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Projeto produz álcool 70º GL com participação dos segmentos público e privado

PESQUISA Data de Publicação: 08 mai 2020 09:20 Data de Atualização: 08 mai 2020 09:58

Um dos efeitos causados pela Pandemia do Coronavírus foi o medo de todos pelo desconhecido. Neste primeiro momento, as únicas “armas” anunciadas para o combate foram a higienização e o distanciamento social. Ambos seguem, ao lado do uso de máscaras, como recomendações de controle para se evitar novas contaminações. A higienização, que deve ser feita com a lavagem das mãos e o uso de álcool em gel 70º GL ocasionou uma corrida aos pontos de venda, ocasionando não só a elevação desordenado do preço como a falta do produto nos estabelecimentos comerciais.

Engajados no enfrentamento da Pandemia, professores, alunos, e servidores do IFSC vêm desenvolvendo uma série de projetos, todos fundamentados em pesquisa e inovação. Um desses trabalhos partiu da iniciativa de docentes do Câmpus Urupema que passaram a produzir álcool 70º GL a partir da destilação de retificação de vinho.

“Além da escassez no mercado de produtos à base de álcool-gel, que permite uma sanitização rápida e consegue ser manipulado de forma fácil e relativamente segura, observou-se uma elevação do preço deste produto. Com isso, uma terceira situação nos chamou atenção: muitas pessoas no Brasil não têm acesso a produtos de higiene; na verdade, muitas pessoas sequer têm acesso à água”, conta o professor de matemática, Geovani Raulino, sobre o que motivou esse trabalho.

Ele atua nos cursos superiores, Tecnologia em Alimentos e Tecnologia em Viticultura e Enologia, e no curso técnico em Administração e nos cursos de Educação de Jovens e Adultos do IFSC e é o autor da iniciativa. Ele explica que o projeto consiste na produção de álcool 70°GL a partir da destilação e retificação de vinho, e que será utilizado para a produção de diversos itens de higiene e sanitização, tais como o álcool em gel e o sabão de álcool.

A equipe propôs-se ainda a elaborar sabonetes, que são produtos de base glicerinada e que levarão extratos essenciais de plantas cultivadas ou nativas da região, como a goiaba-serrana, para os serviços de saúde pública municipal de Urupema e municípios da região da Serra Catarinense e para a população de baixa renda desses municípios.

Segundo o professor, os diferenciais dessa proposta em relação a outras iniciativas existentes são o engajamento da comunidade local e da sociedade civil na doação de insumos (óleo e banha para a produção de sabão), sustentabilidade (ação de utilização dos subprodutos da uva, do vinho e de outras matérias-primas alimentícias aptas à produção de álcool por destilação) e articulação com os órgãos municipais. “Sabe-se que se consegue mobilizar a comunidade para a arrecadação das gorduras fundamentais à etapa de elaboração do sabão. Toda essa etapa tem à frente a Comissão de Sustentabilidade do Câmpus Urupema que fortalece as ações já preconizadas pela administração do município na separação dos resíduos e rejeitos e no descarte adequado de lixo, incluídas as gorduras”, ressalta Raulino. 

O projeto conta ainda com o apoio da empresa Abreu Garcia Vinhedos de Altitude, de Campo Belo do Sul, que realizou a doação 2500 litros de vinho para a destilação. O proprietário da empresa, Ernani Abreu Garcia, destaca a importância da iniciativa:


O Corpo de Bombeiros do 5º Batalhão da Brigada Militar de Lages também participa do projeto, e se colocou à disposição para facilitar o transporte desses litros de vinho da Vinícola, de Campo Belo do Sul até Urupema, em caminhão-pipa. “A causa é nobre e voltada a população de maneira geral. Basta nos avisar quando o caminhão será necessário. Estamos à disposição para realizar o transporte”, coloca o Major Muniz.

Na prática

O Câmpus Urupema possui cursos na área de tecnologia de vinhos e de outras bebidas alcoólicas, como cervejas e destilados. Essas produções são decorrentes do processamento de frutas como a uva e de outras cultivadas em grande escala na região, como a maçã, ou nativas e de grande impacto para os agricultores da região, como a goiaba-serrana e o pinhão.

