Filho da escola pública, aluno de Criciúma está entre os 40 melhores do Brasil na Olimpíada de Astronomia

ENSINO Data de Publicação: 29 mar 2023 09:23 Data de Atualização: 14 abr 2023 20:33

Quando pega seu telescópio para observar estrelas e nebulosas, Bruno da Silva Teixeira chega a prender a respiração e sente que a cabeça fica a ponto de explodir. O motivo: deslumbramento. “Por perceber a magnitude das coisas, como o Universo é tão vasto”, diz o estudante do curso técnico em Química do Câmpus Criciúma do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). O interesse por Astronomia já está o levando longe: o aluno que sempre estudou em escola pública acaba de ser selecionado entre os 40 melhores estudantes de ensino médio do Brasil na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) de 2022, após um longo processo seletivo que iniciou com quase 800 mil estudantes em todo o país.

O resultado foi divulgado nesta quarta-feira (29), depois de Bruno ter participado de uma seletiva presencial em Barra do Piraí (RJ), entre os dias 13 e 16 de março, reunindo os 210 melhores estudantes que realizaram as provas da OBA no ano passado. Após três dias de provas presenciais, Bruno foi convidado a integrar um time de 40 estudantes brasileiros que vão realizar treinamentos para participar da Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA) e da Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA). A primeira etapa deste treinamento ocorre a partir de 9 de abril.

Aluno de escolas públicas, filho de pai ceramista e mãe pedagoga, Bruno nem sempre foi interessado por Astronomia, mas desde sempre gostou de estudar. Começou o ensino fundamental na escola municipal Honório Dal Toé, de Criciúma, depois foi para a escola municipal Paulo Rizzieri, de Içara, e fez o nono ano na escola Professor Lapagesse. Iniciou o ensino médio no Cedup Abílio Paulo e em 2023 se transferiu para o IFSC. 

E, assim como o Universo, a história de Bruno com a Astronomia também tem uma origem. 

Interesse pela área

O “big bang” de Bruno para o mundo da Astronomia aconteceu quando cursava o nono ano do ensino fundamental na escola Paulo Rizzieri, em 2021. Com o apoio do professor Fabrício Delfino, que inscreveu a escola na OBA, Bruno começou a frequentar aulas preparatórias para a competição estudantil. Era a primeira vez que o aluno tinha um maior contato com conteúdos relacionados à Física e à Astronomia.

“Sempre fui muito de estudar e já fazia a OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas). O professor inscreveu a escola na OBA e começou a dar aulões para os estudantes. E eu fui indo. Isso me deu uma despertada no interesse pela Astronomia. Além das aulas, que eram muito divertidas, eu fui pesquisar na internet, achei canais e sites para me preparar, e assim comecei meus estudos”, conta Bruno.

A OBA é realizada todos os anos, pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB), com a participação de estudantes de ensino fundamental e ensino médio de todo o país. O objetivo é estimular o interesse dos jovens pela Astronomia, Astronáutica e ciências afins. A primeira fase é realizada nas escolas, com a aplicação de uma prova teórica.

Em sua primeira participação, como estudante de ensino fundamental, Bruno tirou nota 9,2 e passou para a segunda etapa, que consiste em três provas on-line. Dessa fase, Bruno não passou, mas não parou mais de estudar.

Disputa nacional

Já no ensino médio, cursando o primeiro ano do técnico em Química no Cedup de Criciúma, Bruno participou pela segunda vez da olimpíada. Participou de aulas preparatórias na escola e estudou por conta própria, com livros, sites e canais no YouTube indicados pela comunidade olímpica.

Além de Bruno, 797 mil estudantes de ensino médio em todo o Brasil realizaram a primeira etapa da OBA em 2022, na 25ª edição da olimpíada. Dos alunos que receberam medalhas, 16 mil que tiveram bom desempenho foram convidados para a segunda etapa, que consistia em três provas on-line – passaram pela última das três provas pouco mais de dois mil estudantes. Bruno, que havia recebido medalha de ouro, saiu satisfeito com o próprio desempenho nas provas on-line. Na véspera do Natal recebeu a notícia de que havia passado para a seletiva presencial, que reúne poucas centenas de estudantes.

“No dia 24 de dezembro do ano passado, lançaram a lista para as seletivas presenciais. Fiquei em choque na hora, meu coração bateu forte e fiquei muito feliz, até porque não estava com tanta esperança de passar. Foi um presente de Natal. Eu estava entre 17 alunos de Santa Catarina. Me senti destacado no meio de tanta gente”, diz. Entre os 17 alunos catarinenses selecionados, cinco eram de escola pública, como Bruno.

Entre os dias 13 e 16 de março, o estudante participou, em Barra do Piraí (RJ), da seletiva internacional da OBA, que tem como objetivo formar uma equipe para representar o Brasil em olimpíadas internacionais. Foram convocados 346 estudantes, sendo que 210 compareceram. Bruno foi acompanhado pelo professor de Física do IFSC, Paulo Montedo, já que em 2022 resolveu prestar o exame de classificação para o ensino médio técnico do Câmpus Criciúma, recomeçando o ensino médio do primeiro ano, numa decisão tomada por ele e seus pais.

“O Bruno é um aluno diferenciado, que gosta de aprender e conhecer coisas novas. Tem um futuro brilhante pela frente e, sem dúvidas, dará muito orgulho a Criciúma e a Santa Catarina. Cabe a nós agora ajudá-lo a alçar voo e buscar maneiras de viabilizar sua participação neste treinamento”, afirma o professor do IFSC.

Fome de conhecimento

Foi a primeira vez que Bruno viajou de avião, o que por si só já valeu a experiência. Mas o contato com estudantes de todo o Brasil, interessados no mesmo tema que ele, e o nível de exigência das provas realizadas, valeu muito mais. “É um salto gigantesco de dificuldade”, diz Bruno. As provas foram realizadas em três etapas: uma com Carta Celeste, outra em um Planetário e uma terceira prova teórica. Após esse longo processo seletivo, Bruno se sente mais capaz de estudar.

“Negócio muito incrível o que elas fazem. Eu era ignorante sobre astronomia e passei a ser um dos 210 melhores do país no tema. É algo que te desperta o interesse a partir da competição ou por te estabelecer uma meta, e desperta teu interesse por estudar e pelas ciências. A olimpíada tem um papel incrível de instigar a estudar, ensinar a estudar e dá essa fome por conhecimento”, afirma Bruno. 

Em 2016, um estudante do curso técnico em Eletrônica do IFSC Câmpus Florianópolis participou da olimpíada latino-americana. Clique aqui para ler a reportagem.

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