“Reconectar saberes” é ideia chave na conexão entre ciência e democracia

SEPEI Data de Publicação: 19 abr 2023 13:40 Data de Atualização: 19 abr 2023 14:08

Ciência e democracia estão relacionadas? Até que ponto o senso comum está correto quando considera que ciência e democracia, necessariamente, andam juntas? Essas questões nortearam a palestra do doutor em Física Peter Schulz, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na manhã desta quarta-feira (19 de abril). A atividade “Uma conversa franca entre ciência e democracia” integrou a programação do último dia do 9º Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepei 2023), no Câmpus Joinville.

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Para Schulz, num primeiro momento pode parecer óbvia a ideia de que, sim, ciência e democracia andam de mãos dadas, já que historicamente os regimes autocráticos desprestigiam a pesquisa e o conhecimento científico. Porém, atualmente o país que mais produz ciência é a China - e aquele não é um país propriamente democrático. Segundo o professor, desde o final da Segunda Guerra essa questão cíclica se evidencia: a ciência às vezes é atacada, e se manifesta; outras vezes, é deixada em paz e mantém-se calada. 

Recorrendo às ideias do sociólogo francês Pierre Bourdieu na definição do campo científico, o professor Schulz questiona como se dá a relação desse campo com os outros campos de conhecimento. Em outras palavras, como se dá a comunicação da ciência com a sociedade, e por que ela é importante?

Entre as muitas respostas, o professor destaca a necessidade de se “desdogmatizar” a ciência. No processo de organização, profissionalização e institucionalização da ciência, foi importante a chamada ruptura com o senso comum. Esse movimento foi essencial para o desenvolvimento da ciência e o conhecimento científico, mas, como pondera Peter Schulz, teve o efeito de afastar o público leigo da ciência.

Para enfrentar o negacionismo científico e os ataques sistemáticos à ciência institucionalizada, é preciso fazer uma nova ruptura, na visão do professor Schulz, reconectando os saberes entre si e com a sociedade - não apenas os saberes científicos, mas também o conhecimento filosófico, o religioso e o popular. E isso passa pelas instituições de ciência e tecnologia e pela chamada indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão - que Schulz sugere chamar de ensino, descoberta e aplicação, remetendo à proposta do educador Ernest L. Boyer.

Peter Schulz instigou também uma reflexão sobre o papel social dos intelectuais, que devem posicionar-se perante as questões relevantes da atualidade - caso de muitos pesquisadores e acadêmicos que conduziram discussões públicas durante a pandemia de Covid-19. Para ele, os cientistas não devem esperar situações extremas para se posicionar, e sim fazer isso de forma sistemática e contínua. 

A palestra “Uma conversa franca entre ciência e democracia” foi transmitida ao vivo pelo canal do IFSC no YouTube. Assista à gravação:

 


 

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