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Professores do IFSC explicam porque a crise na geração de energia é grave e como isso afeta seu bolso

ESPECIAL Data de Publicação: 04 nov 2021 16:02 Data de Atualização: 25 nov 2021 17:57

A conta de luz está mais cara e há alguns meses tem se falado em crise hídrica e consequentemente falta de água para gerar energia nas hidrelétricas do Brasil. A chuva, quase constante no mês de outubro em Santa Catarina, está longe de resolver a situação. Professores do IFSC das áreas de elétrica, meteorologia e meio ambiente explicam porque esta crise é grave, como o clima e o desmatamento influenciam e se os consumidores podem ser ainda mais afetados.

Segundo Rubipiara Cavalcante Fernandes, professor do Departamento de Eletrotécnica do Câmpus Florianópolis, o Brasil está passando por uma crise hídrica sem precedentes. "Em 91 anos esse é o pior período em afluência de chuvas que chegou principalmente na bacia da Região Sudeste/Centro-Oeste, onde está localizada a maioria das usinas com grandes reservatórios." O índice é avaliado quando começa o período seco nessas regiões e Sul do país, que vai de maio a novembro. 

Ele explica que um dos motivos é que o último período chuvoso no Brasil foi mais curto - a chuva atrasou para chegar e acabou mais cedo. "Em abril, o nível da maioria dos reservatórios para começar o período seco deste ano estava na metade do ideal em relação a outros anos." Confira o gráfico abaixo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS):

Para o professor do Departamento de Eletrotécnica do Câmpus Florianópolis, Rafael Nilson Rodrigues, a situação é crítica porque compromete o poder do sistema de conseguir entregar energia para a demanda que se tem hoje. Ele não descarta o racionamento de energia no verão.

Outubro chuvoso

Para quem vive em Santa Catarina pode parecer um contrassenso falar em crise hídrica depois de um outubro chuvoso. Mas o professor Mário Leal de Quadro, do Curso de Meteorologia do Câmpus Florianópolis, explica que as chuvas registradas não foram volumosas o suficiente para compensar as precipitações mais baixas deste ano e do ano passado, quando foram registrados o fenômeno La Niña.  No vídeo abaixo, ele explica o que é e a consequência nas precipitações.

Além deste fenômeno, a doutora em Ecologia Débora Monteiro Brentano, professora do Departamento de Construção Civil do Câmpus Florianópolis, afirma que o desmatamento influencia na redução das chuvas: "As florestas funcionam como verdadeiras bombas d'água, retirando a água da superfície da terra e liberando na forma de vapor para a atmosfera", como ela explica a seguir:

Débora alerta: "Pensar na preservação da floresta não se dá somente na preocupação com a biodiversidade. Trata-se de tornar nosso país mais resiliente e mais preparado e assim conseguir manter a economia girando." 

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que desde 1988 produz estimativas anuais das taxas de desflorestamento, cerca de 729 mil km² já foram desmatados da Amazônia  Legal, o que corresponde a 17% do bioma. Desse total, 300 mil km² foram desmatados nos últimos 20 anos.

O Brasil também está com menor disponibilidade de recursos hídricos. Segundo levantamento do MapBiomas, nos últimos 30 anos o país perdeu 15,7% da sua superfície de água. "A cobertura do solo é importantíssima para manutenção das massas d'água. Um solo que tem cobertura vegetal permite que a água seja recebida de forma gradativa, permitindo o efetivo reabastecimento dos lençóis subterrâneos, que estão conectados com lagos, rios, e em épocas de escassez permitem o equilíbrio do nível dos recursos hídricos", explica Débora.

Energia das hidrelétricas

A abundância de água é o que garante o funcionamento das hidrelétricas, de onde vem a maior parte da energia consumida no país, como evidencia o gráfico abaixo da ONS:


A dependência das hidrelétricas foi bastante questionada há 20 anos, quando a escassez hídrica também levou a uma crise na geração de energia e até ocorreu apagão em algumas regiões do país. O professor Rubipiara afirma que desde então o governo tem incentivado a geração de outras formas de energia, como explica no áudio abaixo:

Além da maior diversificação nas formas de geração de energia, desde 2001 também houve mudanças no sistema de transmissão de energia. O professor Rafael Rodrigues afirma que este foi um dos fatores responsáveis pelo apagão na época. "Hoje a realidade é diferente", como detalha a seguir.

 

Termelétricas acionadas

Para atender a demanda brasileira por energia elétrica, o Operador Nacional do Sistema Elétrico precisou acionar as termelétricas nos últimos meses. Além de mais poluente, a energia desta fonte é mais cara. Só em Santa Catarina, entre o mês de julho e agosto deste ano, a produção de energia das termelétricas aumentou 62%.

Rubipiara afirma que houve momentos esse ano em que "foram acionadas termelétricas a um valor superior a R$ 2 mil por megawatt/hora, sendo que em situações normais o custo da energia gerada no país é de R$ 350,00 a R$ 400,00". 

Consequências para consumidores

Mais cara, a bandeira de escassez hídrica deve permanecer até abril do ano que vem, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Além de sinalizar que a energia está custando mais, o governo federal criou um bônus para a redução voluntária do consumo, que deve ser de 10% nos meses de setembro a dezembro de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020. "O bônus apurado será informado na conta de luz referente ao mês de dezembro de 2021 e creditado como abatimento do valor a pagar na conta de luz subsequente", explica a Aneel. Nesta página há mais informações sobre o bônus. Veja dicas de como reduzir o consumo:

Rubipiara aponta mais duas medidas do governo federal para reduzir a demanda. Uma delas é incentivar a economia por órgãos públicos federais, como o IFSC. A meta para prédios federais é de redução de 10% a 20% no consumo.

“Outra medida é que grandes indústrias podem fazer oferta de demanda, em que a empresa oferta um determinado valor para o Operador Nacional de forma que ela retire sua carga em períodos de ponta do sistema, onde o sistema está mais carregado. O Operador recebe essa oferta e ele compara com custo de acionar uma termelétrica, por exemplo."

O que esperar para os próximos meses

O professor Mário afirma que durante o próximo verão espera-se uma nova redução no volume de chuvas, principalmente para o meio-oeste e oeste de Santa Catarina.

Com previsão de piora no cenário hídrico, o professor Rafael Rodrigues alerta que o sistema pode não conseguir entregar energia para toda demanda. "As recentes chuvas mais intensas na Região Sul contribuíram para um pouco mais de fôlego para a geração hidrelétrica, mas o problema não está resolvido, foi apenas adiado por alguns poucos meses."

O ONS descarta, por enquanto, racionamento ou risco de apagão. Rafael explica que apagões acontecem momentaneamente. Já o racionamento é quando se desliga propositadamente o fornecimento de alguns locais num sistema de rodízio, por exemplo. "O déficit é aquele momento em que não consegue atender a carga inteira e que implica necessariamente num racionamento. Eu acredito que a população vai ser alertada em algum momento caso a gente caminhe mais para a questão do déficit de fornecimento."

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