As unidades curriculares de Derivados da Uva e do Vinho do curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, de Enologia do curso Técnico em Viticultura e Enologia, de Tecnologia de Destilados e Outras Bebidas do curso de pós-graduação Especialização em Tecnologia de Bebidas Alcoólicas faz processamentos de fermentação de frutas e de destilação de bagaço, de borras e de vinhos. Com isso, álcool vínico de diferentes matérias-primas vegetais é um produto resultante de atividades diversas de ensino, de pesquisa e de extensão. “Os três produtos têm processos já bem descritos pela literatura e o Câmpus Urupema tem histórico na sua produção através da formação técnica e tecnológica que é dada em unidades curriculares e em cursos de extensão”, destaca Raulino.

Ele ressalta que o processo de produção de álcool é simples. “O álcool é resultado do processo de fermentação alcoólica a partir do consumo de açúcares simples por microrganismos de vida simples, as leveduras. É através desse processo que se obtêm bebidas como a cerveja, o vinho e o hidromel, entre outros tantos fermentados de frutas. A destilação é uma operação em que o produto fermentado é aquecido, e as frações mais voláteis vão sendo evaporadas à medida que atingem a temperatura de evaporação. Nessa operação, os álcoois são arrastados do fermentado e, depois, condensados para serem coletados. Operações de destilação em sequência vão fracionando os diferentes álcoois, numa etapa a qual se denomina purificação. A retificação, que sucede a purificação, é a operação de acréscimo de água ao álcool, ajustando a concentração da solução na graduação que corresponde àquela que têm efeito de sanitização, ou seja, a graduação de 70 °GL”, explica Geovani.

Ele esclarece que a partir da obtenção do álcool, podem ser elaborados o gel alcoólico, com o acréscimo do polímero que gelifica o álcool e o coloca numa forma mais segura para a sua distribuição como produto de limpeza e de higiene. “Também com o álcool purificado, a adição de uma base forte de gordura e açúcar faremos sabão. Já os sabonetes serão elaborados a partir de base glicerinada, que tem poder hidratante, e a ela serão incluídas essências e extratos de plantas nativas da região, como a goiaba-serrana, que tem comprovadas propriedades antimicrobianas”, acrescenta o professor.

Recursos

O projeto ainda não está em execução. “Para a produção que o Câmpus Urupema se propôs a entregar para a comunidade, serão necessárias as aquisições de insumos e de alguns equipamentos que permitirão a ampliação da escala produtiva a um nível além daquele que hoje se trabalha em aula prática, quando as turmas, dificilmente ultrapassam 30 alunos e o objetivo é a observação do processo e não, propriamente, a quantidade de produto gerado”, esclarece Geovani. O projeto concorreu com iniciativas de outros câmpus do IFSC e 11 propostas foram contempladas com auxílio de R$ 20 mil.

Ainda integram o projeto a professora Mariana de Vasconcellos Dullius, docente da área de Enologia, como coordenadora adjunta. Compõem a equipe de colaboradores servidores de diversas áreas do câmpus: professores Éder Daniel Corvalão, Giliani Veloso Sartori, Janice Regina Gmach Bortoli, Letícia Tramontini, Marcos Roberto Dobler Stroschein, Mariana Ferreira Sanches, Raquel Franciscatti dos Reis, e Jailson de Jesus; e os técnicos Giovani Furini, Lilian Back, Luiz Alberto Silva Stefanski, e Samuel da Silva Machado.

Beneficiários

A produção chegará ao público alvo, no caso dos serviços de saúde, por entrega direta às Secretarias Municipais, que os direcionarão às Unidades de Saúde e às barreiras sanitárias; no caso da população de baixa renda, através das cestas básicas distribuídas pelos órgãos de assistência locais.

Também estão previstas campanhas de informação e de orientação de uso na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Urupema, as quais podem ser estendidas a outras UBSs de municípios da Serra Catarinense.

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