Combater desinformação também é tarefa das instituições de ciência e tecnologia

SEPEI Data de Publicação: 18 abr 2023 10:01 Data de Atualização: 12 mai 2023 18:54

Cerca de 70% dos brasileiros de 15 a 24 anos acham difícil, muito difícil ou impossível identificar se um conteúdo sobre ciência e tecnologia é falso, segundo levantamento feito em 2021 pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “E nós estamos numa instituição que tem ciência e tecnologia no nome. Nós vamos esperar quem fazer alguma coisa? É preciso agir, fazer alguma coisa para mudar essa realidade”, enfatizou o professor Marcelo Girardi Schappo, que atua na área de Física no Câmpus São José, durante a palestra de abertura do 9º Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepei 2023), na noite desta segunda-feira (17 de abril). “É preciso sempre lembrar disso: 70% dos jovens que chegam na primeira fase dos nossos cursos [técnicos] integrados não sabem identificar uma fake news sobre ciência e tecnologia”.

Schappo, que além da docência no IFSC tem forte atuação em divulgação e comunicação científica, falou sobre pseudociências, desinformação e a necessidade de se ensinar o raciocínio crítico na palestra “Pseudociências além da pandemia: novos desafios, velhos problemas”. Em sua análise, a disseminação de desinformação sobre ciência e tecnologia durante a pandemia de Covid-19 trouxe maior atenção para essa problemática. Porém, o problema é bem mais antigo, já que o que hoje entendemos como desinformação (ou fake news) existe desde a era pré-internet, abrangendo os temas mais variados.

“A gente está falando de desafios pós-pandêmicos que já vêm pré-pandêmicos, só que ninguém ligava muito para eles”, ironizou, mostrando referências de épocas bem anteriores à emergência da Covid-19 que já revelavam impactos das fake news na sociedade. O problema é alimentado pelas chamadas pseudociências, que, define, são “afirmações sobre a natureza que parecem científicas, mas ou não possuem evidências, ou apresentam evidências ruins” - ou seja, as evidências supostamente apresentadas não têm rigor metodológico, não seguem os procedimentos do método científico. As pseudociências podem parecer ciência e convencer como a ciência, embora não sejam baseadas em boas evidências ou nem mesmo tenham evidências daquilo que pretendem “provar”.

Exemplos de pseudociências como astrologia, terraplanismo, movimento antivacina, vidência e telecinese são assuntos que aparecem na sala de aula e não devem ser ignorados. “Nós, professores de ciências na sala de aula, a maioria de nós ignora essas perguntas”, provoca Schappo. “Tem muito assunto relacionado a pseudociência que vai chegar na nossa sala de aula e a gente vai ignorar, porque o problema é pequeno, mas problemas pequenos, ignorados, tornam-se problemas grandes. Ou a gente pode lidar com isso de alguma forma. Eu escolho lidar”. Schappo considera importante inclusive que, em vez de ser ignorada, a relação entre ciência e pseudociência precisa ser deliberadamente trabalhada em sala de aula, inclusive nos cursos de graduação.

As pseudociências estão muito presentes no nosso cotidiano, isso é um fato. Mas o que fazer para resolver isso? “Raciocínio científico, raciocínio crítico, analisando criticamente as alegações das pseudociências e buscando as evidências”, responde o professor. Por meio de estudos criteriosos, a ciência busca esclarecer o que é pseudociência ou não e, a partir daí, cabe a cada indivíduo optar por consumir ou acreditar nela, numa escolha consciente e esclarecida. “As pessoas muitas vezes adquirem um produto ou serviço pseudocientífico não conscientes de que se trata de pseudociência”.

Ensinar o pensamento crítico, o pensamento científico, é papel das instituições de ciência e tecnologia, como é o caso do IFSC. Marcelo Schappo dá exemplos de ações que podem ser executadas no ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos na instituição: educação científica, formação continuada, divulgação científica, curricularização da extensão, produção de informação clara e confiável sobre assuntos de ciência. “O jornalismo profissional reforça seu valor no mundo pós-pandemia”, enfatizou.

