2º Simpósio Do Campo à Mesa: evento multicâmpus debate soluções para a produção de alimentos

EVENTOS Data de Publicação: 26 mai 2023 17:10 Data de Atualização: 07 jun 2023 19:01

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no mundo haja 3 bilhões de pessoas vivendo em insegurança alimentar e que 30% da população mundial (cerca de 2 bilhões de pessoas) tenham deficiência em micronutrientes. Esses dados foram apresentados pela pesquisadora da Embrapa Marília Regini Nuti, na abertura do “2 Simpósio Do Campo à Mesa: Avanços científicos e tecnológicos na produção de alimentos”, realizado de 22 a 26 de maio de forma conjunta entre os câmpus São Miguel do Oeste, Canoinhas, Lages e Urupema.

O evento trouxe conferencistas de diversas áreas, debates e trabalhos acadêmicos sobre a produção de alimentos, a partir de avanços científicos e tecnológicos e como instituições de ensino, como o IFSC, podem contribuir com pesquisas e inovação nesta área. Na própria palestra de abertura, a pesquisadora da Embrapa falou em parcerias na pesquisa de biofortificação de alimentos (veja o relato completo da abertura abaixo).

Segundo a coordenadora geral do II Simpósio, Keli Cristina Fabiane, destaca que o evento foi além das expectativas da Comissão Organizadora. Ao todo, foram 720 inscritos, 74 resumos de trabalhos apresentados e nove artigos publicados na Revista Técnico-Científica do IFSC. Também foram realizadas 12 visitas técnicas e 15 minicursos, alguns realizados em dois horários para atender a todos os interessados.

Segundo Fabiane, houve uma presença expressiva de estudantes de Canoinhas, Lages e Urupema em São Miguel do Oeste, que centralizou a maior parte das atividades. “Pudemos no conhecer como servidores, colegas, e os alunos puderam interagir”, explica. A próxima edição o Simpósio terá como sede o Câmpus Canoinhas.

Na abertura do evento, dia 22, em São Miguel do Oeste, o diretor geral do Câmpus, Diego Martins, destacou que a educação é a pré-condição para que haja desenvolvimento local, justiça social e desenvolvimento científico. Segundo ele, “a ciência só se faz em grupo, coletivamente”. Para o diretor geral do Câmpus Canoinhas Joel José de Souza, o Simpósio representa um grande esforço em retomar as atividades presenciais após a pandemia, e representa a esperança de anos melhores. Sobre a sede do evento, lembrou que São Miguel do Oeste é o berço de muitas cooperativas de agricultura familiar que, hoje, são exemplo em nível nacional e internacional.

-> Acesse a página do evento
-> Veja as fotos na página do evento no Instagram
-> Veja como foi o evento no Câmpus Urupema e no Câmpus Lages e participação dos alunos
-> Acesse o vídeo da cerimônia de abertura e primeira palestra do evento
-> Acesse gravações das palestras no Canal do IFSC no Youtube


Biofortificação garante produção de alimentos nutritivos, seguros e em escala

Como produzir alimentos seguros, nutritivos e suficientes para todas as pessoas o ano todo? Essa pergunta é uma das premissas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), e norteou a palestra de abertura do Seminário, “Biofortificação do Campo à Mesa: saúde na alimentação do brasileiro”, proferida pela engenheira de alimentos e pesquisadora da Embrapa, Marília Regina Nuti, em São Miguel do Oeste.

Marília apresentou os resultados de pesquisas da Rede BioFORT, um conjunto de projetos responsáveis pela biofortificação de alimentos no Brasil. Coordenada pela Embrapa, a Rede aspira diminuir a desnutrição e garantir maior segurança alimentar por meio do aumento dos teores de ferro, zinco e vitamina A na dieta da população mais carente. No Brasil, a biofortificação vem consistindo em melhoramento genético convencional, ou seja, por meio de seleção e cruzamento de plantas da mesma espécie, gerando cultivares mais nutritivos, excluindo assim ações transgênicas. Também difere da adição de nutrientes no processo produtivo, pois trata-se de produzir variedades naturalmente mais nutritivas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no mundo haja 3 bilhões de pessoas vivendo em insegurança alimentar e que 30% da população mundial (cerca de 2 bilhões de pessoas) tenham deficiência em micronutrientes. Devido às consequências do aquecimento global na agricultura, estima-se que até 2050 os níveis de proteína, ferro e zinco estejam reduzidos entre 3% e 17% na grande maioria das lavouras que abastecem a cesta básica. 
A deficiência de micronutrientes, ou fome oculta, é quando há fornecimento de alimentos, porém, que não suprem todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento de organismo, principalmente o ferro, zinco e vitamina A. A falta desses elementos pode causar problemas neurológicos, fadiga, infecções gastrointestinais frequentes, baixa estatura, cegueira, cegueira noturna, entre outros.

Segundo a palestrante, a biofortificação de alimentos é uma iniciativa que atinge cerca de 60 países do mundo onde há índices preocupantes de desnutrição e insegurança alimentar, desenvolvendo variedades de alimentos que beneficiam tanto a população dos países envolvidos quanto os agricultores que produzem esses alimentos.

Marília atua com pesquisas de biofortificação há 20 anos e apresentou resultados promissores já obtidos no Brasil. A Rede BioFORT, criada em 2009, já produziu 14 cultivares ricas em ferro, zinco e betacaroteno (vitamina A), como feijão, mandioca, batata doce e milho, além de pesquisas com abóbora, arroz, trigo, entre outros. “O Brasil é o único país do mundo que trabalha com tantas variedades. Em outros países, são trabalhadas uma variedade só. Isso é porque temos diversidade de alimentos e não temos um único alimento básico”, destaca.

Para que a biofortificação seja uma realidade, ela deve envolver parcerias e equipes multidisciplinares. As ações também devem levar em conta toda a cadeia produtiva, como produtores de sementes, comerciantes e distribuidores, produtores rurais, indústria de alimentos, até a distribuição ao consumidor final. “Para que o produto chegue no prato, devemos trabalhar desde as instituições de pesquisa até o consumidor final. Não podemos pensar que vamos do campo à mesa sem pensar em toda a cadeia”, completa. Segundo a pesquisadora, é preciso pensar na população rural, mas na urbana também, fazendo com que os alimentos biofortificados sejam utilizados em produtos alimentícios variados.

Para que o trabalho da Rede BioFORT seja fortalecido, segundo Marília, é preciso ações em conjunto com universidades e institutos de diferentes regiões do país, para promover mais pesquisas e a transferência de tecnologia aos produtores. Por isso, conclamou pesquisadores do IFSC para que apresentem propostas que contribuam com as pesquisas da Rede, cujo polo mais próximo de multiplicação fica em Francisco Beltrão, no Paraná. “É importante que a área agrícola esteja de mãos dadas com as áreas de alimentos e nutrição. É necessário um esforço interinstitucional visando priorizar os investimentos públicos e privados para reduzir as deficiências de micronutrientes na América Latina e Caribe”.

Assim, a Rede BioFORT, que conta com 190 unidades de demonstração, observação e multiplicação em todo o país. Por meio da rede de multiplicadores licenciados pela Embrapa, formada por viveiristas e produtores de sementes, foram comercializadas e distribuídas cerca de 700 mil mudas de batata-doce e 800 toneladas de sementes de milho. Foram beneficiados mais de 200 mil domicílios em 15 estados, entre eles Santa Catarina.

EVENTOS