Por um IFSC antirracista: roda de conversa sobre Racismo e Educação pede institucionalização da luta contra o racismo

SEPEI Data de Publicação: 19 abr 2023 13:45 Data de Atualização: 02 mai 2023 14:26

Quando foi vítima de racismo dentro do câmpus, a estudante do Câmpus Joinville Ester Silva, a Preta Lima, como gosta de ser chamada, recorreu à Coordenadoria Pedagógica para denunciar a situação, que atuou prontamente no acolhimento à aluna e intervenções com a turma. Mesmo com a situação resolvida e certa de que o caso serviu de aprendizado e sensibilização dos colegas, foi nesta terça-feira (18) que Preta Lima se sentiu realmente acolhida. “Quando aconteceu comigo, foi pessoal. Senti falta de um grupo de acolhimento, de um coletivo que me desse força”, contou a estudante durante depoimento na roda de conversa sobre Racismo e Educação, na programação do 9º Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC (Sepei).

Organizada pelos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígena (Neabi) dos câmpus Caçador, Canoinhas, Gaspar, Jaraguá do Sul-Rau, Palhoça Bilíngue e São Miguel do Oeste, pelo coletivo de servidores IFSC Negro e pelo Comitê de Direitos Humanos do IFSC, a roda de conversa foi conduzida pelo estudante do Câmpus Gaspar Marcos Davi Lopes; pela professora do Câmpus Garopaba Renata Waleska; pela pedagoga do Câmpus São Carlos Lara Luísa Silva Gomes; pelo representante do Movimento Negro Maria Laura, Rhuan Carlos Fernandes, de Joinville; e pelo professor do Câmpus Gaspar Luiz Herculano. A abertura foi ao som do violino de Achiliel Tavares de Brito, aluno do Câmpus Jaraguá do Sul – Rau.

Mais que um espaço de escuta de relatos, troca de experiências e acolhimento mútuo, a atividade foi um alerta à necessidade de institucionalizar no IFSC a luta antirracista. “Entendemos que uma discussão indispensável como essa, em um evento tão importante como o Sepei, representa resistência”, disse o estudante Marcos Davi.

“O engajamento tem que ser da instituição, em todas as áreas. Nossa luta tem que ser reconhecida, para deixar de ser a luta de alguns grupos e passar a ser uma estratégia institucional”, enfatizou professor Herculano, lembrando que “passos foram e são dados todos os dias”, mas que é preciso mais.

“Queremos uma instituição que tenha todos os servidores comprometidos com a luta antirracista”, convocou a professora Renata. “Qual o papel do Instituto Federal? A instituição é baseada no princípio da cidadania básica. E não se faz cidadania sem discutir questões de inclusão”, ressaltou.

Segundo professora Lara, só o fato do IFSC, com 22 câmpus, ter apenas cinco Neabi já merece uma discussão. “Precisamos reconectar saberes com a população de Santa Catarina, incluindo rever a história do estado. A maior fake é que a região Sul começou com a chegada dos europeus”, destacou.

Para ilustrar, o historiador Rhuan Fernandes trouxe o exemplo de Joinville. “Há um erro historiográfico terrível que se conta aqui. A população germânica [à qual se credita o início da colonização da região] chega muito tempo depois dos escravizados”, destacou o representante do Movimento Negro Maria Laura, informando ainda que Joinville tem a maior população negra de Santa Catarina, que não é reconhecida. “A ‘branquitude’ é uma tecnologia de poder”, disparou.

Ao final da roda, os encaminhamentos para a construção de um IFSC mais democrático e inclusivo foram pela criação de uma política antirracista que inclua estudantes, servidores, gestores e comunidade externa; compreensão e divulgação das ações afirmativas; reformulação de projetos pedagógicos de cursos; e acolhimento institucional para além das cotas.

Já a estudante Preta Lima saiu com seus próprios encaminhamentos: buscar a conexão com a ancestralidade, promover a união entre alunos negros, trabalhar em rede com os demais estudantes e servidores do IFSC, trazer o fortalecimento de grupos de fora do câmpus e ser o pontapé inicial de um movimento de luta conjunta. “A fala de todas as pessoas aqui vai me tornar mais forte. Quero criar um coletivo, um grupo para ajudar outras pessoas que precisarem, como eu precisei.”

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