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Reflexões conceituais e desafios para o enfrentamento da evasão escolar são apresentados durante colóquio internacional

EVENTOS Data de Publicação: 11 nov 2022 14:34 Data de Atualização: 11 nov 2022 14:50

O que é evasão escolar? Quais os motivos que levam um estudante a abandonar seu curso? O que pode ser feito para melhorar os índices de desistência? Muitos questionamentos e reflexões foram feitos pelos palestrantes no segundo dia do VII Colóquio Internacional sobre Educação Profissional e Evasão Escolar e do V Workshop de Educação Profissional e Evasão Escolar, promovido nesta semana pelo IFSC em parceria com a Associação Brasileira de Prevenção da Evasão na Educação Básica, Profissional e Superior (Abapeve). As rodas de conversa foram realizadas no Centro Multiuso de São José nesta quinta-feira (10). A programação da manhã contou ainda com o lançamento do vídeo  “Do ‘pulo da rã’ ao enfrentamento da evasão escolar”.

Veja como foi a solenidade e a conferência de abertura dos eventos

Na primeira roda de conversa da manhã do segundo dia do evento, o professor Rafael Merino Pareja, da Universitat Autònoma de Barcelona, abordou o abandono da educação profissional na Espanha, apresentando elementos contextuais e teóricos. Participando de forma on-line, o palestrante apresentou fatores que levam à evasão e compartilhou os motivos registrados em suas pesquisas, que incluem mudanças na situação pessoal ou familiar do aluno, a obtenção de um emprego, a vontade de realizar outros estudos, o cansaço por estudar, o desgosto pelo o que estudava, a dificuldade dos estudos ou o desejo de procurar um trabalho.

“O abandono da formação profissional é um fenômeno complexo e multicausal”, disse o  professor espanhol. Diante disso, Pareja afirmou que existem desafios em termos de orientações, qualidade, equidade e eficiência que precisam ser pensados. São eles: Como os jovens escolhem seus estudos?Que estratégias podem ser adotadas para reter os alunos? Como evitar situações de vulnerabilidade? E como envolver os agentes econômicos?

Esses desafios também foram destacados pela professora da Unisinos Rosangela Fritsch, que atualmente é diretora acadêmica da Abapeve. Sua apresentação partiu das premissas de que a evasão escolar precisa ser estudada na transversalidade e na circularidade no sistema de ensino brasileiro - rompendo com a fragmentação por níveis e modalidades (Educação básica, profissional, educação superior) - e de que deve ser compreendida na sua origem. “Precisamos compreender e explicar como ela se produz transitando dialeticamente pelos contextos macro e micro”, afirmou.

Rosangela instigou a plateia fazendo a seguinte pergunta: “Será que não estamos seguindo e reproduzindo um conhecimento que está nos levando a trilhar sempre os mesmos caminhos que não nos conduzem a novas paisagens e horizontes?”. Além disso, a professora produziu um ensaio de abordagem epistemológica teórica-metodológica para contribuir na compreensão do fenômeno da evasão.

Assim como Parejo apresentou os fatores de risco que levam ao abandono escolar na Espanha, Rosangela esboçou a proposta de uma mapa multidimensional e multifatorial da exclusão escolar no Brasil que busca contribuir com outras perspectivas de análise. “Este mapa procura nos dar as dimensões tanto políticas, quanto sociais, culturais e econômicas, como de saúde - a dimensão saúde entra muito forte pós-pandemia - com as educacionais, tentando construir uma relação entre os fatores nessa dinâmica”, explicou.

Segunda a professora, o Brasil vive um contexto educacional em que a expansão das matrículas e as melhorias na democratização do acesso à educação sofrem avanços e retrocessos nas alternâncias de ciclos mais democráticos e menos autoritários e conservadores. “Temos um sistema educacional e mecanismos perversos de negação do direito à educação”, destacou. Segundo a pesquisadora, a perversidade se expressa no que chama de efeito funil excludente nos percursos escolares de crianças, jovens, adultos e idosos. “Mesmo tendo a obrigatoriedade escolar dos 4 aos 17 anos como normativa legal, as pessoas vêm sendo expulsas das escolas, universidades e do sistema e juntos vão sendo destruídos sonhos e estudar e de galgar uma vida social digna”, lamentou. 

Para romper com essa lógica, Rosângela afirma que é preciso retomar e discutir o conceito de educação e recusa também o próprio conceito de evasão. Citando o filósofo Paulo Freire, ela reforça que as crianças não se evadem da escola, não a deixam porque querem, mas sim são expulsas deste espaço. “A estrutura da sociedade cria uma série de impasses e dificuldades”, acrescenta. 

A palestrante lançou algumas apostas para que seja possível se criar perspectivas de justiça social e curricular que reforcem a democracia em prol de uma escola e universidade que não deixe ninguém para trás. Entre elas, estão a recuperação social de valores fundamentais (respeito, acolhimento e cuidado) e dos sentidos do comunitário/do pertencimento e do coletivo e a aposta em professores bem formados, bem pagos, tendo boas condições físicas e materiais de trabalho.