A palestra “Pseudociências além da pandemia: novos desafios, velhos problemas”, do professor Marcelo Schappo, foi transmitida ao vivo pelo canal do IFSC no YouTube. Assista à gravação (a partir do minuto 36):

 

Cerimônia de abertura

A cerimônia de abertura começou com a apresentação da Escola Bolshoi, que em pouco mais de 30 minutos apresentou trechos de ballet clássicos como a Morte do Cisne, Esmeralda, Romeu e Julieta, Carmen e Dom Quixote. O convite à tradicional escola de ballet para iniciar o Sepei 2023 foi uma forma de homenagear a cidade, uma vez que Joinville é considerada a capital da dança e única sede de uma Escola Teatro do Ballet Bolshoi fora da Rússia.

Essa é a primeira edição presencial do Sepei, após um intervalo de três anos – em 2020 e 2021 por conta da pandemia, em 2022 em razão de cortes orçamentários. “Este evento representa uma oportunidade única para discutirmos e refletirmos sobre a importância desses quatro pilares (ensino, pesquisa, extensão e inovação) na educação profissional e tecnológica. Esses quatro elementos estão interconectados e têm papéis complementares na formação de nossos estudantes em profissionais capacitados, transformadores e protagonistas na promoção do desenvolvimento socioeconômico e cultural”, destacou o reitor do IFSC, Maurício Gariba Júnior em sua fala.

O pró-reitor de Extensão e Relações Externas e coordenador da comissão do Sepei, Valter Vander de Oliveira, destacou todos os esforços de servidores, estudantes e autoridades. “É uma honra e um desafio estar hoje aqui representando a comissão que organizou e está trabalhando para que esta edição fique marcada na história da instituição. O sepei tem uma missão importante que é de promover encontros e reencontros. Formar novas conexões, novas amizades e dar visibilidade às nossas ações de ensino, pesquisa, extensão, inovação, arte de cultura”.

Para chegar até a edição deste ano, o pró-reitor destacou que foi preciso olhar para todos os desafios e problemas superados e seguir em frente para construir um futuro melhor. “Enfrentamos uma pandemia de Covid, passamos por um período de intervenção no IFSC e um período de cortes orçamentários. O retorno à convivência após o isolamento nos trouxe os discursos de ódios, ataques a escolas, atos que nos entristecem profundamente. Mas temos que acreditar que tudo isso vai passar, vamos superar e voltaremos ainda mais fortes”, afirmou.

O diretor-geral do Câmpus Joinville, Maick da Silveira Viana, como câmpus anfitrião, deu a boas-vindas a todos os participantes. “Recebemos todos de braços abertos e esperamos que possam criar bons momentos e boas memórias. Há mais de três anos esperávamos por este momento, desde quando fomos escolhidos como sede do Sepei de 2020, a primeira vez na região norte do Estado”. Luana da Silva Teixeira, estudante do Câmpus Joinville, representou os estudantes. “Como primeiro Sepei presencial após a pandemia de Covid-19, só aumentaram as nossas expectativas para o evento”, disse Luana, dando as boas-vindas aos participantes.

Para a gerente regional de educação, Sônia Leandro Paul, o evento tem grande importância no processo formativo dos estudantes da instituição, pois é uma oportunidade de compartilhar conhecimentos e experiências, além de promover uma reflexão crítica sobre as práticas educacionais científicas e sociais que compõem a formação integral na perspectiva do mundo do trabalho.”É preciso que a escola e a universidade de formação técnica e profissional estejam cada vez mais próximas da comunidade, envolvendo-se em atividades de extensão e conhecimento do campo de trabalho”, afirmou.”Como educadora que sou, tenho a esperança de que dias melhore faremos a partir da educação, centrada no humano e nas possibilidades de amar, pois acreditamos numa sociedade mais justa e fraterna”.

O assessor do Núcleo Estruturante de Políticas de Inovação da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec)  Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), Pierre Teza, afirmou que uma das formas de unir e reconstruir o país é com a educação, em especial com a Educação Profissional e Tecnológica, que aproxima diferentes públicos do ensino formal e a rede federal tem papel fundamental nisso.


 

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