PESQUISA Data de Publicação: 15 jan 2024 10:48 Data de Atualização: 22 jan 2024 15:08
No último dia 13 de dezembro, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) publicou o resultado final do Edital 15/2023. Um dos projetos aprovados foi "Estruturação de processos produtivos e laboratoriais de uma biofábrica de insetos para a biodegradação de resíduos agroindustriais e a geração de novos produtos a partir de compostos bioativos extraídos da farinha de inseto", proposto pelo professor da área de Ambiente e Saúde do Câmpus Lages Fernando Zinger.
O edital pertence ao Programa de Estruturação Acadêmica para Laboratórios Multiusuários, que selecionou propostas de apoio financeiro à execução de projetos de pesquisa em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), nas diferentes áreas de conhecimento e de natureza multidisciplinar, que tenham caráter estruturante para elevar a qualidade da pesquisa. O projeto do professor Fernando foi contemplado com recursos financeiros de R$2.371.000,00.
"O objetivo é a estruturação de uma biofábrica de insetos com a mosca-soldado-negro (Hermetia illucens) e Tenebrio molitor para bioconversão de resíduos orgânicos da Serra Catarinense, gerando adubos orgânicos ricos e sustentáveis como uma nova fonte de nutrientes para plantas, e inovação como uma fonte de compostos bioativos de alta qualidade que podem ser direcionados para múltiplas aplicações químicas, farmacêuticas e compostos para embalagens e filmes biodegradáveis", comenta o professor.
Segundo ele, o potencial de mercado é elevado, pois a partir dos seus derivados é possível obter ingredientes de grande valor e inovadores. Os estudos serão desenvolvidos nos laboratórios de química e bioquímica do IFSC Câmpus Lages e no Laboratório de Entomologia do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). A duração do projeto é de doze meses.
"Fiquei muito feliz com a aprovação desse projeto, pois como pesquisador sempre busquei algo que pudesse agregar ao câmpus e aos nossos alunos. Os recursos são muito importantes para a compra de equipamentos modernos e que trarão inúmeros benefícios para a pesquisa do projeto. Esses equipamentos serão do câmpus, logo eles serão usados pelos estudantes e pesquisadores em outros projetos, pesquisas e inovações futuras que farão com que o Câmpus Lages alcance índices de pesquisa que possibilitará a produção de trabalhos de alto impacto científico", comemora o professor.
O professor avalia que a aprovação no edital pode ser benéfica para o câmpus e os alunos de modo geral, em especial no processo de ensino-aprendizagem. "Também acredito que foi um passo importante para todos, pois essa experiência pode ser compartilhada com colegas para que futuramente tenhamos mais aprovados em editais e possibilidades de buscar recursos externos para diversos projetos que hoje já são vivenciados no câmpus", comenta.
O projeto
Fernando conta que a iniciativa de fazer o projeto é devido ao potencial do setor agroindustrial de Santa Catarina como um grande gerador de resíduos orgânicos que podem impactar severamente a sociedade e o meio ambiente quando dispostos de forma inadequada. Além disso, dispor adequadamente esses resíduos também é um alto custo para as empresas, que em muitos casos recorrem a aterros sanitários e literalmente jogam fora um resíduo com alto potencial de geração de novos produtos, e que poderiam ser destinados de forma mais sustentável e voltar para os processos produtivos. Novos produtos oriundos de fontes alternativas se tornam cada vez mais necessários, de acordo com o professor, tendo em vista que os processos produtivos precisam ser sustentáveis buscando fontes renováveis de insumos e visando os objetivos do desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU. "Os insetos entram nessa lacuna, pois já são pesquisados mundialmente e são fonte de inúmeros produtos, sendo o mais comum o corante Carmim. Nos últimos anos e através das instituições e setor privado, os insetos como fonte de alimento têm recebido uma atenção crescente por parte dos meios de comunicação e políticas de alimentação, considerando os insetos como uma opção para garantir a segurança alimentar e melhorar a resiliência", complementa.
Em países Asiáticos, a mosca-soldado negra, já é uma realidade em “fazendas de insetos”, onde existem inúmeros projetos de degradação de resíduos orgânicos de fontes urbanas e agrícolas que produzem milhares de toneladas de farinhas protéicas e adubos orgânicos.
Etapas do projeto
A primeira etapa será a multiplicação das larvas de mosca-soldado e T. molitor nos substratos oriundos de resíduos de agroindústrias de processamento de madeira, maçã (bagaço), carnes (lodos de decantação) e cervejeira (resíduos diversos). Esses resíduos serão analisados quanto aos seus componentes nutricionais e possíveis metais pesados antes de serem dispostos nas camas de conversão.
A etapa 2 consiste na separação dos insetos na idade de abate e análises nutricionais do FRASS (resíduos pós-alimentação dos insetos), O fertilizante gerado pela digestão das larvas, será testado em diferentes culturas em estufa agrícola.
Na etapa 3 ocorrerá a extração e caracterização dos óleos, extratos e outras moléculas de interesse de insetos, entre os testes estão a determinação dos compostos fenólicos totais, síntese caracterização de nanopartículas poliméricas, produção e caracterização dos filmes nanocompósitos, avaliação da atividade antimicrobiana, antiviral, oxidação lipídica e avaliação de produtos alimentícios nas embalagens ativas. A parceria entre instituições permitirá a capacitação, aprendizagem e troca de experiências exitosas entre os envolvidos.