Evasão X Mobilidade

O conceito de evasão também foi questionado pelo professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Dilvo Ristoff, que participou da segunda roda de conversa desta quinta-feira (11) de manhã. Ristoff já atuou como diretor de Educação Básica da Capes, diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do Inep e diretor de Políticas e Programas da Educação Superior do MEC e toda esta experiência influenciou na abordagem que fez sobre evasão no evento, a partir de dados da educação superior.

O professor afirmou que uma  parcela significativa do que chamamos de evasão não é exclusão, mas sim mobilidade, já que muitos estudantes trocam de curso ou até mesmo de área após formados. “Não é fuga, mas busca; não é desperdício, mas investimento; não é fracasso nem do aluno, nem do professor, nem do curso; mas tentativa de buscar o sucesso ou a felicidade aproveitando as revelações que o processo natural do crescimento dos indivíduos faz sobre as suas reais potencialidades”, explicou. 

Segundo ele, muitos alunos aprendem rapidamente o que não querem para suas vidas e isso repercute na média brasileira de evasão no primeiro ano dos cursos superiores, que é de 35%. Além disso, destacou que muitos profissionais se evadem da área após a formatura, exemplificando que só um terço dos engenheiros formados trabalham com engenharia e só 65% dos médicos atendem na área médica. “A evasão escolar tem que ser vista também pela ótica da mobilidade natural dos indivíduos em contextos sociais que são sempre mais dinâmicos do que as rígidas estruturas educacionais”, aponta.

Ristoff ainda comentou sobre a culpa que gestores e professores sentem, em relação à evasão por não conseguirem reter os alunos como se fosse um problema que antigamente não existia. “O que poucos sabem é que talvez os velhos tempos nunca tenham existido”, destacou, citando estudos americanos que mostram que a evasão sempre existiu. “Houve anos melhores que outros, mas a variação é pequena e o que se observa é que, desde 1991, de cada 100 jovens que entram na Educação Superior, cerca da metade não cola grau”, disse.

Se não há tanta variação quando se fala da evasão de maneira geral, o professor enfatizou a existência de grandes variações de acordo com o tipo de curso. Historicamente, a evasão nos cursos de Medicina é inexistente. Já nos cursos de Odontologia, Direito e Farmácia, a evasão está abaixo dos 50% - que é a média nacional de evasão. Entretanto, nos cursos de licenciatura, os percentuais de evasão tendem a estar perto de 80%, o que, segundo Ristoff, não quer dizer que são cursos ruins. “Determinar o sucesso ou o fracasso de um curso por essa métrica, seria uma falácia, pois os dados do Inep indicam que cursos de boa qualidade também têm altas taxas de evasão”, esclarece. 

Para Ristoff, é preciso mudar a mentalidade de que toda evasão é sinônimo de perda ou fracasso. “Entendo que, embora os índices de evasão sejam estarrecedores, os inimigos dessa guerra nem sempre estão bem definidos”, disse, explicando que, ainda assim, a causa deve ser identificada e providências devem ser tomadas. O professor afirmou que políticas públicas e a valorização dos professores são necessárias para que os índices de evasão não sejam ainda piores, mas entende que, mesmo que se atue nas causas, a evasão não irá acabar em função do fenômeno de mobilidade. “Para formular boas políticas de combate à evasão não basta olhar para a questão sob a ótica do desperdício e da culpa sob pena de nós errarmos o alvo e construirmos políticas capengas”, alerta. “Temos que nos desvencilhar do economicismo e encarar que profissionais, mesmo em áreas distintas da sua formação, dão contribuições importantes para o país e aí desmorona a ideia de que a evasão é um desperdício”, concluiu.

Além de Ristoff, a professora da Universidad Nacional de Córdoba Yanina Maturo também participou da roda e fez uma apresentação sobre a educação profissional na Argentina, destacando as tensões da atualidade e os desafios para o futuro. Esta roda foi transmitida pelo canal do IFSC no YouTube e a gravação pode ser assistida aqui.

Lançamento de vídeo sobre evasão escolar

A programação da manhã do segundo dia do evento contou também com o lançamento do vídeo “Do ‘pulo da rã’ ao enfrentamento da evasão escolar”, em que a pedagoga do IFSC Sandra Lopes Guimarães, que fez parte da organização do colóquio, entrevistou a pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Rosemary Dore. No vídeo, a professora fala sobre sua trajetória profissional, o que a levou a se aprofundar no tema da evasão, como ocorreu a criação da Abapeve e os desafios para os profissionais da Educação. O vídeo foi gravado pela equipe do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e editado por profissionais da Diretoria de Comunicação do IFSC.

Assista abaixo ao conteúdo:

 

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