Projeto de pesquisa estuda remoção de agrotóxicos da água

PESQUISA Data de Publicação: 24 mai 2024 15:59 Data de Atualização: 24 mai 2024 16:02

Um projeto de pesquisa dos professores Diego Bittencourt Machado e Carolina Berger, da área de Ambiente e Saúde do Câmpus Lages, tem estudado maneiras de despoluir a água contaminada por agrotóxicos. O projeto, chamado, "Utilização de líquido iônico à base de fosfônio imobilizado em cápsulas de polisulfona para remoção, em processo contínuo, do contaminante 2,4-diclorofenol em meio aquoso" faz parte do Edital 02/2023/Proppi e está em execução até agosto deste ano.

O professor Diego explica que o 2,4-diclorofenol é um composto poluente empregado na produção de defensivos agrícolas e muito comum em efluentes da indústria de papel e celulose, importante atividade na Região Serrana. Ele é uma decomposição direta de um dos agrotóxicos mais utilizados no Brasil, o ácido 2,4 diclorofenoxiacético, que é comercializado com o nome de 2,4D. Há outro projeto em execução no Câmpus Lages que determina o índice de toxicidade do 2,4-diclorofenol presente em meio aquoso, sob coordenação da professora Jaqueline Suave.

"Ele é o segundo agrotóxico mais utilizado no Brasil. Tem componentes que podem gerar uma série de doenças, então a motivação para fazer esse trabalho foi em cima desse uso exacerbado do agrotóxico no Brasil. São compostos extremamente tóxicos e que a longo prazo vão trazer vários problemas para a população", comenta o professor.

Segundo Diego, esse componente já está presente na água oriundo do processo de industrialização do papel e celulose. O objetivo do projeto é estudar meios de remover esse componente do meio aquoso como solução para esse problema ambiental. "Esse projeto é uma continuação do meu trabalho de doutorado, onde eu desenvolvi uma cápsula que removem esse composto da água, e hoje a gente está fazendo aqui um experimento para fazer essa remoção em processo contínuo, que otimiza esse processo de adsorção do contaminante", completa.

Toda a execução do projeto acontece dentro do Câmpus Lages, com o apoio do Laboratório de Tratamento de Águas e Resíduos (Labtrat) do CAV-UDESC por meio da ajuda do professor Everton Skoronski. Então, os experimentos são feitos pelos alunos do IFSC nas dependências da instituição e se houver algum que não seja possível realizar internamente é feito na UDESC. São dois alunos que compõem o projeto, um bolsista e um aluno voluntário, que fazem tanto a produção da cápsula quanto a remoção do agrotóxico com essa cápsula.

Como funciona?

A cápsula é plástica, feita de polissulfona, extremamente resistente a ataque químico-térmico. Elas são produzidas por meio de uma metodologia de inversão de fases, criando uma estrutura porosa onde é depositado o líquido iônico. Esse líquido iônico, que é uma nova classe de químicos, é que consegue fazer a captação do componente para remoção dos agrotóxicos. Depois, a cápsula é retirada da água trazendo consigo o agrotóxico presente nela.

Diego tranquiliza a população afirmando que a presença desse composto ainda está numa quantidade muito pequena, na casa das partes por bilhão, mas elas já aparecem na água que chega nas torneiras. No futuro, possivelmente, ela vai aparecer numa quantidade maior, porque esses insumos estão sendo utilizados cada vez mais pela área agrícola. "Então, no futuro, possivelmente, a gente vai ter que utilizar uma dessas tecnologias para que consigamos remover esses compostos da água para que se consiga bebê-la sem ter problemas de toxicidade a curto e longo prazo", complementa Diego.

O bolsista do projeto é Luã Schieffelbein, estudante da sétima fase de Engenharia química, sétima fase. Ele conta que o interesse pelo projeto se deu pela afinidade com o professor e com o tema do estudo. "Pela afinidade e pela oportunidade recebida para trabalhar no projeto, aprofundei-me no tema. Assim, considerando a oportunidade recebida, a familiaridade com o orientador e minha inclinação para iniciativas científicas de preservação ambiental, a situação despertou minha atenção e dedicou minha energia à proposta", disse. 

Como citado pelo aluno, a inclinação pelo gosto dele pela ciência e por projetos. Ele vê nessas oportunidades a possibilidade de desenvolver habilidades importantes. "Desde o início, priorizei esta oportunidade, abordando-a com proatividade e dedicando uma atenção minuciosa aos detalhes. A natureza desse envolvimento foi sempre possibilitada pela dedicação dos meus colegas e pelo comprometimento do nosso coordenador. Quanto às habilidades desenvolvidas, o trabalho em equipe exigiu o uso de estratégias e técnicas de comunicação para alinhar o foco do grupo aos objetivos. Além do relacionamento interpessoal, aprimoramos continuamente nossas habilidades de resolução de problemas, uma vez que enfrentamos novos desafios a cada etapa do projeto", completa o aluno. 

Além disso, estar envolvidos em projetos que vão além da sala de aula é um componente importante para o processo ensino-aprendizagem e para o fortalecimento de laços com o IFSC, levando o aluno a evitar a evasão escolar. "É da natureza do IFSC incentivar a aprendizagem ativa, permitindo que os estudantes apliquem conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula em contextos práticos, o que facilita uma compreensão mais profunda e duradoura dos conceitos. Além do desenvolvimento de habilidades práticas, do pensamento crítico e da capacidade de resolução de problemas, mencionados anteriormente, há um forte engajamento com questões relevantes à atualidade, como esta iniciativa científica de preservação ambiental. Esse envolvimento gera grande reconhecimento acadêmico e institucional, fortalecendo os vínculos dos estudantes com a instituição", finaliza o aluno.

O professor Diego conta que o projeto está apresentando bons resultados, em especial com bons índices de remoção desse composto na água de modo contínuo, dentro das hipóteses do experimento. O docente explica que a perspectiva é de continuidade e, futuramente, aplicação prática em grande escala. "Inclusive já tem um novo projeto submetido para que a gente possa fazer esse experimento com outros agrotóxicos usando as mesmas cápsulas. E para além disso, essas cápsulas também podem ser utilizadas para fazer um refinamento no tratamento de efluentes de indústria de papel celulose, que é onde também apresentam esse composto 2,4 de clorofenol", finaliza Diego

 

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