro tem uma especificidade técnica que permite a aferição da temperatura de um sistema ou objeto, como explica o professor Marcelo Schappo, que atua no Câmpus São José e é doutor em Física. “Eles medem o que chamamos de ‘grandezas termométricas’, ou seja, eles medem algo que varia com a temperatura de uma forma controlada, através de diferentes fenômenos físicos, a depender do tipo de termômetro”, detalha.

No caso dos termômetros líquidos – que em geral usam mercúrio –, o fenômeno que permite seu funcionamento é a dilatação térmica: quando a temperatura de um corpo varia, isso altera a agitação das partículas que o formam, modificando a dimensão desse corpo. Se a temperatura aumenta, as partículas se agitam mais, e, no geral, o corpo se expande; e se a temperatura diminui, ocorre o contrário. Isso explica por que o mercúrio existente dentro do termômetro ganha volume conforme a temperatura que ele está medindo. Já os termômetros digitais eletrônicos funcionam com o princípio da resistência elétrica. “Os metais são bons condutores de corrente elétrica, mas essa facilidade de condução elétrica depende da temperatura do metal: quanto maior a temperatura, mais difícil ocorrer a condução de corrente através dele. Dizemos, assim, que sua resistência elétrica aumenta com a temperatura. Colocando a ponteira metálica em contato com o corpo, o sensor terá sua resistência elétrica modificada, o que pode ser medido pelo termômetro para identificar a temperatura do sujeito”, explica o professor.

Por fim, os termômetros infravermelhos funcionam com o princípio chamado “radiação de corpo negro”. O professor Marcelo Schappo explica que todos os objetos emitem ondas eletromagnéticas de uma forma relacionada à sua temperatura. O corpo humano emite radiação na faixa conhecida por “infravermelho”, que é menos energética que a luz visível. Os termômetros captam as ondas emitidas pelo corpo através de um sensor que, por sua vez, converte isso para um sinal de corrente elétrica. A partir desse sinal elétrico gerado, o termômetro identifica a temperatura.

Schappo também enfatiza que os boatos em torno de possíveis males provocados pelos termômetros infravermelhos são pura bobagem. "A ideia de que o termômetro infravermelho causa danos ao cérebro é absurda por vários motivos. O primeiro é que, para determinar a temperatura, ele recebe radiação emitida pelo nosso corpo, e não o contrário. E o segundo é que o laser que o aparelho emite serve apenas para auxiliar na mira do operador, fazendo com que ele aponte o sensor para o local correto do nosso corpo. Esse laser vermelho não tem energia suficiente para causar danos à pele e muito menos para atravessar todos os tecidos e atingir o cérebro", esclarece. (texto atualizado em 18/09/2020)

Como o termômetro identifica a temperatura que está sendo medida?

Isso ocorre por meio de um processo de calibração feito pelo fabricante, explica o professor Marcelo Schappo. Isso quer dizer que o aparelho é submetido a pelo menos dois sistemas controlados onde a temperatura é conhecida, para que, no processo de medida, o termômetro use esses números como referência. A partir daí, ele pode medir outras temperaturas através de comparação.

Estamos atravessando uma pandemia. Devo aferir minha temperatura diariamente, por precaução?

O professor Inácio Costa diz que essa não é uma prática recomendável. “É preciso tomar cuidado com o excesso de preocupação porque isso pode levar ao stress. O recomendado é medir a temperatura quando você percebe alguma alteração, já que a febre sempre desencadeia, com ela, algum tipo de mal estar, como calafrios”, orienta. Preocupar-se em registrar a temperatura corporal todos os dias pode causar uma ansiedade indesejável.

Tenho um termômetro em casa, mas uso-o pouco. Como fazer para garantir o bom funcionamento desse aparelho, quando eu precisar?

É importante, em primeiro lugar, guardar o termômetro adequadamente, conforme as instruções do fabricante. Isso vale em especial para os eletrônicos e os de infravermelho, que podem oxidar, pegar umidade ou “vazar” as baterias. No caso dos termômetros de mercúrio, devem ficar bem guardados, dentro da embalagem apropriada, em lugar não suscetível a batidas. E longe das crianças!

O professor Marcelo Schappo recomenda também que se sigam as instruções do fabricante ao utilizar o termômetro. “Medidas incorretas levarão a dados incorretos obtidos”, alerta. No caso do eletrônico, é preciso verificar se a ponteira está desobstruída e em contato adequado com a pele da pessoa examinada. Já com o infravermelho é preciso identificar a distância recomendada e manter o aparelho posicionado pelo tempo adequado de captação de sinal. Conheça o guia elaborado pelo Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) para orientar o uso correto dos termômetros de infravermelho.

Caso você faça uma medição e desconfie do resultado, é melhor procurar outro aparelho para fazer a comparação.

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