“A inclusão oferece asas para que voos sejam possíveis”: mesa-redonda discute deficiências, diversidade e direitos

SEPEI Data de Publicação: 18 abr 2023 19:32 Data de Atualização: 20 abr 2023 13:03

O debate temático “Deficiências, Diversidade E Direitos”, realizado na tenda principal do 9º Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC na tarde desta terça, 18, deu visibilidade às dificuldades relativas à inclusão de pessoas com deficiência, neurodiversas e com orientações e expressões de genêro diferentes da “norma padrão”.

A atividade começou com a fala de Mario Cezar da Silveira,  escritor,e especialista em Acessibilidade. Silveira contou a trajetória dele como pai de Carolina, que teve paralisia cerebral em função de anoxia no parto. Ele contou sobre a dificuldade de lidar com o capacitismo até hoje. “Se dependesse de mim, minha filha teria feito muito menos”, afirmou ao contar diversas situações em que duvidou de Carolina,como quando ela decidiu que seria bailarina ou quando ela disse que pularia de paraquedas ou fazer rafting – sonhos que, por acreditar em si mesma, ela acabou realizando.

Além da dança e atividades de aventura, Carolina se formou em psicologia e hoje é servidora concursada do Instituto Federal Catarinense e mestranda em Educação Profissional e Tecnológica. “A inclusão oferece asas para que os voos sejam possíveis. O meu desejo que vocês, quando olharem para uma pessoa com deficiência, vejam possibilidades e não deficiências. Somos nós que criamos barreiras, como as que eu criei para minha filha”, defendeu.

Em seguida, Jonas Marssaro abordou a questão da neurodiversidade. Pessoa dentro do espectro autista, presidente na Coordenação Nacional de Estudantes de Psicologia, ativista LGBTI+ e membro da ONG Vale PCD, ele reforçou a necessidade de uma politica integral de saúde do autista e a interseccionalidade na luta contra outros preconceitos, como cor de pele e orientação sexual.”É preciso sensibilizar empresas para a contratação de pessoas autistas, mas não só contratar, mas permitir o crescimento dessas pessoas e o desenvolvimento de carreira”, disse Jonas, ao explicar que autistas deveriam poder estar em todos os lugares, inclusive em cargos de direção.

Ele também contou sobre a Vale PCD, organização que busca ajudar na saúde mental, criar soluções de empregabilidade e acessibilidade às pessoas com deficiência e às pessoas LGBTI+ e sobre o senso comum de que autistas normalmente não têm sexualidade e não são capazes de relacionamentos, e muito menos que possam estar dentro dos grupos LGBT.I+. “Normalmente se pensa o autista como a criança hétero, branca e de classe média”, comentou o ativista. “Durante minha graduação, procurei e descobri que não há pesquisas em Santa Catarina sobre a sexualidade de pessoas autistas, nem de pessoas com deficiência. É um tema invisível”.

A terceira palestrante, Ana Paula Nunes Chaves, abordou de forma didática a questão de gênero, machismo e feminismo. Embora o foco da apresentação fossem os direitos das mulheres – Ana Paula é advogada, pós-graduada em Direito Penal e Processo Penal e ativista das questões raciais e de gênero, ela começou explicando as definições de sexo biológico, identidade de gênero, expressão de gênero e de orientação sexual. “É diferente, é difícil (entender todas as variações), mas é uma forma de incluir”, afirmou. “O gênero é diferente do sexo biológico. Ele não existe na natureza, é uma construção social. Tanto que o que apresento na minha fala são características brasileiras, da cultura do Brasil. O que é masculino e feminino muda bastante de um lugar para outro no planeta”, completou.

Ana Paula apresentou aspectos históricos do machismo e do feminismo no Brasil, marcos legais (como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio. “Joinville tem um índice altíssimo de violência contra meninas e mulheres. Eu sonho que daqui a 50 anos a minha filha, hoje com 10, possa dizer que não estamos mais tão inseguras”. Instigada pelo mediador, o servidor do IFSC e ativista pela Saúde Mental Raphael Henrique Travia, a advogada disse o que era importante para que o IFSC pudesse combater melhor a violência de gênero. “A instituição tem que ter não apenas um canal de denúncia, mas um espaço de acolhimento, em que a menina, a mulher, possa se sentir à vontade para falar. Uma coisa que temos que ter consciência é que o problema não é nosso, é dos homens. Eles precisam aprender a lidar com as frustrações, precisam entender que a mulher não é um objeto e nem uma propriedade deles”.

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