Pesquisa aponta falta de segurança para pedestres em frente ao IFSC do Centro

CÂMPUS JARAGUÁ DO SUL-CENTRO Data de Publicação: 15 dez 2022 19:34 Data de Atualização: 16 dez 2022 11:12

Você espera muito tempo quando tenta atravessar uma faixa de pedestres? Ou é mais rápido se arriscar em meio ao tráfego para chegar até o outro lado da rua? E os motoristas aguardam com paciência você atravessar ou ameaçam avançar enquanto você caminhar sobre a faixa? Uma pesquisa realizada por estudantes do ensino médio técnico do Câmpus Jaraguá do Sul-Centro analisou a experiência dos pedestres que utilizam a faixa de segurança instalada em frente ao câmpus – na avenida Getúlio Vargas – e identificou desde falhas na sinalização do local até a falta de respeito de motoristas em relação aos pedestres.

A pesquisa foi coordenada pelo professor Selomar Borges e foi pensada a partir das impressões do próprio grupo de pesquisadores. “A gente atravessa aqui na frente todos os dias e tínhamos essa percepção da demora até os carros pararem, além da insegurança devido aos muitos acidentes que já ocorreram neste local”, aponta o coordenador.

Para chegar às suas conclusões, o grupo estudou o Código Brasileiro de Trânsito e observou, durante cinco dias consecutivos (entre segunda e sexta-feira, nos períodos de início e fim das aulas dos turnos matutino e vespertino), um total de 269 travessias de pedestres – tanto travessias individuais quanto em grupo. Outro instrumento utilizado na pesquisa foi uma entrevista, por meio de um grupo focal, com 12 estudantes usuários da faixa de pedestres. Confira, a seguir, as principais questões identificadas:

Carros não param

Um dos dados mais chocantes foi a comprovação da demora até que os veículos parem antes da faixa e permitam a travessia dos pedestres. Em cerca de 78% das vezes observadas, os pedestres aguardaram de um a cinco carros passarem até que puderam, enfim, atravessar sobre a faixa. Em 7% dos episódios registrados, os pedestres tiveram que aguardar dez carros ou mais até que pudessem seguir adiante.

Segundo o integrante do grupo de pesquisa e estudante da sétima fase do curso técnico integrado em Modelagem do Vestuário, Angelo Ignowski, esses dados indicam o descumprimento da legislação de trânsito. “O pedestre tem prioridade na travessia. Quando ele indica que precisa atravessar, os motoristas devem permitir, mas o que percebemos foi o contrário”, afirma.

Risco sobre a faixa

A demora até que os veículos deem passagem aos pedestres faz com que muitas pessoas se arrisquem: em 70,9% das travessias registradas o pedestre precisou sair da calçada e colocar os pés sobre a via ou sobre a faixa para que os motoristas parassem. “O certo seria os carros pararem sem que o pedestre saia da calçada, onde ele está seguro. Qualquer movimento em que o pedestre se exponha ao risco para poder ter o direito de atravessar mostra que a legislação, novamente, não está sendo cumprida”, destaca o estudante do IFSC.

Falta de sinalização e faixa elevada

Durante o trabalho de campo, os pesquisadores perceberam que a região em que se encontra o Câmpus Jaraguá do Sul-Centro também não possui qualquer sinalização de zona escolar. A unidade do Instituto atende adolescentes a partir de 15 anos e tem aulas nos três períodos do dia. “O ideal seria haver indicação de que se trata de uma área escolar a pelo menos 120 metros antes do IFSC”, pontua o pesquisador.

As únicas ferramentas de trânsito com que os estudantes contam são a faixa de pedestre na avenida Getúlio Vargas e um redutor eletrônico de velocidade – conhecido como “pardal” – instalado depois da faixa e com limitação de velocidade de 60 km/h. “Esse também é outro problema: como se trata de uma área escolar, há estudos que mostram que 60 por hora é uma velocidade muito elevada. Alguns especialistas indicam até que a velocidade adequada seria de 20 km/h. Por isso avaliamos que uma opção interessante seria a implantação, em frente ao câmpus, de uma faixa elevada, a qual obrigaria todos os veículos a reduzirem”, relata.

Insegurança e estratégias alternativas

Por meio do grupo focal, os pesquisadores perceberam que há um consenso entre os estudantes que precisam atravessar a rua diariamente em frente ao IFSC: todos relataram um sentimento de insegurança na condição de pedestres. “Com isso, cada um desses alunos acaba criando estratégias próprias para lidar com a necessidade da travessia”, destaca Mariana Silveira, estudante da oitava fase do curso técnico integrado em Química e também integrante do grupo de pesquisa.

Uma das estratégias mais mencionadas pelos estudantes durante as entrevistas foi a escolha de pontos alternativos de travessia, mesmo que longe do câmpus. “A maioria prefere atravessar em outros locais. É o caso, por exemplo, da faixa de pedestres que fica em frente ao terminal rodoviário: como esta faixa fica junto a um sinaleiro, os carros são obrigados a parar e a passagem do pedestre é mais segura”, conta Mariana.

Acidente e a segurança dos motoristas

No período em que os pesquisadores coletavam dados em frente ao IFSC do Centro foi registrado um acidente durante uma das travessias observadas: um carro parou para que o pedestre pudesse iniciar a passagem, porém o motorista que vinha atrás do primeiro carro não conseguiu parar a tempo e bateu na traseira do veículo que estava parado na via. O pedestre não se machucou, mas a motorista do carro que foi atingido teve ferimentos no pescoço.

Este episódio ilustra, segundo os estudantes, como também os motoristas estão em perigo devido à falta de condições seguras para a travessia dos pedestres. “A via é muito rápida, com limite de 60 km/h. E se você é um motorista correto que dá preferência ao pedestre, ainda está em risco pois atrás de você pode vir um carro que não consiga parar a tempo. Se houvesse mais sinalização e a velocidade fosse menor, todos sairiam ganhando”, afirma Angelo.

Educação no trânsito

De maneira geral, o estudo identificou que há, por parte dos motoristas de Jaraguá do Sul, um descumprimento daquilo que está previsto na legislação de trânsito. Outro exemplo trazido pela pesquisa é de que 59% carros não esperam o pedestre terminar a travessia para acelerar novamente. “O certo é aguardar a travessia completa. Quando não faz isso, o motorista pode confundir o carro que está ao seu lado, dando a entender que a faixa já está livre e, assim, induzir a um atropelamento sobre a própria faixa”, explica Angelo.

Para melhorar essa situação, os pesquisadores apontam a necessidade de ações educativas por parte dos órgãos competentes – além da adequação e melhoria da sinalização de trânsito na região do IFSC do Centro. “A gente fica com a impressão de que os carros não querem parar. É como se fosse um favor do motorista parar na faixa de pedestre”, ressalta o coordenador da pesquisa.

O enfoque das ações educativas seria o combate à violência no trânsito. “Pois o desrespeito ao pedestre se trata de um ato de violência. Mesmo quando você atravessa fora da faixa, o motorista também tem que parar. Afinal, é o motorista que tem uma ‘máquina mortífera’ na mão e coloca em perigo o pedestre”, defende Selomar.

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